Espiritualidade e religiosidade em psiquiatria

“A OMS já inclui a Religiosidade/Espiritualidade como uma dimensão da qualidade de vida”, explica psiquiatra Cristiane Teza

Espiritualidade e religiosidade em psiquiatria
Foto: Júlia Souza/DeFato
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A religião é uma dimensão que pode contribuir positivamente no tratamento do paciente com transtorno mental, por proporcionar continência emocional e social e ensinamentos de costumes que incentivam a qualidade de vida.

Nas últimas décadas, a Associação Mundial de Psiquiatria (World Psychiatric Association – WPA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) vêm incentivando a conscientização da relevância da religião e da espiritualidade sobre as questões relacionadas à saúde como um todo. A OMS já inclui a Religiosidade/Espiritualidade como uma dimensão da qualidade de vida.

A aproximação entre religião e psiquiatria pode auxiliar os profissionais de saúde mental a desenvolverem  habilidades que possibilitem a melhor compreensão dos fatores religiosos que influenciam a saúde dos pacientes.

Diferença entre religião e espiritualidade

As religiões são compostas por uma doutrina, crenças e mitos sobre a origem do cosmos, bem como o sentido da vida, da morte, do sofrimento e do além. Elas são exercidas por meio de ritos e cerimônias, em um sistema ético (com leis, proibições e regras de conduta), por uma comunidade de fiéis.

Já a espiritualidade é um sentimento pessoal, que estimula um sentido de significado da vida capaz de fazer suportar sentimentos debilitantes de culpa, raiva e ansiedade. Está relacionada com a concepção de que há mais na vida do que aquilo que pode ser visto ou plenamente entendido.

Contribuições para uma melhor qualidade de vida

Indivíduos pouco religiosos e com bem-estar espiritual baixo, têm o dobro de chances de apresentarem transtornos mentais e cerca de sete vezes mais chances de ter algum diagnóstico de abuso ou dependência do álcool. As pessoas que tem fé sentem-se mais fortes para enfrentar dificuldades e continuar a lutar pela sua sobrevivência.

Outra questão, é que a religião é grande responsável pela formação de comportamentos de proteção, por exemplo, o não uso de álcool e drogas, o cumprimento de ordens médicas e o incentivo ao exercício físico regular. A religião transmite a necessidade da pessoa ter comportamentos de moderação e conformidade, além de pregar atitudes positivas – como a oração -, que proporcionam conforto emocional, desencorajam situações de conflito, e incentivam a harmonia interpessoal.

Danos à saúde mental

Religiosidade e espiritualidade estão, geralmente, associadas a melhores desfechos de saúde. Porém, em alguns casos, a busca pela religião pode piorar o quadro clínico ao invés de aliviar o sofrimento. Algumas religiões podem se tornar rígidas e inflexíveis, dificultando o tratamento do paciente ao imporem a proibição da psicoterapia ou até mesmo do uso da medicação.

Cuidado com o paciente

Nem sempre usar a medicação, como única estratégia de tratamento, costuma produzir bons resultados. Se o paciente considera relevante a religiosidade como meio de cura do seu sofrimento, o profissional psiquiatra e a rede de apoio à saúde mental, devem considerar o apoio à espiritualidade.

Dra. Cristiane Rangel Teza é psiquiatra. CRM/MG 52.659 / RQE 51535

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