Um dos ícones da televisão brasileira, Cid Moreira morre aos 97 anos

A causa da morte de Cid Moreira foi falência múltipla de órgãos após quadro de pneumonia

Um dos ícones da televisão brasileira, Cid Moreira morre aos 97 anos
Foto: Reprodução/Acervo/Rede Globo

O jornalista e apresentador Cid Moreira morreu na manhã desta quinta-feira (3). Ele tinha 97 anos de idade. Um dos rostos — e vozes — mais conhecidos da televisão brasileira, ele estava internado no Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. A causa da morte de Cid Moreira foi falência múltipla de órgãos após quadro de pneumonia.

O jornalista enfrentava problemas nos rins, e já fazia diálise com frequência, segundo Fátima Sampaio, viúva de Cid Moreira. Em entrevista nesta manhã ao programa “Encontro”, de Patrícia Poeta, ela contou sobre os últimos dias com o marido: “Mudamos para perto do hospital quando ele começou a fazer a diálise. Não contei para ninguém para ter o direito como ser humano de privacidade”.

Fátima explicou também que Cid Moreira pediu para que seu corpo fosse enterrado em Taubaté, São Paulo, onde nasceu. “Ele quer ficar perto da primeira esposa e do filho que se foi. Ele ama Petrópolis, então vamos fazer uma despedida em Petrópolis, e outra no Rio”, disse.

História

Alcides Alves Moreira nasceu em Taubaté, São Paulo, em 29 de setembro de 1927. Filho de Isauro Moreira, um bibliotecário, e Elza Moreira, dona de casa, formou-se em contabilidade em 1944. Nesse mesmo ano, foi convidado a participar de um teste de locução na Rádio Difusora de Taubaté, devido às imitações que realizava em festas locais.

Após ser contratado, iniciou sua carreira narrando comerciais até 1949, quando se mudou para São Paulo e passou a trabalhar na Rádio Bandeirantes e na Propago Publicidade. Em 1951, foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, onde atuou até 1956. Nesse período, começou a ter contato com a televisão, apresentando comerciais ao vivo em programas.

Cid Moreira se tornou uma figura conhecida nacionalmente ao ingressar na TV Globo em 1969, quando foi chamado para substituir Luís Jatobá no “Jornal da Globo”. Na época, o jornal ia ao ar às 19h45 com 15 minutos de duração. Por 26 anos, de setembro de 1969 a março de 1996, Cid apresentou as principais notícias do Brasil e do mundo no “Jornal Nacional”.

Ele foi o primeiro âncora do telejornal e se tornou o segundo apresentador com mais tempo à frente do JN, ficando atrás apenas de William Bonner, que o sucedeu. Segundo dados do Memória Globo, Cid Moreira teria dito “boa noite” cerca de 8 mil vezes no JN. Inicialmente, ele dividia a bancada com Hilton Gomes e, posteriormente, com Sérgio Chapelin. Após ser substituído por Bonner, Cid passou a realizar leituras de editoriais no telejornal. Em 2015, durante as comemorações dos 50 anos da TV Globo, ele e Chapelin voltaram a apresentar o JN juntos.

Em 2019, por ocasião dos 50 anos do “Jornal Nacional”, a TV Globo reuniu seus principais âncoras em uma celebração que incluiu o lançamento de um livro sobre o telejornal. Durante o evento, Cid elogiou a evolução do jornalismo: “No meu tempo o jornal era analógico, hoje é digital. No meu tempo a bancada era compensado, hoje é uma nave espacial. Então, todos estão de parabéns, obrigado a todos”.

Após deixar o “Jornal Nacional”, Cid foi escalado para realizar locuções especiais no “Fantástico”, onde já participava ocasionalmente desde o início do programa. Além disso, emprestou sua voz a chamadas e reportagens, como no famoso quadro do ilusionista Mister M em 1999. Em 2010, fez sucesso ao narrar reportagens com a vinheta “Jabulani”, nome da bola da Copa do Mundo daquele ano.

Paralelamente à sua atuação na TV, Cid continuou narrando comerciais e também trabalhou em filmes e documentários. Ele chegou a atuar na comédia “Angu de Caroço”, de 1955, dirigida por Eurides Ramos.

A partir da década de 1990, Cid iniciou um projeto de gravação de salmos bíblicos. Em 2001, lançou uma série de CDs com a leitura completa da Bíblia em linguagem atualizada, que vendeu mais de 50 milhões de cópias, muito antes da popularização dos audiolivros.

Nos últimos anos, Cid manteve uma presença ativa nas redes sociais. Em sua última postagem no Instagram, em 1º de outubro, ele agradeceu pelas felicitações de aniversário. Ele também mantinha um canal no YouTube, onde narrava trechos bíblicos, declamava poemas, conduzia entrevistas e compartilhava receitas culinárias com sua esposa, Fátima.

Lula homenageia Cid Moreira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) homenageou o ex-apresentador do “Jornal Nacional” em seu perfil no BlueSky. O presidente disse que o legado de Moreira no jornalismo e na televisão “será eternamente lembrado”. Lula também mencionou as gravações de trechos da Bíblia na voz de Cid Moreira, que foram populares entre pessoas religiosas anos atrás

“Com tristeza, o Brasil se despede hoje de uma das personalidades mais emblemáticas da história do nosso jornalismo e televisão, com o falecimento de Cid Moreira aos 97 anos”, disse o presidente.

“Jornalista e radialista, Cid Moreira atuou em diversas rádios e emissoras de TV antes de assumir a bancada do Jornal Nacional, onde foi o principal apresentador por décadas. Ele se tornou o rosto das notícias e a voz do boa noite para milhões de brasileiros”, completou o presidente da República.

“Dono de uma voz única e poderosa, Cid se destacou pelas inúmeras locuções, sendo a mais célebre delas as gravações da Bíblia Sagrada. Meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas e admiradores de Cid Moreira. Seu legado no jornalismo e na televisão brasileira será eternamente lembrado”, finalizou Lula.

* Com Estadão Conteúdo.