Mineração concentra ¼ dos empregos e quase a metade da massa salarial de Itabira
A mineração está intrinsecamente ligada à história de Itabira. A relação de mais de sete décadas ganhou status de dependência com o passar dos anos e agora tem data prevista para acabar. Ou, pelo menos, ficar bem mais fraca. Desde a informação da Vale de que as minas itabiranas se exaurem em dez anos, cresceu […]
A mineração está intrinsecamente ligada à história de Itabira. A relação de mais de sete décadas ganhou status de dependência com o passar dos anos e agora tem data prevista para acabar. Ou, pelo menos, ficar bem mais fraca. Desde a informação da Vale de que as minas itabiranas se exaurem em dez anos, cresceu na cidade a preocupação com a economia local. E um estudo encomendado pelo vice-presidente da Câmara de Vereadores e presidente do Sindicato Metabase, André Viana (PODE), mostra que o baque realmente será grande caso projetos de diversificação não avancem.
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O levantamento analisa as finanças de Itabira e traça um panorama sobre a dependência do município para com a mineração. O estudo foi desenvolvido pelo Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese) e aborda dados recentes que expressam em números o tamanho e a intensidade do vínculo entre o dinheiro que circula na cidade e a atividade extrativista.
Segundo a análise, a mineração concentra 27,4% dos pouco mais de 31 mil empregos formais registrados em Itabira. O setor lidera com folga o ranking de contratações, seguido pelo comércio, detentor de 14,7% dos postos de trabalho. A administração pública é o terceiro segmento da lista, com 8,8%.
A dependência fica ainda mais latente quando analisada a circulação do dinheiro. De acordo com o estudo do Ilaese, a massa salarial de Itabira alcança R$ 77,1 milhões por mês. Desse montante, 47,7%, ou algo em torno de R$ 36 milhões, provém da mineração. A administração pública aparece bem abaixo, com 10% da concentração de salários, seguido do comércio com 7,6%.
“Ao analisar os dados, eu nem consigo dissociar o salário da mineração ao do comércio, por exemplo. Os dois têm de estar em um bloco só, porque se a mineração acabar o dinheiro para de circular. E aí não existe comércio”, comentou André Viana, enquanto mostrava o estudo para um plenário esvaziado de vereadores. Em determinado momento, somente cinco acompanhavam a apresentação do colega.
Dependência x falta oportunidade
No ano passado, segundo os dados informados pelo vereador, a Compensação Financeira por Exploração de Recursos Minerais (Cfem) representou 10% de toda arrecadação de Itabira. Em 2018, o índice deve ficar ainda maior, com a mudança na alíquota que turbinou o royalty da mineração.
Apesar da dependência clara da exploração mineral em Itabira, um dado da pesquisa chama atenção. De acordo com a análise, somente 12,2% dos cursos técnicos – principal porta de entrada para atuar na mineração – é ofertado publicamente. Os outros 87,8% estão na rede privada.
“Ou seja, só consegue se preparar para trabalhar na mineração quem tem dinheiro para pagar. Quando a empresa abre vagas, reclamamos que não são contratados os itabiranos e eles argumentam que as pessoas da cidade não têm a formação necessária. Esse quadro precisa ser alterado urgentemente”, defendeu o vice-presidente da Câmara.
O relatório ainda traz dados mais específicos da administração pública, como balança comercial e gastos com pessoal, saúde e educação. Para André Viana, os números apresentados escancaram a necessidade de o fim da mineração ser tratado com “muita seriedade”.
“Fica claro que a cidade hoje não está preparada para o encerramento das atividades. Temos pouco tempo para reverter esse quadro de dependência. Isso não é discurso de pânico, é realidade”, finalizou.