O governo Lula e a canalhice olímpica na Venezuela
Antes, é preciso que fique explícito o seguinte pragmatismo: ditadura é ditadura. Autocracia nada tem a ver com conceitos ideológicos
Nicolás Maduro conquistou solitária medalha de ouro para a Venezuela nas olímpiadas planetária: o ditador de republiqueta de bananas faturou ouro na categoria canalhice bolivariana. É bom aqui, agora, contextualizar Drummond e jogar o abacaxi no colo do mandatário maior do Brasil: e agora, Lula?
Antes, é preciso que fique explícito o seguinte pragmatismo: ditadura é ditadura. Autocracia nada tem a ver com conceitos ideológicos. E mais claro ainda. A utopia chamada comunismo é pretexto para implantações de ditaduras mundo afora. A direita produz ditadores para proteger o povo do perigo marxista. A esquerda, por sua vez, inventa tiranos para livrar a plebe (ou proletariado) da exploração burguesa. Pura falácia. Ditadura é ditadura, nada mais que ditadura.
O governante detentor de poder totalitário só tem um objetivo: assegurar privilégios para si, seus familiares e apaniguados. O sistema funcionou assim com Adolf Hitler, Benito Mussolini, Josef Stalin e outros psicopatas. Tudo farinha de um mesmo saco. O chavismo bolivariano pariu dois caricatos déspotas incolores: Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
Pepe Mujica — um dos ícones da esquerda — percebeu há muito tempo a estupidez venezuelana. O ex-presidente do Uruguai foi preciso no diagnóstico e acertou na mosca: “há um governo autoritário na Venezuela. Maduro é um ditador que destrata as pessoas. Qualquer dissidente para ele é um traidor. Então, trata as pessoas como merda”. E completou com sua peculiar linguística: “Maduro está louco como uma cabra”.
A percepção brasileira é muito diferente. Lula sempre bajulou o bufão dos Andes. A submissão ostensiva até já provocou constrangimentos. Na Cúpula de Chefes de Estados da América do Sul, em maio do ano passado — no Palácio do Itamaraty — o tratamento diferenciado ao herdeiro de Chávez ofuscou a presença dos demais participantes do encontro. Na ocasião, Lula declarou: “a Venezuela (leia-se Maduro) é vítima de uma narrativa de antidemocracia e autoritarismo”.
O presidente (esquerdista) chileno Gabriel Boric foi contundente na réplica: “Não é uma construção narrativa, é uma séria realidade, e tive a oportunidade de vê-la de perto nos rostos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que, hoje, vieram para a nossa pátria e que exigem uma posição firme e clara de que os direitos humanos devem ser respeitados sempre, e em qualquer lugar, independente da coloração política do atual governante. Isso se aplica a todos nós”. Foi uma dura lição.
O pleito venezuelano mostrou ao mundo a real faceta de Nicolás. O chefe do Executivo brasileiro, por exemplo, foi humilhado pela retórica truculenta do mandarim de bananal. Lula pediu respeito ao resultado da eleição. Essa é a tradução da resposta de Maduro para o líder petista: “vai te catar, Lula”. O processo eleitoral do Estado vizinho foi escandalosa farsa. A rapinagem é de fácil comprovação. Na nação andina, as urnas eletrônicas são utilizadas com mais eficiência que nas bandas de cá. O eleitor recebe dois comprovantes impressos depois do exercício do voto. Um fica com ele e o outro é depositado numa urna comum. Então, é fácil verificar se Maduro foi realmente o vencedor, conforme anunciou o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, uma instituição a serviço do oficialismo.
A fraude não aconteceu na votação. A fancaria veio em forma de repressão, perseguição, alijamento da adversária mais competitiva (María Corina), tentativa de se impedir a livre movimentação de oposicionistas, vedação à entrada de observadores internacionais no país, censura à imprensa (jornalistas colombianos foram expulsos) e, principalmente, falta de transparência na apuração dos votos. Uma vergonha. A “canhota” brasileira sempre foi avalista dos desmandos bolivarianos. E agora, Lula?
P.S.1: Na noite de segunda-feira (29), o PT divulgou nota de apoio a Nicolás Maduro. Os “companheiros” afirmaram o seguinte: “a eleição da Venezuela foi uma jornada pacífica e soberana”. Aproveito a oportunidade e faço a pergunta óbvia: PT significa patético?
P.S.2: Nessa terça-feira (30), Lula assumiu o seu jeito Bolsonaro de ser e falou essa besteira sobre o quebra-quebra na Venezuela: “eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo”. Normal, tranquilo? Como assim? Já são onze mortos e sete centenas de presos. ¿Por qué no te callas, presidente?
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.