“O itabirano entendeu minha decisão de não sair para prefeito”, diz Mucida

Dentre outros assuntos, Bernardo Mucida explica porque abriu mão de ser chefe do Executivo de Itabira, pelo menos nesse momento

“O itabirano entendeu minha decisão de não sair para prefeito”, diz Mucida
Foto: Bruno Rodrigues/DeFato
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Bernardo Mucida Oliveira (PSB) assume uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no início do mês que vem. O político itabirano — que era primeiro suplente — ocupará a vaga da ex-deputada Marília Campos (PT), que se elegeu prefeita de Contagem. No ano passado, o futuro parlamentar chegou a lançar sua candidatura a prefeito de Itabira. Mas, em meio a muita polêmica, recuou e decidiu apoiar o jornalista Marco Antônio Lage (PSB). Na entrevista a seguir, dentre outros assuntos, Bernardo explica porque abriu mão de ser chefe do Executivo de Itabira, pelo menos nesse momento.

No início de sua carreira política, o senhor era filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Durante certo tempo, até foi uma aposta para o retorno do PT ao protagonismo no cenário político itabirano. Por que o senhor abriu mão do projeto político petista?

Bernardo Mucida: Eu me filiei ao Partido dos Trabalhadores no ano de 2007. Concorri uma eleição para vereador e disputei as eleições de deputado federal, em 2010, pelo PT. Depois desse pleito, percebi que os rumos do partido não estavam de acordo com as nossas propostas. Então, fui para o PSB, em 2011, onde me encontro até hoje. Fui eleito vereador pelo PSB, candidato a prefeito, em 2016, e a deputado estadual, em 2018. Em suma, disputei minhas três últimas eleições pelo PSB.

O senhor foi filiado ao PT e depois se transferiu para o PSB. Hoje, a questão ideológica é um debate bastante acirrado no cenário nacional. O senhor se define como um político de esquerda?

Bernardo Mucida: Eu me defino como um político de centro-esquerda. O PSB é um partido de tradição, com muitos anos na história política brasileira. Uma agremiação partidária, que surgiu na década de 40 e, depois, durante a ditadura militar, foi extinto. Mas, é um Partido que defende políticas públicas para acabar com desigualdades sociais.

O senhor tem um perfil nitidamente oposicionista. Tem muita dificuldade em se posicionar num campo situacionista. Elegeu-se vereador no grupo de sustentação do prefeito Damon de Sena, mas em pouco tempo, se transformou num crítico ferrenho do governo pevista. Caso fosse vereador, hoje, até quando conseguiria apoiar o prefeito Marco Antônio Lage? Qual seria o prazo de validade dessa parceria política?

Bernardo Mucida: Em primeiro lugar, eu sempre me caracterizei pela independência de minhas ações e pensamentos. Então, quando apoiei Damon, achei que ocorreriam as mudanças que se faziam necessárias na administração pública. Contudo, quando começou o governo, o prefeito direcionou essas ações para onde não imaginávamos. Eu estive no gabinete dele (Damon), duas ou três vezes, para fazer ponderações. Alertei, e mostrei que as decisões estavam fora do planejado. Estavam fora daquilo que foi discutido, durante a campanha. Então, quando percebi que ele seguiria esse caminho adverso, não me restou outra alternativa, fui para a oposição. A partir daí, durante cerca de três anos, assumi uma postura de cobrança, fiscalização e acompanhamento do serviço público. Mas se eu fosse vereador, hoje, apoiaria Marco Antônio Lage, diante do projeto que ele apresentou para a população. Obviamente que, se em algum momento, eu entendesse que esse projeto não estivesse sendo cumprido, eu não teria nenhuma dificuldade em me posicionar. Acho que a independência do parlamentar é um valor muito importante.

O senhor tinha possibilidade muito grande de se eleger prefeito nas últimas eleições. No entanto, preferiu trocar quatro por dois. Ou seja, um mandato de quatro anos de prefeito por outro de dois anos como deputado. Qual a explicação para esse redirecionamento?

Bernardo Mucida: A minha decisão partiu de um projeto de sustentabilidade para a cidade. O entendimento de que, se nós não tivermos um conjunto de forças políticas alinhadas com esse propósito, Itabira dificilmente conseguirá fazer a mudança do perfil de sua economia, num prazo que a gente estabeleceu. Então, nós temos oito anos para transformar o perfil da economia de Itabira, para que o nosso município não seja exclusivamente dependente da mineração. Nós sabíamos que a única alternativa que a nossa cidade (e região) tinha para fazer um deputado, pelos próximos dois anos, seria com o meu nome, já que a deputada Marília Campos, de quem sou suplente, dificilmente perderia a eleição para prefeito, em Contagem. Então, acho que com a nossa escolha, Itabira ganhou um prefeito e um deputado. Se eu me candidatasse prefeito, Itabira perderia um deputado.

O senhor se lançou candidato a prefeito, mas, depois, abriu mão dessa pretensão. A sua desistência repercutiu muito mal em meio ao seu eleitorado. O senhor não perdeu um grande capital eleitoral com essa decisão?

Bernardo Mucida: Eu acho que o meu eleitorado compreendeu essa decisão, tanto que votou no candidato a prefeito do nosso partido. Marco Antônio teve 33 mil votos e, obviamente, era um eleitorado que desejava mudança e compactuava com as ideias que a gente apresentou. Num primeiro momento, as pessoas até podem não ter entendido a minha decisão, mas à medida que o processo político avançou, que a gente teve a oportunidade de conversar com cada um, a população abraçou a nossa ideia, que era Itabira ter um perfeito trabalhando em sintonia com um deputado da cidade.

Muito antes da configuração político/ideológica atual do país, o senhor já apresentava um discurso de repúdio à velha política itabirana. Caso mantivesse a sua candidatura a prefeito, o senhor aceitaria o apoio, por exemplo, do ex-prefeito João Izael?

Bernardo Mucida: O ex-prefeito João Izael é uma liderança reconhecida em toda a cidade. Eu tenho uma relação muito tranquila com João. Agora, eu reafirmo que existe, a princípio, a construção de um projeto e, se o ex-prefeito estiver alinhado com esse projeto, que é uma ideia de mudança na administração pública, uma busca de alternativa econômica à Vale, estaremos juntos. Então, não há aí uma questão pessoal, mas o alinhamento a um projeto político de muita importância para Itabira.

Mas percebe-se que o senhor teve uma mudança de postura, já que não é tão radical no discurso de não se aliar à velha política de Itabira, notadamente com o chamado “Grupão” …

Bernardo Mucida: Eu entendo que a questão não é nova ou velha política. Esse é um termo muito usado recentemente, mas não traduz a realidade, porque o que existe é uma diferença entre a política boa e a política para atender interesses particulares. Eu acredito que todas as forças políticas devem somar esforços e defender uma mesma bandeira. Eu não posso brigar com um senador, deputado federal ou outro deputado estadual, que estejam dispostos a lutar pelas nossa bandeira, que é a superação dessa dependência econômica da mineração.

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