Pressão inflacionária

Leia o novo texto da economista e colunista da DeFato Rita Mundim

Pressão inflacionária

Vivemos um primeiro semestre marcado pelo otimismo e pela revisão para cima das projeções de crescimento global. No Brasil, a revisão da projeção do crescimento foi ainda mais forte. Até a divulgação do PIB do primeiro trimestre, as projeções mais otimistas apontavam um crescimento de 3,5%, mas depois do forte crescimento do PIB no primeiro trimestre, 1,2%, as projeções saltaram para no mínimo 5%.

Entramos no segundo semestre com uma melhora considerável na velocidade de vacinação e consequentemente com a expectativa de uma flexibilização total o que daria muita tração para a recuperação do setor de serviços. Mas na segunda-feira passada, o mundo estressou com a perspectiva de uma nova onda global do Covid-19 dada a velocidade de contaminação da variante DELTA. Nos Estados Unidos 70% dos casos reportados já são de contaminados por essa nova cepa, a França admitiu a possibilidade de uma quarta onda e o mercado que até então precificava o otimismo de uma retomada da economia global passou a precificar a possibilidade da volta de restrições em decorrência da variante delta.

No domingo, a OPEP +, Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados selaram um acordo para aumentar a produção em 400 mil barris diários a partir de agosto. E porque eu estou falando da OPEP + nessa altura da história? Porque a possibilidade de volta de fechamento da economia que pode ocorrer em caso de agravamento de contágio pela variante DELTA pode diminuir o consumo de petróleo exatamente após a assinatura de um acordo para aumento de produção.

A conjunção da possibilidade de piora da pandemia com o aumento de produção de petróleo trouxe tensão na abertura dos mercados na segunda-feira e derrubou as bolsas pelo mundo. A queda foi puxada principalmente pelas ações de petrolíferas e por ações do setor de serviços como companhias aéreas, hotéis e empresas de turismo.

O preço do barril de petróleo WTI despencou mais de 7% nos E.U.A, e o do Brent, negociado em Londres, caiu 6,5%. A correção foi tão forte que no final do dia, a segunda-feira já era chamada de Bloody Monday (segunda sangrenta). A partir de terça-feira , os mercados iniciaram um movimento de recuperação das perdas de segunda que prevaleceu até na sexta-feira. Os principais índices das bolsas americanas voltaram a registrar recordes históricos de valorização, mas aqui no Brasil o mercado descolou da média do comportamento do mercado global a partir do anúncio do IPCA-15 pelo IBGE.

O IPCA-15 é o primo primeiro do IPCA que é o índice de inflação que mede a inflação oficial do Brasil e que serve como parâmetro para a política de metas inflacionárias do Banco Central. A diferença entre esses dois índices está na data de coleta dos preços. O IPCA-15 retrata o comportamento dos preços do dia 15 do mês anterior até o dia 15 do mês vigente.

O IPCA retrata o comportamento dos preços durante todo o  mês de referência. Em julho, havia a expectativa de que houvesse uma desaceleração da inflação para 0,65%, mas depois de registrar 0,83% em junho, a inflação medida por este índice ficou em 0,72%, abaixo da de junho (0,83%) mas acima do esperado.

A leitura do mercado foi a de que a dose de correção na taxa Selic de 0,75 ponto percentual que vem sendo ministrada pelo Banco Central está sendo insuficiente para conter e ancorar as expectativas de inflação, e, o mercado passa a apostar em uma ação mais ousada da autoridade monetária o que na prática pode ser traduzido como uma alta maior na taxa básica de juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária.

O IPCA-15 é o último indicador de inflação antes da reunião do dia 4 de agosto, e, veio acima do previsto e foi por isto que o mercado financeiro brasileiro se descolou do comportamento do mercado global na sexta-feira. A aposta agora é de uma elevação de um ponto percentual na taxa básica de juros, a SELIC, e, foi essa aposta de juros mais elevados que derrubou o Ibovespa e o dólar que chegou a valer R$5,16, mas acabou fechando em R$5,20. O Ibovespa, depois de 3 pregões consecutivos em alta, acompanhando a reação das bolsas globais, fechou em queda e quase perdeu os 125.000.

Bolsa em alta não combina com juros em alta e esse parece ser o destino da SELIC diante da resiliência inflacionária. Resumo da ópera: o nível de incertezas tem aumentado e vai trazer muita volatilidade aos mercados.

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis

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