Um homem de 24 anos está sendo chamado de herói nacional na França depois de enfrentar o autor de um ataque na cidade francesa de Annecy e impedir que a tragédia fosse ainda maior. Henri d’A usou a mochila para conter o agressor que esfaqueou seis pessoas, incluindo quatro crianças, em um parque, na quinta-feira (8).
Henri estava perto do local do ataque quando ouviu os gritos desesperados de uma mulher que tentava proteger um bebê em um carrinho. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram que o homem ficou frente a frente com o agressor, afastando-o do parquinho, onde estavam outras crianças.
As imagens do ataque rapidamente circularam nas redes sociais. Os vídeos mostram a maioria das pessoas paralisadas diante das agressões feitas por um refugiado sírio, enquanto outras fogem correndo do local. E então o jovem morador de Paris, que viajava o país em um tour para conhecer catedrais, aparece fisicamente próximo do assassino, desviando sua atenção e puxando-o para fora do perímetro onde estavam os bebês.
Attaque au couteau à Annecy: l’agresseur a été interpellé en 4 minutes pic.twitter.com/NwZnbl7UXo
— BFMTV (@BFMTV) June 8, 2023
Henri d’A. usou uma de suas mochilas como proteção. Em dado momento, ele tenta acertar o agressor com uma de suas bolsas. E depois se livra de uma delas para perseguir o sírio mais rapidamente. Logo, passou a ser tratado como o “herói da mochila”, na França.
De acordo com autoridades, Henri ganhou segundos preciosos até a chegada da polícia e impediu que mais pessoas fossem atacadas. A mídia local o apelidou de “herói da mochila” e, segundo a Rádio Europe 1, o presidente francês, Emmanuel Macron, deve homenageá-lo pessoalmente nesta sexta-feira (9).
Poucos detalhes sobre o homem foram divulgados. Nas redes sociais, ele publicou um comentário sobre o episódio, dizendo que estava bem e pedindo aos seus seguidores que orassem pelas crianças feridas.
Em entrevista à emissora CNews, Henri contou que viaja pela França para conhecer catedrais e disse que a fé católica lhe deu forças para lutar contra o agressor. “Tudo o que eu sei é que não estava lá por acaso. Em minha jornada, cruzei com este homem e agi instintivamente. Era impensável não fazer nada”, afirmou ele. “Tentei assustá-lo e deixar claro que ele não podia fazer o que quisesse”.
Morador de Paris, Henri mantém uma página em uma rede social com registros da viagem. Embora ainda esteja chocado com os acontecimentos da véspera, apontou como ponto positivo o fato de seu projeto ter ganhado visibilidade. “Agradeço a Deus que poderei alcançar mais pessoas”.
O jovem parisiense estava de passagem por Annency. Há dois meses, Henri d’A. embarcou em um passeio pelas catedrais da França, a pé e de carona. Ele registra tudo em um perfil no Instagram. Após o ato heroico, o francês publicou uma mensagem de agradecimento e solidariedade nas redes sociais.
“Obrigado por todas as suas mensagens de apoio! Estou pensando particularmente nas vítimas e em seus pais. Espero que eles saiam disso. A aventura não para! Vejo vocês em breve”, afirmou
Henri d’A. é formado em filosofia e gestão internacional. Ele se define como um “amante das catedrais” e diz que vai rodar a França ao longo de nove meses para conhecer igrejas pelo país.
Homenagem às vítimas
Uma missa em homenagem às vítimas e seus familiares será realizada na catedral de Annecy nesta sexta-feira. Na véspera, o refugiado sírio identificado como Abdalmasih H. esfaqueou de forma aleatória seis pessoas, incluindo quatro crianças. Ele foi detido pela polícia, e o Ministério Público descartou motivação terrorista.
Segundo o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, o homem carregava uma cruz no momento em que foi preso. O jornal Le Monde relatou que ele dizia frases como “em nome de Jesus Cristo” no momento do ataque. A emissoras locais uma mulher que diz ser ex-esposa do agressor afirmou que o ex-companheiro era cristão e que nunca havia demonstrado traços de uma personalidade violenta.
Ao comentar o episódio, Henri apontou a contradição do agressor ter usado o nome de Jesus em um episódio de violência. “Acho que algo muito ruim o habitava.” Nas redes sociais, os perfis do “homem da mochila” foram inundados com mensagens de agradecimento. “Que Deus te abençoe. Você fez o que pôde naquele momento, não desistiu, não correu. Você é um anjo”, escreveu uma usuária no Instagram.
As crianças feridas têm idades entre 1 ano e 10 meses a 3 anos. Três delas continuam hospitalizadas e receberam a visita de Macron, que viajou acompanhado da primeira-dama, Brigitte. Ele disse que a recuperação de uma das crianças, com idade pré-escolar, estava “indo na direção certa”, e o ministro das Relações Exteriores disse que outra vítima, de nacionalidade holandesa, está fora de perigo.
Segundo o porta-voz do governo, Olivier Véran, duas crianças permanecem em estado crítico. Num contexto de tensão política devido à implementação de uma reforma migratória na França, ele pediu prudência e disse ser necessário esperar a conclusão das investigações antes da tomada de decisões.
O suspeito não tem antecedentes criminais e não era investigado por nenhum serviço de inteligência regional. Tampouco tinha histórico psiquiátrico, segundo as autoridades, e não estava sob efeito de entorpecentes ou de álcool no momento em que realizou o ataque.
Ele deve passar nesta sexta por um exame psiquiátrico. Segundo a emissora local da France Bleu, o agressor ainda não havia sido interrogado, já que estava agitado e até “se revirava no chão” da delegacia.
À espera de respostas, dezenas de cidadãos de Annecy depositaram flores brancas, bichos de pelúcia, velas e bilhetes com mensagens de apoio em um pequeno memorial improvisado no local do atentado, onde as crianças voltaram a brincar horas depois do ataque.