Unesco defende capacitação de professores para lidar com estudantes refugiados vítimas de trauma

No Dia Mundial do Refugiado, 20 de junho, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) pediu mais investimentos na capacitação de professores que se empenham para levar educação a refugiados, mas enfrentam dificuldades para lidar com o trauma e a angústia vividos por seus estudantes devido à sua […]

Unesco defende capacitação de professores para lidar com estudantes refugiados vítimas de trauma
na Síria

No Dia Mundial do Refugiado, 20 de junho, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) pediu mais investimentos na capacitação de professores que se empenham para levar educação a refugiados, mas enfrentam dificuldades para lidar com o trauma e a angústia vividos por seus estudantes devido à sua história de migração forçada.

“Professores não são nem devem ser vistos como especialistas em saúde mental, mas eles podem ser uma fonte crucial de apoio para crianças que sofrem com trauma, se eles receberem o treinamento certo”, afirma Manos Antoninis, diretor da relatoria da UNESCO Monitoramento Global da Educação.

Por ocasião da data internacional, a instituição divulgou um estudo em que recomenda a capacitação de docentes em apoio psicossocial, com o intuito de auxiliar meninos e meninas vítimas de deslocamento forçado. A pesquisa aponta para números dramáticos envolvendo a busca por refúgio e desafios de saúde mental:

-Na Noruega, um terço das 160 crianças solicitantes de refúgio e desacompanhadas — vindas do Afeganistão, Irã e Somália — sofriam de estresse pós-traumático;

-Na Alemanha, 20% das crianças refugiadas sofrem de transtorno de estresse pós-traumático. Os menores desacompanhados são particularmente vulneráveis a esse problema;

-Na Bélgica, das 166 crianças e adolescentes refugiados desacompanhados, de 37 a 47% tiveram sintomas severos de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.

Muitas dessas crianças tiveram experiências dolorosas antes de deixar suas casas, durante sua jornada ou enquanto se estabeleciam numa nova comunidade ou país. Essas vivências traumáticas se manifestam sob a forma de estresse tóxico e de consequências negativas que afetam a capacidade de aprendizado desses jovens.

“Os conflitos e o deslocamento não vão acabar”, afirma Antoninis. “Eles demandam mudanças consideráveis nas práticas de ensino, (mudanças) que os países devem incluir em seus planos.”

O relatório ressalta que a prevalência do trauma também é alta entre os deslocados que vivem em países de baixa e média renda. De acordo com o levantamento, 75% das 331 crianças internamente deslocadas nos campos do sul de Darfur, no Sudão, preenchiam os critérios de diagnóstico para o transtorno de estresse pós-traumático. Além disso, 38% tinham depressão.

Na ausência de centros de saúde, as escolas desempenham frequentemente um papel fundamental na restauração de um senso de estabilidade na vida das crianças e adolescentes. Mas para isso, os professores precisam entender como ajudar os alunos.

Embora ONGs, como o Comitê Internacional de Resgate, estejam treinando professores, o seu alcance é insuficiente.

Na Alemanha, a maioria dos professores e profissionais de creches afirma não se sentir adequadamente preparada para lidar com as necessidades de crianças refugiadas. Na Holanda, 20% dos professores com mais de 18 anos de experiência em educação relataram um alto nível de dificuldade para lidar com estudantes traumatizados.

Uma avaliação sobre o cuidado na primeira infância e sobre as instalações de educação para refugiados na Europa e na América do Norte revelou que, embora muitos programas reconheçam a importância de oferecer uma assistência orientada para lidar com trauma, a falta de recursos e de treinamento para isso é quase universal.

“Direcionar as abordagens dos professores para essas crianças, ajudá-las a construir confiança e autoexpressão por meio de atividades de interpretação e discussões de grupo pode lhes dar uma (espécie de) corda salva-vidas”, completa Antoninis.

Entre as principais recomendações do estudo da UNESCO, estão:

-Ambientes de aprendizagem precisam ser seguros, estimulantes e sensíveis às dificuldades e ao desenvolvimento dos jovens;

-Professores que trabalham com refugiados e migrantes que sofreram trauma precisam de treinamento para lidar com os desafios de sala de aula;

-Intervenções psicossociais exigem cooperação entre os serviços de educação, saúde e proteção social;

-Intervenções de aprendizagem social e emocional precisam ter uma sensibilidade cultural, ser adaptadas ao contexto e incluir também atividades extracurriculares;

-O envolvimento da comunidade e dos responsáveis não deve ser negligenciado.

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