Escalada nos preços dos materiais prejudica construção civil
Entre as consequências está a defasagem nas revisões de contratos com o setor público
O setor de construção civil vive um impasse. Os materiais de construção estão muito mais caros e essa realidade prejudica toda a cadeia produtiva. Para se ter uma ideia, os preços mais altos estão travando o andamento de obras, especialmente do setor público. Isso porque a alta impacta as relações contratuais: as construtoras precisam repassar os custos, isto é, fazer um reequilíbrio financeiro dos contratos vigentes. Mas, do outro lado, governos são resistentes à revisão dos gastos, diante de seus próprios desafios. Na ponta da cadeia produtiva está o trabalhador, que pode perder a vaga de emprego.
Segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), publicados pelo Diário do Comércio na terça-feira (4), de janeiro a abril de 2021 o custo com materiais avançou 13,52%. Além disso, o Custo Unitário Básico de Construção (CUB/m²), medido no mesmo período, atingiu 9,11%. O CUB é um dos principais indicadores da construção civil e tem grande efeito no mercado imobiliário.
No acumulado dos últimos doze meses, o custo com materiais de construção cresceu 33,90% e o CUB/m², 17,15%, na medição do Sinduscon.
Entre os insumos, o preço do aço é o que subiu mais. No mês de abril, o avanço foi de 7,48%; já no acumulado do ano, a alta atingiu 41,45%. Conforme veiculado pelo Diário do Comércio, outros itens sofreram reajuste e pressionam o segmento: janela de correr (6,35%), tubo de PVC (5,67%), placa de gesso (5%), areia (4,71%), registro de pressão (4,54%), cimento (4,38%), bloco de concreto (3,85%), fio de cobre (3,44%) e também chapa compensado (3,29%).
Desaquecido
De janeiro a março de 2021, o índice que mede a situação financeira das empresas do setor recuou 5,3 pontos em relação ao último trimestre de 2020, caindo de 47,2 para 41,9 (número abaixo de sua média histórica, de 44 pontos). O índice é da Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC.
Compra externa
O setor de construção civil não depende de insumos do exterior, mas com os preços praticados no país essa é uma saída encontrada. Em seu site, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) noticiou que apoia iniciativas de compras coletivas no mercado externo. A instituição publicou que a captação de demandas para importação de materiais já é uma realidade no setor.
No ano passado, a CBIC entregou ao governo federal um documento com evidências que, segundo a entidade, indicam abusos no aumento do preço de materiais de construção durante a pandemia. O material foi levado à Secretaria de Advocacia da Concorrência e Competitividade do Ministério da Economia. As alegações são de desequilíbrio artificial provocado por parte das empresas – a CBIC apontou falso desabastecimento no primeiro semestre de 2020, que foi sendo aproveitado pelos fornecedores para recuperar preços.
Sem o Minha Casa Minha Vida
Entre tantas consequências, de acordo com o Sinduscon, o programa Casa Verde Amarela – antigo Minha Casa Minha Vida – ameaça parar em algumas regiões do país. O orçamento da União em 2021 reduziu em 98% os recursos destinados ao programa habitacional.
“O corte praticamente zera as despesas que estavam reservadas ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), que banca as obras da “faixa 1” do programa, o que impossibilita a construção de mais de 200 mil imóveis que já estavam em processo”, manifestou o sindicato, nesta quarta-feira (5).
A CBIC, por sua vez, diz que a medida coloca em risco mais de 850 mil empregos no país, considerando mão de obra direta e indireta do setor.
Descompasso com os governos
Ao Diário do Comércio, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG), Emir Cadar Filho, disse que a revisão dos contratos de obras com o poder público não tem acompanhado a velocidade das altas. “Dessa forma, há perdas para o setor da construção e muitas obras podem ficar comprometidas. Se a coisa continuar assim, haverá muito desemprego no setor que mais emprega no país”.