BH ganha cinco novas estações para monitorar qualidade do ar em tempo real
Rede ProAr inicia operação em áreas estratégicas enquanto estudos da UFMG apontam piora dos índices urbanos, sobretudo no inverno
Belo Horizonte deve receber ainda este ano cinco novas estações de monitoramento da qualidade do ar. A implantação integra o ProAr, programa firmado entre a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o Iclei e a empresa Aurassure, anunciado nesta terça-feira (9) durante o Encontro Nacional AdaptaCidades. A iniciativa cria uma rede de vigilância distribuída por regiões centrais e periféricas, com dados atualizados em tempo real e voltados ao planejamento de políticas públicas.
As unidades serão instaladas no Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas, no Centro; no Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, no Barreiro; na Arena MRV, no Califórnia; na Escola Municipal Tancredo Phideas Guimarães, na Vila Satélite; e no Hospital Nossa Senhora Aparecida, no bairro São Paulo. A expectativa é que os equipamentos registrem índices da atmosfera urbana de forma contínua e permitam intervenções mais rápidas em períodos de maior concentração de poluentes.
A ampliação ocorre em um contexto de preocupação crescente. Pesquisas recentes da UFMG mostram que Belo Horizonte enfrenta oscilações significativas na qualidade do ar ao longo do ano. O inverno concentra os piores indicadores. Em estudo conduzido pelo climatologista Alceu Raposo Júnior, medições em vias importantes ultrapassaram os limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde. A Rua Padre Eustáquio atingiu 78 microgramas por metro cúbico; a avenida Nossa Senhora do Carmo chegou a 69; a Amazonas, 65. Até o Anel Rodoviário, com tráfego intenso, registrou valor inferior ao da Padre Eustáquio devido ao maior espaçamento entre edificações e melhor dispersão de emissões.
A pesquisa associa grande parte dessas diferenças ao desenho urbano. Ruas estreitas e saturadas pelo tráfego tendem a reter poluentes, enquanto corredores alargados dispersam partículas com mais eficiência. Segundo o pesquisador, a baixa capacidade da atmosfera de remover poluentes durante o inverno cria “bolsões” que se acumulam sobre regiões inteiras da cidade. A metodologia utilizada no estudo, baseada em equipamento móvel de baixo custo, aponta caminhos para que municípios ampliem diagnósticos ambientais sem depender apenas de estações fixas.
O ProAr surge, portanto, como reforço num cenário em que a informação se torna condição para agir. Com os novos equipamentos, a prefeitura deve acompanhar padrões de circulação, identificar áreas críticas e divulgar para a população dados que normalmente só chegam de forma fragmentada. A iniciativa é apresentada como parte de um esforço mais amplo do município no debate climático, discutido no Encontro AdaptaCidades, que levou a Belo Horizonte gestores de várias regiões do país para tratar de financiamento climático, adaptação e resiliência urbana.