Do ‘data venia’ ao ‘visual law’
A linguagem é algo que serve para nos unir ou nos separar. É o que ocorre as vezes quando se utiliza do juridiquês
Data venia, conditio sine qua non, periculum in mora, in dubio pro reo, clausula Rebus sic stantibus.
Se você nunca ouviu ou não conhece o significado das palavras acima, não se preocupe, elas são parte do vocabulário jurídico, o “juridiquês”.
A linguagem é algo que serve para nos unir ou nos separar.
Enquanto falantes do português estamos próximos dos outros países lusófonos — Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Macau também é uma localidade onde se fala português mas não é um pais.
Mas a linguagem também nos afasta. E pode servir como instrumento de dominação e sobreposição ao outro. É o que ocorre as vezes quando se utiliza do “juridiquês”.
A crítica que se faz não é ao uso da linguagem técnica, essa por vezes é imprescindível, seja no Direito ou em qualquer outra área. Existem termos que não podem ser substituídos. A crítica reside no uso constante, descontextualizado e abusivo dos termos jurídicos.
Defendo o acesso à Justiça, e isso passa por tornar a linguagem jurídica compreensível.
Hoje em dia muito se fala sobre o uso de elementos visuais em documentos, seja em contratos, petições, sentenças ou acórdãos. É o chamado visual law ou legal design (as diferenças conceituais não vem ao caso no momento), técnica que como dito tem o objetivo de facilitar a compreensão do conteúdo por qualquer pessoa que tenha acesso a ele.
Os resultados da simplificação são inegáveis. As partes compreendem melhor o que se passa, os advogados se comunicam melhor com juízes e promotores, que por sua vez podem decidir e dar pareceres de maneira mais assertiva. Foi-se o tempo em que o que ocorria no processo devia ser compreendido apenas pelos profissionais envolvidos e capacitados para entender o “juridiquês”.
Mas é importante alertar: facilitar a compreensão não é sinônimo de banalizar a comunicação. Qualquer elemento que seja utilizado em um processo judicial deve ter um objetivo claro e uma finalidade específica. Não basta ser bonito, é preciso ter conteúdo.
Pedro Moreira. Advogado. Pós graduado em Gestão jurídica pelo IBMEC. Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Atua nas áreas do direito civil e administrativo, em Itabira e região. Redes sociais: Instagram
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