E, então, seguimos devassando as devastadas vias itabiranas à procura não apenas de culpados pela derrocada que se desenrolou e acabou de vez com a terra do Poeta Maior, mas também vendo as caras dos descarados que participaram do holocausto. E recebendo notícias regionais, dos que viviam de clínicas médicas, odontológicas, das universidades, faculdades, escolas secundárias existentes nos velhos tempos.
Estamos nas beiradas de 15 lagoas, nas quais a mineradora fez de Itabira uma quase ilha, com concentração de garimpeiros, transformando Itabira em outra Serra Pelada, para inescrupulosos investidores tornarem-se animados pelos fins que os tornavam jubilosos. O dinheiro e o ouro saltavam de mão em mão ao lado da desordem e do crime.
Pressionando pelo poder político, a exportadora de riquezas trouxe para Itabira equipes e mais equipes, em convênio, sempre assim, enchendo os hotéis da cidade de pesquisadores. Supõe-se que ao invés de pesquisar, eles trouxeram na sacola casais de Culex Pipiens Fatigans que, segundo os entendidos, é o próprio e conhecido Pernilongo.
Os humanos residentes nos bairros Bela Vista, São Pedro e Eldorado, além do Berra Lobo e parte do Campestre, serviram de sparring para treinamento geral de mosquitos que acabaram tornando-se os poderosos Aedes aegyti. Esses dizimaram parte da população por meio da Zica, Dengue e Chikungunya.
A pesada pena a Itabira continua. Vamos enumerar as consequências ainda em andamento: a Loira do Parente, que azucrinou a vida de itabiranos na década de 1960, voltou à cena do pavor. Estaria ela rondando o Cemitério do Cruzeiro? O mesmo rapaz que dançou com ela na pista do Parente (este não mais existe) conferiu que a sepultura está com algumas iniciais ilegíveis, ora fechada, ora aberta, exalando perfumes femininos fortes e revezando o desagradável com o permissível.
Trêmulo de medo de seu reaparecimento, até porque ele já é casado, a Loira muito bonita, pode atrapalhar a união. Temos uma entrevista marcada com o moço, mas corremos o risco de não ocorrer porque estamos usando um computador emprestado, não temos sequer celular e gravador.
O calendário do vizinho marca dezembro de 2040. Ano difícil de passar. Mas, mal, mal, fala-se em Loira do Parente, chega a vez do Capeta Geral que derrubou as torres da velha Catedral e ainda matou um prefeito.
O País inteiro comenta que o Capeta escolheu Itabira para viver. Zé Lopão, que viu tudo acontecer da janela de seu casarão colonial, garantiu que tal tragédia só pode ser iniciativa de Satanás. Assusta os fiéis nas suas missas em latim. Renato Sampaio, escritor, poeta, pianista, economista, é testemunha da última celebração. Até escreveu um livro dedicado ao evento.
O pior de tudo é que Belzebu tornou-se, segundo os religiosos, dominador de Itabira. Por quê? Pergunta um repórter curioso daqueles velhos tempos. É o seguinte: a empresa mineradora derramou bilhões de reais em Itabira e nós só sapecamos as notas com superficialidades. Nada de indústria, nada de fonte de receita produtiva, gestão do fracasso.
Os gregos, na mais tenra época de início da civilidade, inventaram a democracia que, hoje só existe da boca para fora. Mas para amenizar o fracasso do aparecimento de sofistas, apelaram para os deuses, que souberam tapear por bom tempo. Eram eles, entre tantos os mais populares: Hera, Poseidon, Deméter, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes Dionísio, Zeus.
Para imitá-los, já no apagar das luzes, as paisagens degradadas e cinzentas só inspiram uma fraude política inédita. Para alguns visionários só resta pegar na bíblia ou apegar-se a esta quadra de Nostradamus:
“Após algum tempo, tudo se acomodará.
Aguardamos um século bem sinistro.
O estado das marcas e dos selos mudará muito
e poucos ficarão contentes com a sua condição”
* CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA.
José Sana é jornalista, historiador, professor de Letras e ex-vereador em Itabira por dois mandatos, onde reside desde 1966.
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