“Patrocínio” de R$1 milhão ao Valério não é votado na Câmara; Heraldo também quer repasses para outras instituições

João Mário de Brito, presidente do VEC, disse não enxergar o “mínimo de ânimo” por parte de Heraldo Noronha para colocar o projeto em votação

“Patrocínio” de R$1 milhão ao Valério não é votado na Câmara; Heraldo também quer repasses para outras instituições
Foto: Guilherme Guerra/DeFato

Ficou para a próxima semana a votação do projeto de lei 25/2024, que busca autorizar o repasse de R$1 milhão em patrocínio ao Valeriodoce Esporte Clube, através da Prefeitura Municipal de Itabira. A expectativa era que o texto fosse colocado em votação na reunião ordinária da Câmara de Itabira realizada ontem (16), no entanto, o requerimento foi excluído da pauta oficial pelo presidente Heraldo Noronha (Republicanos). 

Ainda na reunião de ontem, Heraldo apresentou seis indicações ao prefeito Marco Antônio Lage (PSB), todas de repasses a outras instituições itabiranas. A intenção do presidente da Câmara é que as demais entidades também sejam contempladas com os investimentos municipais, não apenas o Valeriodoce. No total, as verbas totalizam R$2,4 milhões e seriam destinadas da seguinte forma:

  • R$200,000,00 para a Fazenda da Esperança
  • R$1 milhão para a construção de uma nova cozinha no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD)
  • R$500,000,00 para a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), Lar de Ozanam
  • R$100,000,00 para a Associação Oncoviva
  • R$300,000,00 para Delegacia Regional de Polícia Civil em Itabira
  • R$300,000,00 para o 26º Batalhão de Polícia Militar de Itabira

Na próxima semana, outros R$300,000 mil devem ser indicados por Heraldo Noronha à Prefeitura para que sejam destinados à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Itabira. “Dá para fazer todos esses investimentos. Manda para esta Casa que iremos votar!”, disse Heraldo ao fim da leitura das indicações. 

O vereador Rodrigo Diguerê (MDB) reforçou que é favorável ao projeto do repasse, mas destacou que “faltou muita articulação política” por parte do governo, em especial à ex-secretária de Esportes e Lazer, Natália Lacerda. Segundo o parlamentar, Natália “abandonou” os projetos da pasta quando foi assumir a chefia do gabinete do prefeito e “nunca esteve na Câmara” para tratar do assunto do repasse: “Acho que se ela vier, é perigoso acabar de atrapalhar esse projeto. Já deixo esse recado, para que se a condução for feita, que não seja por ela”, disse Diguerê. 

O vereador também se demonstrou totalmente favorável às emendas propostas por Heraldo, disse que a questão do VEC é urgente, mas relembrou “dissabores” sofridos por Heraldo – como o anúncio de repasses à Liga Itabirana de Futebol Amador (LIFA) e a Polícia Civil. Como solução ao impasse, Rodrigo Diguerê propôs que o Executivo apresente um projeto com todos os repasses às instituições e entidades. Assista: 

O vereador Bernardo Rosa (Avante) ressaltou que seria necessário verificar a legalidade dos poissíveis repasses. Segundo ele, é necessário um parecer jurídico para saber se há a possibilidade de vincular a devolução de duodécimos para determinadas instituições. Ele também lembrou aos colegas que, devido ao período eleitoral já iniciado, algumas situações estão proibidas pela Justiça, portanto, também seria necessário verificar a questão. Por fim, Bernardo também questionou se os vereadores podem indicar outras instituições e associações para receber verbas.

“É um desastre!”

Uma hora após a reunião da Câmara Municipal, aconteceu a entrega do novo espaço da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, na área do Ginásio Poliesportivo Maestro Silvério Faustino. O prefeito Marco Antônio Lage esteve presente na solenidade e em entrevista à DeFato, reagiu a não-votação do projeto de lei para o repasse do Valério. “É lamentável essa protelação. A gente espera que realmente, parte dos vereadores entendam, principalmente o presidente da Câmara, que o Valério não é do prefeito. O Valério é da cidade. E a partir do momento que a Câmara não aprovar esse projeto, vai cair sobre a imagem da Câmara e sobre as costas dos vereadores toda a responsabilidade pelo fracasso do Valério no campeonato”, disse Marco Antônio Lage.

Foto: Guilherme Guerra/DeFato

“É um desastre. É um desastre não só para o Valério, é um desastre para Itabira. E isso vai mostrar o retrato da nossa política Itabirana hoje. Não é uma política que olha para os projetos e discute se é bom ou se é ruim para a cidade. É uma política partidária, eleitoreira, e que, lamentavelmente, as decisões acontecem pensando nas eleições. A gente não pode fazer decisões políticas pensando na eleição. Tem que pensar na cidade. Eleição é uma consequência”, completou Marco Antônio.

Presidente e torcedores do Valério saíram da Câmara frustrados; Heraldo “fugiu” das cobranças

Antes do fim da reunião ordinária, João Mário de Brito ia saindo do plenário quando concedeu entrevista aos jornalistas presentes. Questionado pela DeFato sobre como ficaria a situação do clube após mais uma semana sem definição do repasse, o presidente não escondeu a sua insatisfação e disse não enxergar o “mínimo de ânimo” por parte de Heraldo Noronha para colocar o projeto em votação – ainda que a maioria dos vereadores já sinalizaram que irão dar votos positivos ao patrocínio. 

“Eu sei que esse acirramento político, essas divergências políticas, acabam atrapalhando uma grande instituição de Itabira. O Valério é um patrimônio de Itabira e não merece ficar no meio dessa troca de fogo, num embate político, onde o presidente da Câmara utiliza as divergências dele com o município para negar a inclusão do projeto de lei na pauta”, disse João Mário de Brito, completando que resta ao clube respeitar a situação – embora muito contrariado – e torcer para que na próxima semana o projeto entre em votação. 

“A gente sabe também que o Valério não pode ficar eternamente recorrendo a dinheiro público. O Valério tem que se tornar SAF, para que inclusive no futuro próximo ele possa realmente não depender de pessoas que têm um pensamento da forma que pensa hoje o presidente da Câmara”, finalizou João Mário. Foto: Guilherme Guerra/DeFato 

“Eu não acredito que o presidente da Câmara seja tão, tão, mas tão, mas tão antivaleriano para não pautar esse projeto de lei. O Heraldo [Noronha] não é tão ruim assim não. Eu sei que atrás disso aí tem um embate político, executivo e legislativo”, disse João Mário de Brito. 

Ao fim da reunião, torcedores que estavam na Câmara esbravejaram contra a decisão da não-inclusão do projeto de lei em votação. Irritados principalmente com Heraldo Noronha, eles correram até a frente do plenário para cobrar o vereador, que saiu rapidamente à sua sala e não voltou. Nesta quarta-feira (17), a Torcida Jovem do Valério – uma das organizadas do clube – publicou uma nota de repúdio em suas redes sociais. No texto, os torcedores chamam o presidente da Câmara de “coronel presidente” e afirmam que ele  teve atitudes arrogantes e desrespeitosas.

“O senhor não merece ser representante do povo. Pirracento, sem educação, falso moralista, acusa os outros de estar fazendo politicagem, mas o senhor está fazendo coisa pior: está jogando contra Itabira”, diz parte da nota.