Uma quadrilha com cerca de 30 integrantes fortemente armados invadiu o município de Guarapuava, no interior do Paraná, fez reféns e trocou tiros com a Polícia Militar, durante ataque a uma empresa de valores, entre a noite de domingo (17) e a madrugada desta segunda-feira (18). Três pessoas, entre elas dois policiais militares, ficaram feridas. Os criminosos incendiaram veículos para bloquear acessos e atacaram o Batalhão da PM. Os reféns foram obrigados a formar um cordão humano em frente à empresa de valores.
A ação começou por volta de 23h e terminou no início da madrugada desta segunda. A cidade, de 183 mil habitantes, foi acordada por tiros e rajadas de fuzil. Nas redes sociais, moradores relatam uma “noite de terror” com barulho de tiros, incêndio em veículos e reféns. O movimento de quadrilhas especializadas em megarroubos em cidades do interior tem sido chamado de “novo cangaço”.
As “vitimas” da sociedade aterrorizando Guarapuava/PR.
Que Deus proteja os moradores e policiais.????? pic.twitter.com/QTcORmWFty— Euzinhadenovo (@belaquidenovo) April 18, 2022
Os criminosos invadiram a região central em ao menos sete carros blindados e se dividiram. Enquanto um grupo atacava a Proforte, empresa de transporte de valores, outro atirava contra o batalhão. Dois veículos foram incendiados em frente à unidade para dificultar a saída dos policiais. Outros dois veículos foram queimados na Rodovia BR-277, que dá acesso à cidade, segundo o Corpo de Bombeiros.
Moradores que estavam nas ruas foram tomados como reféns. Um grupo deles foi obrigado a formar um cordão humano para coibir a ação da polícia. Além dos dois policiais feridos, um morador foi atingido por um tiro no braço. Ele foi atendido em uma unidade de saúde municipal. Moradores relataram que os bandidos atiraram contra postes e transformadores de energia para deixar a cidade às escuras.
Conforme o comandante do 16º Batalhão, coronel Joas Marcos Carneiro Lins, a ação durou cerca de três horas e o alvo era a empresa Proforte, que não chegou a ser roubada. Segundo ele, os criminosos fugiram sem conseguir executar o assalto que tinham planejado. “Já tínhamos um plano de contingência, devido aos fatos que estavam ocorrendo em várias regiões do Estado. Assim que o ataque foi iniciado, conseguimos bloquear os acessos para as rodovias e eles fugiram para a área rural, onde ainda estão sendo procurados”, disse.
Tiroteio Em Guarapuava, Tão tentando invadir alguma base da pm pic.twitter.com/I4AHNDJqJF
— Darcker (@DarckerPunheta) April 18, 2022
O coronel afirma que houve dois confrontos com os criminosos em fuga e alguns deles podem ter sido feridos. Às 8h45, o cerco aos assaltantes continuava nas áreas rurais, com apoio da PM de cidades vizinhas. Viaturas do Exército também circulavam pela região, mas não havia informações sobre a prisão de suspeitos. Ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres afirmou ter enviado agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal para dar apoio à cidade.
Blindado saindo do 26° de Guarapuava pic.twitter.com/5vNNOIptfi
— JADOSKI (@ArthurJadoski) April 18, 2022
A atriz Larissa Manoela, nascida no município paranaense, se manifestou nas redes sociais. “Meu Deus, meu coração apertado pela minha cidade Guarapuava. Eu tô com vocês. Família, amigos. Se protejam!”, escreveu.
Meu Deus, meu coração apertado pela minha cidade Guarapuava. Eu tô com vocês ❤️ Família, amigos. Se protejam!
— LARISSA MANOELA ? (@larimanoela) April 18, 2022
“Novo cangaço”
O episódio tem sido comparado ao grande assalto a um banco de Criciúma, em Santa Catarina, quando cerca de 30 homens com fuzis bloquearam as ruas da cidade, fizeram reféns, incendiaram veículos e roubaram R$ 125 milhões. Esse crime ocorreu em novembro de 2020.
Já em agosto do ano passado, um ataque a bancos em Araçatuba, no interior paulista, teve reféns amarrados em carros – usados pelos bandidos como “escudos humanos”. A ação terminou com três mortos.
A ação de quadrilhas especializadas em grandes assaltos é conhecida nos meios policiais como “novo cangaço“. O termo faz referência aos bandos itinerantes que atacavam quartéis e roubavam instituições financeiras em pequenas cidades do sertão nordestino, entre os séculos 19 e 20.
Nos últimos dez anos, as quadrilhas têm se notabilizado por usar grande poder de fogo, com armas de uso restrito, para amedrontar cidades inteiras. Os alvos com frequência são agências bancárias ou transportadoras de valores, o que possibilita acesso a grandes quantias de dinheiro. Os grupos se aproveitam de uma estrutura policial reduzida em cidades do interior para a realização dos grandes assaltos.
A recorrência dos crimes tem gerado reação por parte dos governos. Em São Paulo, foram instalados batalhões especializados em pontos do interior com objetivo de fazer frente ao poder de fogo dos criminosos além de tornar mais ágil a resposta a essas ocorrências. Ainda assim, os casos não deixaram de acontecer. Investigações recentes apontam ligação entre as quadrilhas e o frequente envolvimento de facções organizadas.