Extrema direita vence na Itália e Giorgia Meloni será a 1ª mulher premiê

A candidata lidera uma aliança que uniu a centro direita e a extrema direta. A coalizão pode somar até 257 cadeiras na Câmara

Extrema direita vence na Itália e Giorgia Meloni será a 1ª mulher premiê
Giorgia Meloni – Foto: Reprodução/italytv.space

A extrema direita populista saiu vitoriosa das eleições legislativas italianas, realizadas no domingo (25). Giorgia Meloni deve confirmar a vitória histórica nesta segunda-feira (26), quando devem sair os resultados oficiais. Se as projeções estiverem corretas, Meloni, de 45 anos, líder do Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália), poderá se tornar a primeira mulher a chefiar o governo da Itália — e a primeira política da ultradireita no poder desde o ditador Benito Mussolini, no posto entre 1922 e 1943.

A candidata que lidera uma aliança que uniu a centro direita e a extrema direta — formada pelo Irmãos da Itália, pela Liga, partido do populista Matteo Salvini, e pelo conservador Forza Italia, de Silvio Berlusconi — deve conseguir 47% dos votos. Segundo pesquisas de boca de urna, o partido de Meloni terá entre 22% e 26% dos votos, o Liga deve levar entre 8,5% e 12,5%, e o Forza entre 6% e 8%.

Segundo a sondagem, a coalizão pode somar até 257 cadeiras na Câmara, 56 a mais do que o necessário para ter maioria, e 131 no Senado, 30 a mais. Com isso, não precisará negociar com outros partidos para aprovar pautas e confirmar Meloni no cargo. Neste domingo, o Partido Democrata, de centro-esquerda, reconheceu a derrota.

Abstenção

O ceticismo em relação à política na Itália é profundo, após 11 governos em 20 anos — primeiros-ministros têm ficado menos de 400 dias no cargo em média. Quase 51 milhões de italianos estavam aptos a votar, mas a abstenção de 36% foi recorde.

O desalento com os políticos, disseram analistas, desestimula o voto. “Espero que vejamos pessoas honestas, e isso é muito difícil hoje”, disse Adriana Gherdo, em uma seção de votação em Roma. “A política italiana precisa mudar, e Meloni vai ser uma grande mudança”, disse Paola Puglisi, de 65 anos.

Federica Lombardi, 25, e sua irmã Emanuela Lombardi, 23, disseram ao The New York Times que cansaram das “bolhas liberais” e das promessas não cumpridas pelo Partido Democrata, em quem votavam. “Ela é verdadeira, ao contrário dos outros políticos, que seguem sempre o mesmo roteiro”, disse Federica.

Para Roberto D’Alimonte, cientista político da Universidade Luiss Guido Carli, em Roma, e escolha de Meloni não significa que a Itália “se move para a direita”. Segundo ele, os eleitores têm pouco interesse na história de Meloni e simplesmente a enxergam como a nova cara da centro-direita. “Os eleitores não a veem como uma ameaça.”

Para Gianluca Passarelli, professor de ciência política da Universidade Sapienza de Roma, Meloni pode ser considerada uma conservadora radical, mas não fascista. “Giorgia Meloni e seu partido não são fascistas. Fascismo significa tomar o poder e destruir o sistema. Ela não vai fazer isso e não poderia”, diz ele. “Mas há alas no partido ligadas ao movimento neofascista”.

Desafios

Meloni vai ter enfrentar testes imediatos internos e na Europa, como os preços da energia e dos alimentos em alta e as divisões dentro de sua própria coalizão sobre a Rússia e a invasão da Ucrânia.

Um ponto crucial do novo Gabinete será a execução do plano elaborado em parceria com a UE, no valor de 200 bilhões de euros (R$ 1,02 trilhão), e que exige a adoção de reformas no Estado. Meloni sugeriu rever o acordo, mas o Forza Italia quer manter os compromissos.

Meloni é contra a adoção de um programa de 30 bilhões de euros (R$ 152 bilhões) para que o Estado assuma dívidas e ajude famílias e empresas a pagarem suas contas de gás, proposta defendida por Salvini (e que levou a uma ríspida discussão entre os dois).

A provável premiê recusa-se a elevar o débito do país. Ainda sobre as relações com a UE, Meloni vem sinalizando que não tentará criar ou acirrar tensões com Bruxelas.

Em uma década como líder do Fratelli d’Italia, Meloni adotou posições extremas. Ela já defendeu a dissolução da zona do Euro e difundiu uma teoria conspiratória de que “forças anônimas” direcionam imigrantes em massa para a Itália para “substituição étnica”. Durante a campanha, porém, ela tentou se colocar como opção de centro e ganhou apoio para seu partido. Em várias ocasiões, reiterou que a Itália “pertence à Europa”, mas “lutará por seus interesses”.

* Com Estadão Conteúdo e agências internacionais.