A cultura do “cancelamento”

Cancelar uma pessoa virou uma prática usada por muitos nas redes sociais nos últimos anos

A cultura do “cancelamento”
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No mês de janeiro começou uma nova edição da famosa “casa mais vigiada” do Brasil: Big Brother Brasil. Este programa já está na sua 21ª edição. Não pretendo fazer aqui uma análise ou julgamento desse programa. Creio que já sabemos o suficiente para decidir se queremos assistir ou não, tendo em vista que o controle remoto em nossa mão serve justamente para isso: ligar, desligar ou mudar de canal.

Somos livres e inteligentes o bastante para decidirmos o que queremos ou o que permitimos nossa família assistir. Não há necessidade de uma demonização deste ou de outros programas de televisão; há de se ter a capacidade de escolha sobre o que é útil ou não em nossa vida, se queremos ou não assistir e que lições podemos tirar caso escolhamos dar audiência.

Mas um fato tem me chamado atenção esse ano, tanto no BBB como nas redes sociais dos artistas e famosos: começou a chamada cultura do cancelamento nas redes sociais. Pelo que entendi, se estiver errado peço desculpas, uma pessoa é cancelada quando seu comportamento, fala, atitude destoa do “politicamente correto”. A partir disso, um julgamento é feito e vem a condenação: o seu cancelamento nas redes sociais.

“Você pode ser cancelado por algo que você disse em meio a uma multidão de completos estranhos se um deles tiver feito um vídeo, ou por uma piada que soou mal nas mídias sociais ou por algo que você disse ou fez há muito tempo atrás e sobre o qual há algum registro na internet. E você não precisa ser proeminente, famoso ou político para ser publicamente envergonhado e permanentemente marcado: tudo o que você precisa fazer é ter um dia particularmente ruim e as consequências podem durar enquanto o Google existir”, definiu o colunista do The New York Times Ross Douthat em uma coluna sobre cancelamento há alguns dias.

O que fiquei me questionando e imagino que com você, caro amigo leitor deve ocorrer o mesmo, como é difícil fazer cancelamentos comerciais, por exemplo, o cancelamento de compras na internet, encerrar uma conta ou tarifa. Ficamos minutos a fios e muitas vezes em vão, terminamos sem sucesso a nossa empreitada. Você já passou por isso? Fazer um pedido, abrir uma conta e tantas outras coisas é mais fácil que cancelar, não é? Eis a diferença. Como é fácil cancelar as pessoas nas redes sociais, porque basta um click e se deixa de ser “amigo” e de seguir.

Mas o mais perigoso é a facilidade como se pode cancelar pessoas no cotidiano da convivência e dos relacionamentos. Sem talvez nos darmos contas, hoje em dia entramos nessa cultura do cancelamento das pessoas em nossas vidas, como se as pessoas se tornassem um produto a mais e como produtos se tornam descartáveis.

O Papa Francisco não fala sobre a cultura do cancelamento, mas de uma cultura do descarte que acredito tenha o mesmo sentido: “cultura do descarte “afeta tanto os seres humanos excluídos como as coisas que se convertem em lixo” (Encíclica “Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum”, n. 22). “O descarte compreende tudo aquilo que se desperdiça sem ser reciclado, desde objetos, plantas e alimentos, até os seres humanos que não são levados em conta e que estão sendo ou serão prejudicados por esse tipo de cultura. As pessoas descartadas são aquelas não importantes para os interesses políticos e pela especulação financeira e cujas necessidades básicas não consideradas pela sociedade do desperdício. Nossa geração está mergulhada na cultura do descarte, saqueando a terra como se fôssemos a última geração a ter direito a ela.”.

Jesus, meus amigos, é um mestre da vida, porque ele prega o que faz e faz o que ensina. E como mestre da vida nunca descartou ninguém, pelo contrario, sempre se mostrou misericordioso e acolheu os pecadores. Ouso dizer, Jesus não cancelou e ninguém, lembro lhes apenas um episodio na sagrada escritura entre tantos outros que ilustram a acolhida de Jesus: “Jesus, partindo dali, viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. Ele se levantou e o seguiu. Estando ele à mesa em casa, vieram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se com Jesus e com seus discípulos. Os fariseus, vendo isto, perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Mas Jesus, ouvindo-o, disse: Os sãos não precisam de médico, mas sim os enfermos. Porém ide aprender o que significa: ‘Quero misericórdia e não holocaustos‘; pois não vim chamar os justos, mas os pecadores!” (Mateus 9:9-13).

Sejamos imitadores de Cristo, nós não somos descartados por Ele. Porque entrarmos nessa cultura atual? Quem você já cancelou ou descartou? Deus os abençoe.

Padre Anderson Ferreira Teixeira é colunista da DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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