Bolsonaro consultou Forças Armadas sobre golpe após vitória de Lula, diz Mauro Cid, em delação
O ex-ajudante de ordens disse que Bolsonaro recebeu de um assessor uma minuta de decreto para convocar novas eleições
O ex-ajudante de ordens Mauro Cid afirmou, em delação premiada com a Polícia Federal, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula das Forças Armadas para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para anular o resultado da eleição de 2022 — que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da República.
As informações foram reveladas nesta quinta-feira (21) pelo portal UOL e pelo jornal O Globo. De acordo com Mauro Cid, Bolsonaro recebeu das mãos do assessor especial para assuntos internacionais Filipe Martins uma minuta de decreto para convocar novas eleições. A prisão de adversários políticos, segundo ele, estaria entre as medidas.
Ainda conforme a delação, Bolsonaro teria levado o documento para a alta cúpula das Forças Armadas, obtendo apoio do então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos. O restante do Alto Comando, no entanto, não teria aderido ao plano
No início do ano, Garnier chegou a se negar a participar da passagem de comando da Marinha a seu sucessor, Marcos Sampaio Olsen, indicado por Lula. A ausência do almirante causou mal-estar nas Forças Armadas.
Na delação, Cid disse que foi testemunha das duas reuniões, quando Bolsonaro recebeu o documento do assessor e também quando levou-o aos militares.
Minuta do golpe
Uma das suspeitas dos investigadores é que as articulações a partir dessa reunião resultaram nos atos golpistas do 8 de janeiro.
A Polícia Federal ainda investiga se o documento citado por Cid é a mesma minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres.
Falsificação de certificados de vacina
Em sua delação, o ex-ajudante de ordens também falou sobre a falsificação de certificados de vacina que o levaram à prisão em maio, além de outros casos como o esquema de venda de joias, que envolve o presidente e arrasta militares do Exército, Marinha e Aeronáutica para problemas de Bolsonaro.
Veracidade das revelações e defesa de Cid
A investigação da PF ainda deve realizar diligências para verificar a veracidade das revelações feitas por Mauro Cid.
Em nota, a defesa de Cid afirmou não ter os depoimentos a respeito da reunião de Bolsonaro com a cúpula militar e disse que eles são sigilosos.
Cid foi liberado da prisão para participar de delação premiada
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, estava preso desde maio, quando foi revelado um esquema falsificação de carteiras de vacinação contra a Covid-19. No entanto, no último dia 9 de setembro, Cid foi liberto do Batalhão da Polícia do Exército, em Brasília, após sua delação premiada ser homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Ao longo dos quatro anos em que Bolsonaro ocupou o Palácio do Planalto, Mauro Cid foi chefe da ajudância de ordens do então presidente. Esse posto é dado a um oficial, que deve ficar à disposição do presidente no desempenho das funções, como um secretário particular do chefe do Executivo.
No período, o tenente-coronel teve livre acesso ao gabinete presidencial, ao Palácio da Alvorada e até mesmo ao quarto ocupado pelo ex-chefe do Executivo em hospitais, após cirurgias.
Outro lado
Os citados na reportagem não foram encontrados até o fechamento deste texto e o espaço está aberto.