AMIG vai até o presidente do Senado criticar a indicação de ex-executivo da Vale para diretoria da ANM

O documento foi assinado pelo prefeito de Itabira e recém empossado presidente da AMIG, Marco Antônio Lage (PSB)

AMIG vai até o presidente do Senado criticar a indicação de ex-executivo da Vale para diretoria da ANM
Foto: Cosampa/Divulgação

A Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (AMIG) enviou, na semana passada, um ofício ao presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, manifestando preocupação com a indicação de José Fernando de Mendonça Gomes Junior, ex-executivo da mineradora Vale., para a diretoria da Agência Nacional de Mineração (ANM). 

O documento, assinado pelo prefeito de Itabira e recém empossado presidente da AMIG, Marco Antônio Lage (PSB), ressalta os riscos que a nomeação pode representar para a imparcialidade e a independência da autarquia, “que já enfrenta um histórico de fragilidade institucional”.

José Fernando de Mendonça Gomes Júnior é o atual presidente da Companhia de Saneamento do Estado do Pará (Cosanpa) e foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o cargo de diretor da Agência Nacional de Mineração no fim do ano passado. 

Na ocasião, Lula encaminhou 17 nomes ao Senado para cargos de direção em agências reguladoras, entre elas o nome do ex-diretor da Vale – que assim como os demais, deve passar por sabatina com os senadores para assumir o cargo. 

A AMIG – entidade que representa 55 municípios mineradores em oito estados brasileiros, responsáveis por cerca de 87% da produção mineral do país – destaca no texto que “a nomeação de um profissional ligado à maior mineradora do Brasil pode comprometer a isenção da ANM no cumprimento de seu papel regulador e fiscalizador. O receio principal é que essa escolha reforce o lobby das mineradoras dentro de um órgão já apontado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) como sucateado e ineficaz”.

A agência, que herdou as deficiências do extinto Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), tem um histórico de grandes tragédias ambientais e humanas, como os rompimentos das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Além disso, a AMIG alerta para a elevada sonegação no setor mineral, que, segundo relatório do TCU, causou uma perda de receita potencial de R$4 bilhões entre 2017 e 2021, que chegou a R$20 bilhões em créditos pendentes.

Independência da ANM em risco

No ofício, a AMIG ressalta que a criação da ANM foi um avanço no setor, garantindo maior autonomia política e modernização da gestão regulatória. No entanto, alerta que a “nomeação de um diretor com laços diretos com a Vale pode minar ainda mais a credibilidade da agência junto à sociedade e aos municípios mineradores.”

A entidade defende que a escolha para a diretoria da ANM deve seguir critérios técnicos rigorosos, priorizando profissionais com experiência na gestão pública, conhecimento aprofundado em regulação e fiscalização do setor mineral e sem vínculos com a iniciativa privada.

“Isso garantiria uma agência mais eficiente, transparente e voltada ao interesse público, evitando o risco de aparelhamento político e influência indevida do setor privado”, destaca Marco Antônio Lage.

A diretoria da AMIG se colocou à disposição do Senado para discutir a realidade da mineração no Brasil, especialmente os impactos severos enfrentados pelos municípios mineradores. “A falta de uma regulação forte e independente tem impedido que o país aproveite plenamente os benefícios da mineração, enquanto os riscos ambientais e sociais continuam elevados”, enfatiza Lage.

Mesmo diante da negligência e fragilidade institucional, o setor mineral segue representando 4% do PIB nacional, com forte impacto na balança comercial do Brasil.

“Reforçamos a necessidade de uma gestão séria e comprometida com o interesse público, garantindo que a mineração seja mais equilibrada e sustentável para todos os envolvidos (empresas, municípios, Estado, Federação e sociedade). A manifestação da AMIG ao presidente do Senado é um alerta para que a nomeação de diretores da ANM não comprometa a imparcialidade da agência e não coloque em risco o futuro da mineração no Brasil”, ressalta Marco Lage.