São Domingos do Prata recebe líder comunitária paraibana Luciana Balbino; confira a entrevista
Palestrante abordou a importância do empreendedorismo social, durante ação promovida pelo Sebrae Minas e ACIAPI/CDL
Eleita pela revista Forbes uma das “100 Mulheres Poderosas do Agro”, a empreendedora e líder comunitária paraibana Luciana Balbino esteve na cidade de São Domingos da Prata, no Vale do Rio Doce, na última quarta-feira (25), para falar sobre “Empreendedorismo que Transforma Pessoas e Comunidades”. A ação foi promovida pelo Sebrae Minas e ACIAP/CDL, e foi direcionada, principalmente, para produtores rurais, uma vez que o agronegócio se destaca na economia local.
O objetivo da palestra, que contou com cerca de 90 participantes, foi inspira-los a desenvolverem o protagonismo social, a partir da vivência e da história de Luciana Balbino. “Parcerias estratégicas, que geram redes de colaboração, são fundamentais para o desenvolvimento social e econômico. Empreender em comunidade exige um olhar para ações capazes de transformar a realidade, estabelecendo medidas e estratégias que geram retorno positivo para todos”, reforça a analista do Sebrae Minas Fernanda Silva.
Natural da comunidade de Chã de Jardim, localizada no município de Areia, na Paraíba, Luciana Balbino ficou conhecida nacional e internacionalmente por transformar a realidade do interior de seu estado, por meio de diversos projetos comunitários. Um dos destaques é o Restaurante Rural Vó Maria, que serve pratos com ingredientes cultivados na comunidade, beneficiando economicamente cerca de 200 famílias. Para fomentar o turismo criativo, foram criados roteiros, trilhas e atrações, como piqueniques na mata e sessões de relaxamento.
Após a palestra, ela concedeu uma entrevista exclusiva ao portal De Fato. Confira:
Como nasceu o seu interesse pelo empreendedorismo social e, em especial, na zona rural?
Ainda menina, tive a percepção de que, por meio do meu trabalho, obtinha as condições para obter e fazer o que eu queria, e meus colegas não tinham. Foi então que tive a ideia de incentivá-los, para que eles também pudessem ter as mesmas condições minhas. A partir desse momento, comecei auxiliá-los para que também pudessem ter a sua renda.
Qual a importância do empreendedorismo social para o desenvolvimento socioeconômico das famílias e das comunidades?
Hoje, cada dia mais, acredito que quem transforma o nosso país são os empreendedores. Vejo que as pessoas, na maioria das vezes, precisam apenas de incentivo e de alguém que acredite nelas. Então, vejo o empreendedorismo social como uma ferramenta de empoderamento, principalmente, de mulheres e de pessoas do campo. É também uma forma de torná-las livres do assistencialismo, que está cada vez mais presente em tantos lugares. Empreendendo e incentivando as pessoas a empreenderem, percebemos que temos mudado um pouco essa realidade.
Qual o segredo para sensibilizar, mobilizar e manter o engajamento da comunidade em prol de um objetivo comum?
O segredo é muita reunião, muita união, muito associativismo e muito cooperativismo. Mas, ouso dizer que é, sobretudo, organização. Outro ponto fundamental é que as pessoas precisam estar dispostas a compartilhar, e “não querer só para si”. Manter o olhar no outro e entender que a dor das outras pessoas é também a minha dor. Enxergar suas necessidades e, também, suas potencialidades, e buscar sempre motivar uns aos outros. Buscar a inovação e cada vez mais conhecimento, sempre compartilhando tudo com todos. E, o principal: agir sempre com amor e transparência.
Qual a importância das parcerias com outras comunidades e instituições locais para o desenvolvimento das ações?
É fundamental! Sozinho ninguém faz nada. Eu ando esse Brasil afora dizendo a todos que empreender só é bom, quando é bom para todo mundo. Ao motivar outras comunidades, outras pessoas a fazerem o que a gente está fazendo, alcançamos paz de espírito e uma sensação que estamos contribuindo com o outro. E as pessoas têm perdido muito isso. Hoje, é venha a nós e, ao vosso reino, nada. E ensino o contrário. Precisamos estender o nosso olhar para as outras pessoas, e motivá-las, ajudá-las. Acho que isso é viver em comunidade.
Por que você escolheu se graduar em História, e de que forma você usou os conhecimentos adquiridos na academia para construir sua história de empreendedorismo dentro da sua comunidade?
Areia é uma cidade histórica, turística, e a minha intenção era conhecer um pouco mais da história de Areia, não com o intuito de lecionar, mas para aplicar os conhecimentos adquiridos para o turismo. O fato de a minha monografia ter sido sobre a história da cidade, fez com que eu aprofundasse os conhecimentos. Assim, pude me transformar em condutora do turismo local – e eu era a condutora mais disputada (risos). Como eu ia a fundo nesse trabalho, criava uma experiência. Sabia receber o turista, e entender o que ele buscava. Esse conhecimento serviu como base para montarmos o restaurante, inserindo-o como parte da experiência turística local, tendo em vista o que o turista esperava ver, conhecer, degustar e desfrutar. Isso foi fundamental.
O campo ainda é um bom lugar para empreender?
Com toda certeza! É onde eu nasci, onde eu resido, e peço a Deus a graça de continuar vivendo. Precisamos apenas de amor e de querer, porque as oportunidades existem. A maioria das pessoas tende a sair, e acaba não vendo essas oportunidades. Eu não troco a calmaria do campo por nada, porque ainda tem aquela coisa de saber que ali sempre terei com quem contar, isso não tem preço. Não há melhor lugar!