Março de 2021: Itabira tem o mês mais mortal dos últimos sete anos
A exemplo de outras cidades e estados, o município indica evolução do excesso de mortalidade. O levantamento considera os óbitos informados pelos cartórios locais em plataforma nacional
Desde 2015, nunca morreram tantas pessoas em Itabira em um só mês como em março de 2021. No mês passado, 135 óbitos por causas gerais foram registrados nos cartórios da cidade. Para se ter uma ideia, de sete anos para cá, em nenhuma outra circunstância os números passaram de dois dígitos.
O levantamento foi feito pela reportagem a partir dos dados fornecidos pelo Portal da Transparência, publicado e mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). A veracidade das informações é confirmada pelo Ofício do Registro Civil das Pessoas Naturais e de Interdições e Tutelas de Itabira. Segundo a seção local, os dados são atualizados diariamente na plataforma.
Na comparação com o mesmo período de 2020, março deste ano registrou aumento de 95,65% no número de óbitos em Itabira (foram 69 mortes lavradas nos cartórios em março do ano passado, contra as atuais 135).
Ocorre que março de 2020 já chamava a atenção quando observadas as mortes ocorridas naquele mesmo mês, ano após ano: 63 (2015), 57 (2016), 58 (2017), 47 (2018), 57 (2019) e 69 (2020).
A priori, o ano de 2015 é tomado como ponto de partida porque é quando começa a série histórica do Portal da Transparência.
Recorte trimestral
Comparando o primeiro trimestre de 2021 com os primeiros três meses do ano passado, as mortes aumentaram 63,74% neste ano (280 no 1T21, contra 171 no 1T20). De forma estratificada, foram 79 (janeiro), 66 (fevereiro) e 135 (março) mortes em 2021, comparadas a 54 (janeiro), 48 (fevereiro) e 69 (março) óbitos registrados em 2020.
Entre 2015 e 2020, morreram mais itabiranos no ano de 2016: 853 pessoas. A propósito, em 2020, ano em que começa a trajetória de enfrentamento à Covid-19, Itabira teve total de 694 mortes por causas gerais.
Também no espaço de tempo 2015-2020, o mês com o maior número de óbitos na cidade foi julho de 2017 (89 registros).
Com variação mensal tão grande, se os números dos próximos meses repetirem a fórmula de março, Itabira terá o provável ano mais mortal de sua história recente. Até às 15 horas desta terça-feira (6), este mês de abril já conta com 13 óbitos informados ao Portal da Transparência da Arpen.
Alerta
O Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) publicou o Painel de análise do excesso de mortalidade por causas naturais no Brasil em 2020 em sua página na internet. Na postagem, a entidade alerta que a infecção por Sars-CoV-2 não é necessariamente a causa direta do excesso de mortalidade.
“O número de óbitos superior ao que era esperado para o período pode também ser reflexo indireto da epidemia”, escreve o Conselho. Segundo é explicado, há mortes provocadas, por exemplo, pela sobrecarga nos serviços de saúde, pela interrupção de tratamento de doenças crônicas ou pela resistência de pacientes em buscar assistência à saúde, pelo medo de se infectar pelo novo coronavírus.
Registros específicos de Covid-19
O Portal da Transparência da Arpen mantém o “Especial Covid-19” com a atualização permanente do número de óbitos associados à doença. No entanto, percebe-se um desafio: os óbitos são registrados nessa classificação em decorrência de doenças respiratórias e cardíacas, por vezes relacionadas à Covid-19.
No caso de Itabira, a plataforma monitora, por meio de gráfico, os óbitos relacionados à pandemia a partir de julho de 2020. Com 141 casos até a publicação desta matéria, o dado diverge, por condições diversas, do boletim epidemiológico divulgado diariamente pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que até segunda-feira (5) notificou 221 óbitos pelo novo coronavírus.
A Arpen, inclusive, ressalta que os prazos legais para a realização do registro e para seu posterior envio à Central de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), podem fazer com que os números sejam ainda maiores. Isto por que a Lei Federal 6.015/73 prevê um prazo para registro de até 24 horas do falecimento, podendo ser expandido para até 15 dias em alguns casos.
Em tempo
O primeiro caso positivo de Covid-19 em Itabira foi confirmado em 25 de março de 2020. À época, a SMS informou que o paciente esteve em viagem internacional, passou por aeroportos distintos e, ao chegar em Itabira, foi atendido em unidade de saúde com febre e dor no corpo.
Já a primeira morte em Itabira aconteceu no dia 6 de abril, no bairro Praia. A vítima foi um jovem, de 24 anos, com histórico de comorbidades.