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O Brasil na encruzilhada após posicionamento sobre a Ucrânia

O Brasil na encruzilhada após posicionamento sobre a Ucrânia

Bombardeios russos em Kiev, capital da Ucrânia - Foto: Reprodução/Twitter

Os professores Lourdes Sola e Eduardo Vila, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), em matéria publicada no domingo (28), no jornal Estado de São Paulo, são unânimes ao afirmar que o posicionamento do Brasil em relação ao conflito na Ucrânia merece profunda reflexão.

Destacam, os professores, que houve uma mudança na geopolítica mundial que exige um reposicionamento cuidadoso do Brasil e que isso parece não ter sido devidamente avaliado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja diplomacia presidencial comandada pelo chanceler Celso Amorim, do Itamaraty, tenha condições de fazê-lo com maior competência.

Eles destacam que “a invasão da Ucrânia pela Rússia consolidou um forte componente de guerra fria entre as democracias coletivas do ocidente (que inclui Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Austrália e Nova Zelândia) e o bloco autocrático (com Rússia, China, Irã e Coreia do Norte). É um confronto que vem desde 2015, mas o traço que delineia a guerra fria é mais recente, onde cada bloco vê o outro com olhos de ameaça existencial. Está em curso o desacoplamento entre os blocos no tocante à alta tecnologia e, particularmente, à tecnologia de uso dual, civil e militar”.

Para o jornal Estado de São Paulo, a “nova guerra fria” é uma equivalência estratégico-militar, com um notório desequilíbrio estratégico-militar entre os países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o eixo China, Coreia, Rússia e Irã.

O confronto entre a Rússia e a Ucrânia levou a um ponto de inflexão sobre a construção de um mundo multipolar, com a emergência da China como potência econômica.

O conflito se tornou uma “guerra de procuração” entre a Otan e Putin e reativou o complexo militar dos Estados Unidos e outros países ocidentais, o que provocará a expansão da capacidade militar chinesa, que já vinha ocorrendo com a militarização dos países asiáticos.

O Estado de São Paulo comenta sobre um livro de Henry Kissinger que diz que a disputa pelo controle do comércio no Atlântico, entre uma potência ocidental, a Alemanha, e uma potência marítima, a Inglaterra, no século passado, levou a duas guerras mundiais, quando então, o eixo do comércio mundial se deslocou para o Pacífico. Agora, a potência continental é a China e a potência marítima, os Estados Unidos.

Kissinger tinha receio de que esse posicionamento pudesse provocar uma nova guerra fria e consequentemente, uma catástrofe nuclear. É o que acontece agora.

Os professores da USP destacam as diferenças cruciais em relação à guerra fria do pós-Segunda Guerra Mundial: hoje, a alta interdependência econômica entre os dois blocos, embora menor entre o Ocidente e a Rússia desde a invasão.

A China é um superpotência econômica, ao contrário da União Soviética; os desafios globais como mudança climática, pandemias e regulação da inteligência artificial exigem muita cooperação internacional.

Sola e Vila criticam a prioridade dada por Lula à mediação de paz entre a Rússia e a Ucrânia: “o Brasil não em excedente de poder mediar numa região que conhece pouco e com a qual tem vínculos limitados”.

Para eles, o Brasil teria muito mais protagonismo nas políticas climáticas e de transição energética. O nacional-desenvolvimentismo e a tradição anti-imperialista da esquerda brasileira, subliminarmente, influenciam a política externa do governo.

Isso já é perceptível e provoca o realinhamento de forças sociais e políticas que priorizam a questão democrática na relação com o governo.

Opuseram-se ao Bolsonaro; agora, pelas mesmas razões, se distanciam de Lula, o que debilita o seu governo. O Brasil é um país do ocidente.

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