Nem tudo que reluz é ouro
Antes de fazer um investimento no mercado de capitais consulte o site da C.V.M.
A queda da taxa básica de juros, a SELIC, para o menor patamar da história, 2% a.a., tem provocado mudanças significativas no perfil do investidor brasileiro que se limitava basicamente a investir na caderneta de poupança, títulos públicos ou títulos privados com remuneração indexada ao CDI (certificado de depósito interbancário).
Nesse nível de taxa com a inflação projetada em 3,2% para o final desse ano, o ganho financeiro indexado à SELIC ou ao CDI passa a ser negativo. Enquanto a taxa Selic estiver abaixo de 8,5% a.a., a remuneração da poupança será de 70% da Selic, ou seja, nas condições atuais de temperatura e pressão a remuneração da poupança está em 1,4% + TR (taxa referencial) que é próxima de zero.
Resumo da ópera, a poupança está perdendo para a inflação e o dinheiro aplicado neste tipo de investimento não está sendo nem corrigido pela inflação. E é por isso que o investidor tem procurado outras alternativas de investimento e dentre elas, o mercado de capitais, com a compra de debêntures (títulos corporativos de dívida) que pagam IPCA (inflação) + uma taxa de juros, e de ações tanto em abertura de capital de uma empresa ou compra no mercado secundário da B3, a bolsa brasileira.
Durante décadas o Brasil foi o país dos juros altos e o paraíso das aplicações financeiras e por isso o mercado de capitais que financia o crescimento das empresas era um patinho feio… Não havia ambiente para o crescimento do setor produtivo que era engolido e sufocado pelo juro alto e assim o investimento em ações era feito por uma pequena parcela de investidores.
Desde meados do século passado e até 2016, o número de CPFs com cadastro na antiga BOVESPA que é a atual B3, girava em torno de 500 mil e, desde o início do governo Temer, em 2016, com a estabilidade da moeda e a consequente redução dos juros, o número de investidores vem crescendo e agora com a SELIC a 2% tem disparado, e, já são mais de três milhões de CPFs. O volume diário negociado também foi turbinado saltando de uma média de R$12 bilhões/dia para cerca de R$30 bilhões/dia.
Mas porque eu estou falando tudo isso? Porque o nível de conhecimento sobre o mercado de capitais e de educação financeira do brasileiro em geral, é muito limitado e aí existe a brecha para o aparecimento de aproveitadores e é sobre isso que nós vamos falar agora.
As redes sociais têm o poder de escalar, de multiplicar influenciadores digitais e suas informações que nem sempre poderiam ser divulgadas e muito menos poderiam ser usadas para o fechamento de negócios no mercado de capitais.
O xerife do nosso mercado de capitais tem nome e site www.cvm.gov.br, antes de fechar qualquer negócio no mercado de capitais cheque o site da CVM e confira se a parte ou as partes envolvidas no negócio são regulados pela Comissão de Valores Mobiliários. Na página principal, do lado esquerdo, vocês vão encontrar a aba, Cadastro Geral de Regulados, e aí é só consultar através do nome, do CNPJ e do CPF.
Todas as Companhias (S.A. de capital aberto), ofertas públicas de ações e de debêntures, Programas de BDR (ações de empresas estrangeiras que negociam na B3), Fundos de Investimento, Clubes de investimento, Administradores de Carteira, Agentes Autônomos de Investimento, Analistas de Valores Mobiliários, Auditores Independentes, Corretoras, Distribuidoras, Cooperativas de Crédito, Consultores de Valores Mobiliários, Agências Classificadoras de Risco e Plataformas Eletrônicas de Investimento Participativo (Crowdfunding) estão todos lá, regulados e fiscalizados. Outro site útil para verificação é o da própria bolsa, B3, que informa todos os ativos que são negociados na sua plataforma e todas as instituições que operam nesse ambiente.
Na semana passada, o UOL noticiou que um economista e digital influencer, Vinícius Ibraim, que prometia rentabilizar o dinheiro de seus investidores entre 2% a.m. e 10% a.m., poderia ter dado um prejuízo de até R$30 milhões em mais de 200 pessoas que depositavam os seus recursos na conta do próprio Vinícius.
A defesa de Vinícius Ibraim confirmou para o UOL que o trader financeiro realizou uma operação mal sucedida na B3 que resultou na perda, mas nega que o influencer tenha dado um golpe. Consultada, a B3 informou que Ibraim estava impedido de operar desde outubro de 2020. Quem tem alguns cabelos brancos na cabeça deve lembrar do golpe da criação de avestruzes.
O Avestruz Master foi um golpe que assim como Vinícius, prometia rentabilidade de 10% a.m. e depois de um tempo de 18%a.m. para quem investisse em compra e venda de avestruzes. O golpe se iniciou em 1998 e durou até 2005 quando a pirâmide começou a cair deixando prejuízo de mais de R$1 bilhão para cerca de 55 mil investidores em todo o país.
De volta ao começo, nem tudo que reluz é ouro. Antes de fazer um investimento no mercado de capitais consulte o site da C.V.M.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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