Governo Marco Antônio desagrada base e governistas sobem tom na Câmara
Vetão manifestou indignação com resposta dada por secretário convidado à Casa; a insatisfação repercutiu

Um conjunto de mal-estar provocou uma nova crise na relação entre o governo do prefeito Marco Antônio Lage (PSB) e sua própria base na Câmara de Vereadores. Nessa terça-feira, 25, os parlamentares voltaram a falar sobre a dificuldade em estabelecer um diálogo com o secretariado do socialista. Durante a palavra aberta, o presidente da Casa, Weverton “Vetão” (PSB), desabafou e os colegas engrossaram o caldo. “Os poderes são harmônicos, mas independentes entre si”, cravou o dirigente, citando a Constituição Federal.
O desagrado de Vetão surgiu de um convite feito por ele ao secretário de Obras de Itabira, José Maciel Duarte de Paiva, para participar do debate público e pontuar ações da pasta. “O secretário simplesmente não atendeu ao convite da Câmara e ainda disse, através de mensagem, que se o vereador quisesse ele teria que ir até a secretaria [de Obras]”, contou Vetão, que classificou o episódio como um “desrespeito” ao Legislativo.
O presidente da Câmara insistiu em um diálogo mais efetivo com a Prefeitura. “A Câmara é importante não só para votar projetos. Somos nós quem ficamos na ponta recebendo as demandas das comunidades. E, muitas vezes, têm secretários que nem da cadeira saem para conhecer a realidade da população”, disparou.
Vetão prosseguiu no desabafo. “Todo vereador que solicitar uma reunião, o mínimo que o secretário – que ganha mais que um vereador e não passou pela urna, pelo voto – pode fazer é respeitar o vereador e vir participar do encontro”.
Rodrigo “Diguerê” (PTB) sugeriu a convocação regimental de José Maciel, por meio da inclusão e votação de um requerimento que tornaria obrigatória a presença do secretário na Casa. “Estou estarrecido com o que o senhor está dizendo [negativa do secretário em ir à Câmara]. Já estive na posição do senhor e quero parabenizá-lo por, mesmo sendo da base do prefeito, estar colocando em prática o que defendia antes de se tornar presidente”, disse o petebista.
Apesar da sugestão de Diguerê, Vetão manteve o convite para que o representante do governo vá à Casa de forma espontânea e remeteu o chamamento ao líder do governo, Júber Madeira (PSDB).
Burocracia
Críticas vieram de outros vereadores, como Reinaldo Lacerda (PSDB). O primeiro secretário da mesa diretora teria solicitado a presença de um superintendente da Secretaria de Obras para avaliar a possibilidade de uma passagem elevada demandada por sua base eleitoral. A resposta recebida foi burocrática: protocolar o pedido, aguardar tramitação e análise. “Se o secretário entender o vereador como a voz do povo, ele, com certeza, fará um trabalho melhor”.
Para encerrar o assunto, Júber Madeira manifestou apoio aos colegas. Disse que na posição de líder do governo não permitirá “desrespeito ou pouco caso” de qualquer representante do Executivo. Ele se comprometeu, também, a passar o recado ao gabinete. “É importantíssimo que haja esse respeito, que haja um alinhamento, mas, sobretudo, o entendimento de nossa importância nos anseios apresentados pela comunidade”.
Veto
Outra estranheza veio de um veto integral de Marco Antônio Lage a um projeto de lei apresentado por Bernardo Rosa (Avante), vice-líder do governo e presidente da 52ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Itabira). Em 23 de março, o plenário aprovou, por unanimidade, projeto do vereador que cria um “espaço de lazer” no município. A proposta de Bernardo é fechar, aos domingos e feriados, o Espaço Multiuso Etelvino Avelar, onde funciona a feira livre, para atividades esportivas, de lazer, cultura e entretenimento.
O projeto seguiu para sanção do prefeito, mas foi vetado integralmente. Em ofício encaminhado à Câmara, o governo justificou a rejeição da proposta por ela estar em conflito com o planejamento da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Juventude, que prepara o lançamento do programa “Se essa rua fosse minha”. A iniciativa pretende fechar ruas de bairros em momentos pré-programados para atividades diversas, em parceria com as associações de moradores.
Bernardo Rosa comentou o veto durante a palavra aberta. “Os poderes são independentes, mas, muitas vezes, não harmônicos. Eu quero deixar bem claro que quando propusemos a criação do espaço de lazer foi para a integração da comunidade. Espero que a secretária de Esportes e Lazer [Natália Lacerda] possa efetivamente fazer o projeto que ela mencionou nas razões do veto. A gente respeita, mas não concorda”, opinou.
Segundo ele, o veto será avaliado por sua equipe.