O Preço da Recessão

Confira a nova coluna da economista Rita Mundim

O Preço da Recessão

O mercado financeiro global precificou em junho a possibilidade de recessão, nos Estados Unidos, maior economia do planeta, com consequências contracionistas da atividade econômica em todo o mundo. Foi divulgada na quinta-feira, a leitura final do PIB do primeiro trimestre e a retração foi de -1,6%, acima da expectativa do mercado e da leitura preliminar de -1,4%.

Nesse mesmo dia, na cidade de Sintra, em Portugal, se reuniram os 3 mais poderosos presidentes de bancos centrais para tratar do assunto que tira o sono das famílias, das empresas e dos governos: combate à inflação. Jerome Powell, presidente do Banco Central Americano, Christine Lagard, presidente do Banco Central Europeu e Andrew Bailey, presidente do Banco da Inglaterra reafirmaram o compromisso de debelar a inflação e de agir de forma vigorosa. Para qualquer Banco Central, a receita de atacar a inflação de forma vigorosa tem um único significado: arrocho monetário ou, em outras palavras, alta forte de juros com desaceleração da atividade econômica.

A combinação de uma retração mais forte na economia americana com a promessa de ação vigorosa dos bancos centrais, inclusive o dos EUA, provocou uma forte aversão ao risco que foi precificada com queda nas bolsas e alta no dólar e nos juros futuros.

A bolsa brasileira caiu -11,5% no mês e teve o pior desempenho para um mês de junho desde 2002 (-13,39%), e, o mês de mais perdas desde março de 2020, início da pandemia do Covid-19, quando o Ibovespa perdeu -29,9%. O Ibovespa abandonou e se afastou dos 100.000 pontos no último dia do mês, fechando a 98541 pontos. O medo da recessão fez o investidor correr para o dólar que fechou a R$5,23 com uma alta de 10,15% no mês, a maior desde março de 2020.

No primeiro trimestre de 2022, em dólar, o Ibovespa estava em 25.200,56 pontos, e, fechou o segundo trimestre em 18.824,39 pontos. Os juros futuros subiram em bloco, em torno de 0,5 ponto percentual e o próprio Banco Central no RTI, Relatório Trimestral de Inflação, subiu a taxa de juros neutra (aquela que permite o crescimento da economia real sem causar inflação) de 3,5%a.a. para 4%a.a.

Nesse mesmo relatório, a autoridade monetária alerta sobre o nível de incertezas globais e sobre o comportamento dos gastos públicos como fatores dificultadores para o controle e previsão da inflação futura. O Banco Central projeta um crescimento de 1,7% para o PIB em 2022.

O documento foi elaborado até o dia 10 de junho quando ainda não havia a negociação para a PEC dos Combustíveis que pode reduzir em até 2 pontos a inflação deste ano que foi projetada, no documento, em 8,8%a.a., mas que pode pressionar a inflação de 2023 em razão do aumento dos gastos públicos. A inflação para 2023 foi projetada em 4,00%a.a. , mas deverá ser revisada para cima com o gasto previsto de R$41,25 bilhões acima do teto.

A aversão ao risco foi ainda maior no cenário internacional, o risco de recessão nos EUA e no planeta começa a ficar cada vez mais provável em vários modelos e simulações feitas nos departamentos de análise de grandes bancos. O próprio Banco Central americano criou um novo indicador para medir riscos de calote de dívidas corporativas, e, a primeira leitura apontou tensões crescentes nesse mercado.

A Rússia deu o primeiro calote desde 1998 e deixou de honrar o pagamento de mais de US$100 milhões de juros junto aos seus credores. A regional de Atlanta do Banco Central Americano estimou na quinta-feira que o PIB do país, do segundo trimestre, pode encolher -1,0% o que colocaria os Estado Unidos já em recessão. Na zona do Euro, a Alemanha, maior economia do bloco também pode entrar em recessão.

As bolsas americanas derreteram no primeiro semestre com o S&P 500 acumulando a maior desvalorização no período dos últimos 52 anos, a queda foi de 20,58%. O Nasdaq 100 caiu 29,51% e o Dow Jones 15,31%, na primeira metade do ano.

O mercado brasileiro acompanhou a piora do sentimento do investidor global e pressionou dólar e juros, mas, ao contrário da média dos países mundiais, a nossa economia depois de crescer 1% no primeiro trimestre, dá sinais claros de resiliência e crescimento com os números da geração de empregos em maio divulgados pelo CAGED e pelo IBGE. Segundo o CAGED, foram gerados 277 mil empregos com carteira assinada e no acumulado do ano mais de 1 milhão, em todos os setores e em todas as unidades da federação.

De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego caiu de 10,2% no trimestre findo em abril para 9,8% no trimestre findo em maio, a menor desde 2015, com a população ocupada batendo recorde histórico e atingindo mais de 97,5 milhões de brasileiros.

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis.

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