Holocausto: investigação indica que tabelião traiu Anne Frank
O Museu Anne Frank disse que a hipótese é “fascinante”, mas que são necessárias mais pesquisas
Quem traiu Anne Frank? Como os nazistas descobriram o esconderijo da jovem judia no terraço de uma casa de Amsterdã? Vincent Pankoke, ex-agente do FBI, montou uma equipe de especialistas para solucionar esse mistério e a investigação apontou como principal suspeito Arnold van den Bergh, um tabelião judeu.
A delação pode ter salvado a própria família de Van den Bergh, segundo a investigação que durou seis anos e virou livro: “The Betrayal of Anne Frank” (“A Traição de Anne Frank”, em tradução livre), da canadense Rosemary Sullivan.
Equipe
Sullivan registrou o trabalho dos holandeses Thijs Bayens, um cineasta, e Pieter van Twisk, um jornalista. Em 2016, os dois contrataram Pankoke, que curtia sua aposentadoria na Flórida. Juntos, eles montaram uma equipe de criminologistas: cientistas de dados, comportamentais, forenses, sociais, psicólogos, um especialista em caligrafia e até um rabino. O time usou técnicas modernas de big data, um programa de inteligência artificial da Microsoft, relatórios, entrevistas e arquivos.
A lista de suspeitos da delação de Anne é enorme: Willem van Maaren, gerente de um depósito, que trabalhava no andar de baixo do esconderijo; Lena Hartog, a esposa fofoqueira do assistente de Maaren; Job Jansen, ex-funcionário de Otto Frank, pai de Anne; Ans van Dijk, uma informante que colaborou com o nazismo. Há até mesmo quem suspeite que a polícia descobriu sem querer o local, durante uma blitz para apreender cartões de racionamento falsos.
Após investigar de novo todos os suspeitos, a equipe chegou ao nome de Van den Bergh, que aparece em uma carta anônima, datilografada e enviada para Otto, descoberta em 1963. A mensagem recebeu um novo olhar forense, com a ajuda de inteligência artificial e algoritmos de computador para procurar conexões entre várias pessoas diferentes.
Suspeito
Van den Bergh foi fundador do Conselho Judaico, órgão forçado a implementar as deportações. O grupo foi dissolvido em 1943 e seus membros, enviados para campos de concentração – menos ele. A equipe descobriu que o tabelião permaneceu morando em Amsterdã “Quando Van den Bergh perdeu a proteção que o isentava de ir para os campos, ele teve de fornecer algo valioso aos nazistas para que ele e sua mulher ficassem seguros”, disse Pankoke ao programa 60 Minutes, da CBS.
Dúvidas
O Museu Anne Frank disse que a hipótese é “fascinante”, mas que são necessárias mais pesquisas. Ronald Leopold, diretor do museu, alertou que ainda há dúvidas sobre a carta mencionada. “Temos de ter muito cuidado ao colocar alguém na história como a pessoa que traiu Anne Frank, se você não tem 100% ou 200% de certeza disso”, afirmou.
Pankoke reconheceu que as provas contra o tabelião, que morreu em 1950, são convincentes, mas não conclusivas. “Investigar o passado e a nossa interpretação dele é um exercício infinito”, escreveu o ex-agente do FBI no posfácio do livro. “Não temos uma arma com fumaça, mas temos uma arma quente com cápsulas vazias ao redor”.