Receita de ano novo

Leia o novo texto da economista e colunista da DeFato Online, Rita Mundim

Receita de ano novo

Na semana passada, eu compartilhei com vocês uma mensagem de natal, do Poeta, Carlos Drummond de Andrade, e,  mais uma vez, tomo a liberdade de compartilhar com vocês este belíssimo poema ,“Receita de Ano Novo “, para que a gente possa refletir e praticar em cada dia de 2021 , a receita do poeta…

Em tempos de pandemia, de crise e por isso mesmo , de oportunidades é que temos que achar a cada dia o poder da renovação , da construção com solidariedade , humildade e fraternidade. Tenho a convicção de que falaremos muito de crescimento e de reformas que conduzirão o País ao tão sonhado crescimento sustentável , mas para que isso aconteça, precisamos  assumir a nossa cidadania, e, juntos ,construirmos as decisões políticas capazes de renovar os rumos da nossa economia.

O Brasil é nosso, o Brasil é a nossa casa, e, é dentro da gente que o País que queremos cochila, e, para fazê-lo novo , temos que construí-lo, temos que merecê-lo.

RECEITA DE ANO NOVO

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido talvez ou sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

novo até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?)

Não precisa

fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido

pelas besteiras consumidas

nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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