Vale anuncia novo minério de teor médio para atender siderúrgicas chinesas

Mineradora aposta em produto menos concentrado para se adaptar à queda da demanda por minério de alta qualidade e ao momento de desaceleração econômica da China

Vale anuncia novo minério de teor médio para atender siderúrgicas chinesas
Foto: Portal Brasil.gov.br/Ricardo Teles

A Vale irá lançar nos próximos meses um novo tipo de minério de ferro com teor intermediário, em uma estratégia voltada a atender a demanda de siderúrgicas chinesas que vêm operando com margens de lucro menores devido à desaceleração econômica do país. A China é o principal mercado da mineradora brasileira, responsável por absorver 62% de suas vendas.

O novo produto combina o minério de alta pureza de Carajás, que possui 66% de teor de ferro, com estéril — material que antes era descartado no processo de extração. A mistura resultará em um minério com teor entre 60% e 63%, com propriedades metalúrgicas distintas daquelas dos minérios originários de Minas Gerais.

A decisão, segundo o vice-presidente comercial da Vale, Rogério Nogueira, está diretamente ligada ao cenário atual enfrentado pelas siderúrgicas chinesas. “Nossos clientes estão operando com margens muito baixas (…), e o que eles realmente estão buscando são minérios de ferro de grau médio”, afirmou o executivo em encontro com investidores.

A medida representa uma mudança significativa para a Vale, que sempre teve como diferencial a produção de minérios de alto teor, especialmente o de Carajás — valorizado por sua eficiência na produção de aço e por contribuir para práticas mais sustentáveis, com menor uso de carvão e, consequentemente, menos emissões de CO₂.

No entanto, a atual conjuntura global, com foco em cortes de custos e pressão sobre os preços, tem impactado diretamente a preferência do mercado. De acordo com o portal MySteel, a diferença de preço entre o minério de menor e médio teor tem diminuído, refletindo o crescimento da demanda por materiais mais baratos.

Outras gigantes do setor, como as australianas Fortescue e Rio Tinto, também têm adaptado seus portfólios. A Rio Tinto, por exemplo, anunciou recentemente a redução no teor de seu principal produto de 61,6% para 60,8%.

Para a Vale, a diversificação do portfólio é vista como uma forma de ganhar competitividade sem abrir mão de sua vocação para minérios de qualidade superior. Em evento com investidores, a gerente de estratégias corporativas da empresa, Débora Doblas, ressaltou que a mineradora está ajustando sua produção para se alinhar às necessidades de curto prazo do mercado. “A siderurgia com margem apertada e o preço do carvão mais deprimido acabam não incentivando a aceleração da agenda de descarbonização”, declarou.

A medida também reflete o desafio global de equilibrar competitividade com sustentabilidade. Embora o minério de alto teor seja essencial para a descarbonização do setor siderúrgico, ele ainda é utilizado em pequena escala na China, onde a produção via rota de redução direta — menos poluente — representa menos de 5%.

Nesse contexto, a iniciativa da Vale visa preservar participação de mercado, atendendo às exigências imediatas de seus clientes, sem abandonar o compromisso de longo prazo com a sustentabilidade e a transição energética.