Qualidade dos jogos pós-pausa diz muito sobre o perfil do torcedor brasileiro

Cobrança exagerada durante os jogos afeta diretamente o desempenho dos atletas

Qualidade dos jogos pós-pausa diz muito sobre o perfil do torcedor brasileiro
Foto: São Paulo Futebol Clube

Começou com um burburinho. Com o tempo, outras pessoas passaram a ter a mesma impressão. Agora, já virou uma discussão: o futebol jogado no país está mais vistoso após a volta dos campeonatos?

Com o questionamento atingindo seu ápice após o vexame do 7 a 1,o futebol nacional tem recebido várias críticas nos últimos anos. Jornalistas, torcedores… muita gente tem se mostrado insatisfeita com o que é feito dentro das quatro linhas nos principais estádios do país.

Mas as partidas pós-pausa, ou, pelo menos, a maioria delas, tem recebido elogios até de quem antes se mostrava cético quanto à evolução do nosso jogo. O São Paulo de Diniz, por exemplo, já protagonizou três jogos com quatro ou mais gols desde o dia 23 de julho. A Copa do Nordeste, que conheceu seu campeão, Ceará, na última terça, também recebeu elogios. Então o que mudou tanto em cerca de quatro meses?

Muitas explicações podem ser dadas, como a falta de um condicionamento físico mais aprimorado, que acaba resultando em espaços maiores no campo, ou o tempo de treinamento que alguns desses clubes tiveram até o retorno. Porém, para este que vos escreve, o motivo é mais complexo: a ausência das torcidas.

Durante décadas, consolidamos a ideia de que o brasileiro é o povo mais apaixonado pelo futebol, um sujeito capaz de fazer loucuras por seu time e que nunca irá abandoná-lo. Isso pode ser até verdade, mas o comportamento das torcidas nos estádios diz algo bem diferente. Poucas torcidas são tão cornetas como as brasileiras. Mesmo em países cuja população é considerada mais “fria”, o apoio irrestrito àqueles 11 sujeitos fardados em campo costuma ser mais comum.

Quantas vezes você, leitor, já observou, seja pela TV ou presencialmente, parte de um estádio pegando no pé de um determinado atleta por um erro que ele tenha cometido? Digo mais: quantas vezes você já fez isso? Talvez você possa argumentar que a vaia ou os xingamentos tenham como objetivo acordar aquele jogador, mas a verdade é que pouco ajuda. Não precisa ser nenhum Sigmund Freud para deduzir que o ato deixa o perseguido ainda mais nervoso.

Infelizmente, o torcedor brasileiro ainda não entendeu completamente o significado da palavra apoio. Acostumado, em sua maioria, a vibrar apenas após um gol ou quando um título é conquistado, ele enxerga sua relação com o clube quase como uma relação cliente/produto. Existem, obviamente, as exceções, assim como boleiros que merecem ser criticados, mas este comportamento exigente ao extremo causa muitos efeitos.

Claro que, caso sejam perguntados, os atletas diriam que preferem atuar diante de um estádio lotado, pulsando, mas uma história nunca tem apenas um lado. Jogar sem ter alguém lhe cobrando como se fosse apenas um funcionário, certamente, é um alívio para vários jogadores.

Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online

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