O ser itabirano
No texto desta sexta-feira, Fernando Silva relembra um pouco da história de Itabira
O cenário do descobrimento das cidades setecentistas de Minas Gerais tem tanto de lúdico quanto previsível. O enredo padrão, todavia, parece ter sido desenvolvido por uma força superior, que emana magia e encantamentos.
A história irremediavelmente se repete com precisão cronológica. O aventureiro, mormente paulista, se embrenhava pelo território inóspito das Minas Gerais, em busca de riquezas minerais. A certa altura, depois de meses de intensa e cansativa jornada, o desbravador se deparava com uma magnífica e gigantesca montanha, que aparecia subitamente no horizonte – como uma manifestação mítica. Um límpido riacho, ponto natural dos primeiros contatos com pepitas preciosas, completava o cenário histórico.
O senso comum afiança que o nascimento de Itabira também seguiu rigorosamente esse script. Ledo engano. Aqui “o inesperado fez uma surpresa”. Em 1720, a comitiva dos irmãos bandeirantes – Francisco Faria de Albernaz e Salvador Faria de Albernaz – deparou com uma bela montanha denominada Itapira, na língua Tupi. O pico do Itambé coroava a serra imponente. Era o prenúncio de um sítio alvissareiro logo à frente. Para a historiografia oficial, os irmãos Albernaz fundaram o arraial de Itabira do Mato Dentro.
O cônego Raimundo Trindade, porém, registra a construção de uma rústica capela de sapé, em louvor a Nossa Senhora do Rosário, em 1705, nas proximidades do riacho da Penha – obra dos padres Manoel do Rosário e João Teixeira Ramos. Como se vê, quando os bandeirantes paulistas aqui chegaram, já encontraram uma pequena comunidade liderada por sacerdotes garimpeiros.
Então, vale ressaltar: Itabira ocupa a galeria dos municípios que deram origem ao Estado de Minas Gerais. É fato notável. O espírito original das alterosas também se manifestou no solo sacrossanto dessa terra magnífica.
Mas, afinal, o que é ser Itabirano? Itabira sempre gerou, ao longo dos tempos, homens e mulheres com a tenacidade do ferro. Ser Itabirano é reverenciar o passado e crer no futuro, com esperança e determinação. Ser Itabirano é vivenciar intensamente o poeta Carlos Drummond de Andrade em cada rua, praça, encosta e casarão colonial. Ser Itabirano é embebedar-se de cultura, arte e tradição.
Ser Itabirano é caminhar pela madrugada, ver o brilho das estrelas, curtir a limpidez do céu e receber o suave beijo do sereno na face. Ser Itabirano é ter um encontro marcado com Deus, na fria solidão da igrejinha do Rosário. Ser Itabirano é sentir a força da luz e o reflexo nas montanhas. Ser Itabirano é ser Itabirano, a plenitude da emoção.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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