Lula e o mercado

Qual o futuro da economia brasileira após as eleições? A economista e colunista Rita Mundim traz a resposta!

Lula e o mercado

Essa eleição foi marcada pela acirrada competitividade entre os dois candidatos que foram para o segundo turno disputando voto a voto, mas por outro lado por uma tranquilidade jamais vista em tempos de eleições presidenciais no mercado financeiro brasileiro.

Em parte, podemos explicar essa tranquilidade relativa pelas alianças feitas por Lula com a centro direita a partir da escolha de seu vice, Geraldo Alckmin, ex governador de São Paulo, conhecedor e interlocutor junto à maior parte do PIB do País.

O fato de ter agregado apoio de economistas como Armínio Fraga e Pedro Malan e de ter resgatado a possibilidade de colocar Henrique Meirelles em local de destaque na sua equipe de governo também contribuiu para acalmar o mercado.

Um outro fenômeno marcou essa eleição, apesar do bom desempenho da economia, a avaliação do governo piorou em 2021 em razão da escalada da inflação. A exploração do comportamento pessoal do presidente Bolsonaro durante a pandemia e a escalada da inflação global em função da própria pandemia (desarranjo das cadeias produtivas) que em seguida foi turbinada pela guerra entre Rússia x Ucrânia atingiu em cheio o preço dos combustíveis, o bolso do consumidor e a popularidade do presidente.

Apesar de ter conseguido zerar impostos federais em combustíveis e cesta básica, baixar o ICMS em produtos e serviços essenciais e com isto ter contribuído para baixar e controlar a inflação no Brasil, ao contrário do que vem acontecendo no resto do mundo, o governo Jair Bolsonaro, nas urnas, foi avaliado, pela maioria dos eleitores, pela sensação do incômodo inflacionário, pela pandemia, pelo desconforto do curto prazo e não pela mudança estrutural que promoveu no País, e que nos entregou a volta da geração de empregos, do recorde de arrecadação da receita federal, do superavit primário das contas públicas, do maior nível de investimento estrangeiro desde 2011 e consequentemente do crescimento sustentável.

Trocamos uma política de estado de longo prazo por promessas populistas de alívio no curto prazo. A pandemia e a inflação apagaram momentaneamente a corrupção e a falta de gestão dos governos petistas. Bolsonaro ganhou na eleição da câmara e do senado, mas não conseguiu se eleger.

Na primeira semana pós eleição, o mercado precificou o temor do uso político das empresas com controle da União. As ações da Petrobrás que divulgou um lucro de mais de R$46 bilhões e anunciou o pagamento de dividendos de R$3,34/ação, caíram cerca de 9% na semana apesar da alta do preço do barril de petróleo no mesmo período.

Os dividendos de cerca de R$43 bilhões a serem pagos pela empresa estão sendo questionados na justiça pela frente parlamentar presidida pelo senador do PT, Jean Paul Prates, que é um dos nomes cotados para presidir a empresa. Eles querem que o dinheiro permaneça no caixa da empresa para ser usado de acordo com as diretrizes do novo governo.

A preocupação com a gestão das estatais é compensada com a euforia dos investidores em relação às varejistas, dada a possibilidade de aumento real do salário-mínimo, as incorporadoras, com a volta do Minha Casa Minha Vida, as empresas de educação, com a provável volta do FIES e outras empresa ligadas ao consumo de massa. A busca dos investidores por esses papéis que estavam descontados e a manutenção da SELIC em 13,75% a.a. com uma projeção de inflação em queda, atraíram dólares para o Brasil, e a moeda americana acumulou uma queda de quase 5% em relação ao real, nessa primeira semana de vitória de Lula.

A prioridade número 1 definida pela equipe de transição, comandada por Alckmin, é furar o teto de gastos através da aprovação de uma PEC que permita um gasto calculado até agora de cerca de R$200 bilhões para acomodar parte das promessas de campanha, dentre elas, o auxílio Brasil de R$600,00 e mais R$150,00 por criança abaixo de 6 anos de idade. A isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$5.000,00 parece não estar contemplada nesse primeiro momento. O aumento real do salário-mínimo deve ser de 1,3% e faz parte dessa conta.

Adequar as promessas de campanha ao orçamento e mostrar de forma transparente como o contribuinte vai pagar a conta será o primeiro desafio do novo governo, o segundo será a escolha do seu ministério, e o terceiro, será o nível e o custo das negociações para conseguir a maioria necessária para aprovação de suas propostas junto ao Congresso.

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis

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