Barco humanitário rumo a Gaza foi interceptado
Ativista brasileiro está entre os detidos por Israel; a embarcação pretendia furar o bloqueio imposto por Israel em 2007

Um barco da organização Freedom Flotilla Coalition (FFC), que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza, foi interceptado por forças israelenses na madrugada da última segunda-feira (9). A embarcação Madleen, que navegava em águas internacionais, levava ativistas de vários países, entre eles o ativista brasileiro Thiago Ávila, a ativista sueca Greta Thunberg, o ator irlandês Liam Cunningham e a deputada francesa Rima Hassan.
O grupo buscava romper simbolicamente o bloqueio imposto por Israel a Gaza desde 2007. De acordo com a FFC, o objetivo da missão era denunciar a crise humanitária que atinge a região e entregar uma pequena quantidade de alimentos, como arroz e leite em pó para bebês.
Esta não é a primeira tentativa da organização de romper o bloqueio marítimo israelense. Em 2010, soldados israelenses mataram 10 ativistas ao abordarem o navio turco Mavi Marmara, o que provocou uma crise diplomática internacional.
A confirmação da intercepção chegou por vídeos pré-gravados divulgados por familiares e apoiadores quando o contato com o Madleen foi perdido. Em uma das gravações, Thiago Ávila, ativista de Brasília e ex-candidato a deputado federal pelo PSOL, afirma: “Se você está assistindo a esse vídeo, é porque fui preso ou sequestrado por Israel ou por alguma outra força cúmplice no Mediterrâneo”.
Sua esposa, Lara Souza, também publicou um vídeo informando que soldados israelenses já haviam subido a bordo. Ela apelou para que autoridades brasileiras intervenham com urgência: “Cobrem o Itamaraty, os parlamentares, todas as figuras públicas. Precisamos trazer o Thiago de volta”.
A FFC e outros passageiros relataram que a embarcação foi cercada por lanchas rápidas e drones que teriam borrifado uma substância branca, assemelhando-se a uma tinta, sobre o barco, além de emitir sons perturbadores pelo rádio.
A advogada Huwaida Arraf, organizadora da expedição, confirmou à CNN que o barco estava cercado por comandos navais israelenses. Já a relatora da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, afirmou que houve três incidentes antes da abordagem, incluindo o lançamento da substância e a interrupção abrupta das comunicações quando soldados israelenses embarcaram.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel classificou a expedição como uma “provocação midiática”. O governo israelense publicou fotos dos ativistas usando coletes salva-vidas, recebendo comida e água, e anunciou que todos seriam repatriados para seus países de origem. O ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou ter instruído as Forças de Defesa de Israel (IDF) a impedir a chegada do Madleen à costa de Gaza.
A ação gerou reações de diferentes partes do mundo. Greta Thunberg publicou um vídeo dizendo que o grupo foi “interceptado e sequestrado em águas internacionais” e pediu que seu governo agisse “o mais rápido possível” pela libertação dos detidos.
O Hamas classificou a ação como uma “violação flagrante do direito internacional” e cobrou da ONU medidas urgentes para garantir a libertação dos ativistas. A organização Freedom Flotilla também reforçou que o bloqueio a Gaza é ilegal e que a embarcação era civil, desarmada e com fins exclusivamente humanitários.
Até o momento, o governo brasileiro ainda não se posicionou oficialmente sobre o caso. A missão ocorre em meio a uma crise humanitária cada vez mais grave na Faixa de Gaza, que já dura quase dois anos desde o início da ofensiva militar israelense, em resposta ao ataque do Hamas em outubro de 2023.