Don’t Cry for me Argentina
Confira o novo texto da colunista Rita Mundim!
Vamos começar nosso artigo de hoje no ponto onde paramos na semana passada… Em relação à questão fiscal, prevaleceu o bom senso do Presidente Jair Bolsonaro e junto com ele a força de Paulo Guedes. Tivemos uma semana bem mais tranquila no mercadofinanceiro brasileiro depois da trégua entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia e, principalmente ,depois do comprometimento explícito do presidente da câmara com o ajuste fiscal (entenda-se teto de gastos).
Após o jantar da paz , quando pedidos de desculpas foram trocados, o que vimos nos dias que se seguiram foram juras afinadas de
comprometimento com a austeridade da política fiscal. No mercado internacional tanto o Banco Central americano quanto o Banco Central europeu deram sinais claros da necessidade de mais pacotes de ajuda, nos Estados Unidos, após anunciar que um novo pacote só seria discutido depois das eleições, Donald Trump voltou atrás e já admite continuar as negociações com a democrata Nancy Pelosi.
A diferença nas pesquisas eleitorais a favor do candidato do partido democrata, Joe Biden, em relação a , foi novamente ampliada e o mercado sabe que em caso de vitória democrata, o pacote de U$1,5 trilhão poderá ser ainda maior. Na esperança de pacotes na Zona do Euro, no Reino Unido e nos EUA, para turbinar empregos e empresas , o investidor global foi às compras apesar do aumento alarmante do número de casos de infectados por Covid-19 em vários países da Europa.
Aqui no Brasil, o Ibovespa que teimava em não subir desde agosto, com receio do flerte político com o populismo irresponsável, e em consequência de eventos e cenas de enfrentamento à política econômica austera do ministro Paulo Guedes ,teve uma semana de altas impulsionadas, em especial, pela Petrobras, com o furacão Delta fechando cerca de 90% das refinarias no golfo do México , o que turbinou a alta do preço do barril de petróleo no mercado internacional, e, com a recuperação das ações de bancos com a proximidade da divulgação dos balanços do terceiro trimestre que podem vir bem melhores do que se esperava.
Em relatório feito pelo UBS BB, o crescimento dos lucros dos grandes bancos brasileiros deve ser em torno de 35% no terceiro trimestre, e mais, o crescimento recorde e histórico das vendas ao varejo em agosto, que superaram o melhor resultado da história alcançado em outubro de 2014, também contribuiu para a boa performance do Ibovespa com as ações das empresas varejistas registrando fortes altas na quinta e na sexta feira.
No apagar das luzes da semana passada, o dólar recuou frente ao real e os juros futuros também cederam refletindo a melhora do cenário global e local. E como já dissemos antes, apesar do crescimento preocupante do número de infectados pelo COVID-19 em vários países da Europa, o apetite pelo risco voltou, ao menos, por enquanto.
Enquanto isso,na Argentina, o ministro da economia tenta um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional, o país que no início do século XX tinha o maior PIB per capta do mundo tenta mais uma vez sair da situação de default, em outras palavras, calote. A Argentina precisa de um novo acordo com o FMI para substituir um fracassado programa de 57 bilhões de dólares acertado em 2018, que não foi capaz de evitar uma crise econômica durante a qual o país entrou em default mais cedo neste ano.
E porque que eu estou falando tudo isso? Para que tenhamos clareza para perceber a evolução recente da política econômica do Brasil e para que possamos enxergar a importância da responsabilidade fiscal e o custo de um retrocesso populista. Em 20 de dezembro de 2001, primeiro ano deste século, o presidente argentino Fernando de La Rua renunciou e levou o País a uma troca inacreditável de cinco presidentes em 12 dias.
E, pelo que parece, o pesadelo argentino no século XXI permanece. A potência econômica do início do século XX se perdeu no peronismo e no kirchnerismo , movimentos personalizados do populismo portenho. Ao contrário dos nossos hermanos , nós brasileiros , se conseguirmos persistir no ajuste fiscal poderemos com tranquilidade dizer em um futuro próximo: Don’t cry for me Argentina!!!!
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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