Bairro a bairro: como foi o simulado de rompimento de barragem em Itabira
Sirene de alerta de risco de rompimento de barragem tocou às 15h de hoje, convocando a população a buscar um local seguro; algumas pessoas reclamaram que o som estava baixo
Às 15h de hoje, sábado, dia 17 de agosto, a sirene de alerta tocou em Itabira (região Central de Minas Gerais). O aviso sonoro para que os moradores deixassem as casas durou menos de 10 minutos. Aos poucos, a população começou a ir para as ruas e caminhar em direção a um dos 96 pontos de encontro, considerados áreas seguros. Para ajudar a mostrar o caminho, foram instaladas no município cerca de 1.800 placas de “Rota de Fuga”. O treinamento terminou às 16h.
Este foi o primeiro simulado de evacuação por risco de rompimento de barragem realizado em Itabira, apesar de o município ter mais de seis décadas de mineração e ser berço da Vale. A primeira represa de rejeitos de minério, a do Pontal, foi implantada no município em 1972. Atualmente são 15 barragens.
Para o simulado hoje, a Defesa Civil esperava mobilizar 27 mil pessoas. Dessas, 19 mil seriam moradores de áreas de risco. O município tem 120 mil habitantes. O balanço da participação do simulado deve ser divulgado nas próximas horas.
Pode-se afirmar, com certeza, que a adesão ao treinamento foi muito menor que o esperado. Nas reuniões preparatórias que aconteceram na manhã deste sábado, a participação foi ínfima. Ao todo, só 956 pessoas compareceram nas reuniões das 9h e 11h, nos nove locais de encontro.
Como foi o simulado nos bairros
Machado
No ponto de encontro da rua Olavo Bilac, no bairro Machado, a presença dos moradores foi grande. Ao tocar a sirene as pessoas demoraram um pouco para sair de casa. Uma grande equipe de funcionários da Vale aguardava os moradores no local para cadastrá-los.
Seis tendas, cadeiras, dois banheiros químicos e dois pontos de acolhimento médico foram instalados no local. Uma UTI móvel também ficou de prontidão no local. Houve ainda distribuição de água.
“Acho que tudo foi organizado, mas esse local não suporta todo mundo. Aqui já está apertado. Se tiver um alarde maior, com certeza, o tumulto pode vir a machucar alguma pessoa”. Geraldo Isabel da Silva, mecânico de manutenção na Vale.
Geraldo Silva é morador da rua Afonso Pena, no bairro Machado. Ele foi para o ponto de encontro acompanhado da filha, que possui deficiência, e de uma irmã.
Outra moradora do bairro, Daniela Muzzi Rodrigues, atendente de farmácia, também saiu de casa na companhia da sua cachorrinha Margô. Para ela, o som da sirene estava baixo. “Deu para ouvi porque estava sabendo que ia tocar. Mas, no caso de uma emergência, se tocar de madrugada, acho que a gente não escuta”, afirmou.
Bethânia
No bairro Bethânia, próximo ao ponto de encontro da rua Jericó, foi possível ouvir o som da sirene nitidamente. Rapidamente, muitos moradores da região chegaram aos pontos de encontro.
O aposentado Milton José da Costa, 66 anos, avaliou a participação no simulado importante e, mesmo sabendo se tratar de um teste, relatou ter se sentido incomodado ao escutar a sirene. Ele ainda relatou que o neto, que ainda é uma criança, estava muito preocupado com o treinamento.
“A gente fala que está preparado, mas, quando ouve, não deixa de sentir o arrepio”. Milton José da Costa, aposentado.
Assim que chegaram ao ponto de encontro, os moradores foram cadastrados por trabalhadores da Vale. Eles também responderam a uma pesquisa antes de serem liberados.
Bela Vista
Os moradores do bairro Bela Vista relataram alguns problemas durante o simulado. A moradora Inês de Souza disse que o som da sirene era quase imperceptível. “Eu estava no fundo da minha casa e praticamente não ouvi. Só percebi que estava começando [o simulado] porque ouvi vozes na rua e o barulho do helicóptero”, relata.
Para Joana Meireles, faltou organização na chegada dos moradores. “Acho que a recepção deveria ser melhor organizada. Chegamos, nos cadastramos e ficamos sentados. Se acontecesse de verdade, o que fariam conosco? Na reunião pela manhã, não foi explicado. No simulado, também não”, questionou.
João XXIII
Os moradores do bairro João XXIII tiveram opiniões divergentes sobre o simulado de emergência. Enquanto alguns reconheceram a importância da ação, outros acharam que o alarde é maior do que o perigo propriamente dito.
É o caso da doméstica Maria Carmen Silva, de 47 anos, que acompanhou a movimentação da janela de casa. Ela afirma já ter memorizado o caminho pelas placas indicativas. “Não é necessário esse estardalhaço todo”, afirmou.
No ponto de encontro localizado no Campo do Grêmio, no bairro Praia, o som da sirene foi quase imperceptível. Alguns moradores assimilaram o barulho ao de uma ambulância, viatura, alarme de carro, mas nada de alerta.
Vera Lúcia Aparecida dos Santos mora na rua avenida Cristina Gazile e disse que estava limpando a casa e que não ouviu a sirene. “Meu filho que me avisou e disse que estava na hora de ir para o ponto de encontro”, afirmou a moradora.
Thales Henrique Santos Reis, filho de Vera Lúcia, só ouviu o alerta porque estava fora de casa e afirma que também não ouviu carros de som como havia sido previsto pelos agentes da Defesa Civil. ” Se no dia que romper não tiver ninguém na rua, vai morrer todo mundo porque não dá para ouvir” disse.
” Vim com minhas três netinhas para que todas tenham informação. Eu também não ouvi a sirene, gostaria de saber se no dia vai tocar assim?” Maria Aparecida Oliveira, mora no Bela Vista, mas estava no bairro Praia na hora do simulado.
Gabiroba
No Gabiroba, a movimentação foi grande. Algumas pessoas com cachorros, alguns idosos e deficientes participaram do treinamento de evacuação. O volume do som da sirene foi motivo de reclamação da moradora do Gabiroba, Eliete Fernandes. “Eu até consegui ouvir, mas estava muito baixo”, relatou.
Praia
No ponto de encontro localizado no Campo do Grêmio, no bairro Praia, o som da sirene foi quase imperceptível. Alguns moradores assimilaram o barulho do alerta à ambulância, viatura, alarme de carro, mas nada de sirene.
Vera Lúcia Aparecida dos Santos mora na rua Avenida Cristina Gazile e disse que estava passando pano na casa quando foi avisada que a sirene havia tocado. ” Meu filho me avisou e disse que estava na hora de ir para o ponto de encontro”, afirmou a moradora. Thales Henrique Santos Reis, filho de Vera Lúcia, só ouviu o alerta porque estava fora de casa e também não ouviu carros de som que foram prometidos pelos agentes da Defesa Civil.
” Se no dia que romper não tiver ninguém na rua, vai morrer todo mundo porque não dá para ouvir” disse a moradora.
Maria Aparecida Oliveira, moradora do Bela Vista, estava no bairro Praia na hora do simulado, e por isso veio para o ponto de encontro. ” Vim com minhas três netinhas para que todas tenham informação. Eu não ouvi a sirene, gostaria de saber se no dia vai tocar assim.” A enfermeira conta que aproveitou o dia de folga para participar do simulado porque a sua residência está próxima a barragem do Pontal.