Moradores de Santa Maria lembram tragédia e falam das perdas
Em busca de recuperar os bens perdidos durante a tragédia que aconteceu no domingo, moradores relembram momentos de desespero
No último domingo (21), enquanto um barranco desabava no bairro do Poção, soterrando casas e separando famílias, diversos outros bairros de Santa Maria de Itabira lutavam contra as águas que invadiam as casas. A tragédia que se abateu sobre a cidade é indescritível. E o número de vítimas e perdas ainda é indefinido.
Até agora, os órgãos oficias já confirmaram seis morte, 129 famílias desalojadas e 32 pessoas desabrigadas. O número total de feridos ainda é incerto. Mesmo assim, muitas pessoas já lutam para superar a tragédia e recuperar aquilo que perderam. É o caso da professora Onilda Maria Ferreira Pedro.
Ao 42 anos, moradora do bairro Nova Santa Maria, Onilda Ferreira contou que desde a última semana já vinham acontecendo enchentes na cidade. “Eu moro na parte de cima do bairro. Lá estava tranquilo. Mas, a minha mãe mora na parte mais baixa do bairro. Nessa região, de repente a água começou a subir. Devia ser umas cinco e meia da manhã”, lembra.
A professora explica ainda que saiu para buscar o pessoal de sua família, mas quando foi avisar aos vizinhos, já não dava tempo deles saírem. “Meu carro ficou todo enlameado, nem da garagem ele sai. Minha mãe perdeu tudo. Só o que salvamos foi a televisão e as cachorras. O resto foi tudo embora”, lamenta.
Onilda fala que mora em Santa Maria há 37 anos e nunca tinha passado por nada parecido.
“Sempre teve enchente, mas nunca dessa forma. A água chegou a mais de um metro e meio, chegou a bater no peito das pessoas. Foi uma coisa horrorosa! A gente fica, ao mesmo tempo, sem reação e desolado. Tem muita gente que conhecemos que perdeu tudo. Graças à Deus, apenas bens materiais. Mas, um dos meninos que morreu, por exemplo, já foi meu aluno. Então, é um sentimento de desconsolo. E o que a gente pode fazer nessa hora é ajudar”, finaliza.
Perdas de uma vida
Gabriel Pereira também perdeu tudo. Ele e sua família acordaram com a água já dentro de casa. “Todo mundo estava dormindo. No começo da madrugada, por volta das duas da manhã, estava chovendo. Mas a água corria normal, como costuma correr no bairro. Por volta de umas quatro da manhã, eu comecei a ouvir pessoas gritando e um vizinho chamando a gente. Quando acordamos já tinha água dentro de casa. Veio de uma vez”.
O arquiteto de 24 anos também contou que desde a semana anterior o nível da água no rio já vinha subindo. “Na quinta-feira passada, chegou a ficar beirando a porta, mas não entrou. Só que dessa vez veio violenta. A gente perdeu uns 90% das coisas, como eletrodoméstico e móveis. O resto, ficou tudo boiando na água. Entrou água até pela janela”, explica.
Quando nossa reportagem o encontrou, ele estava ajudando a limpar a rua.
“Dentro de casa, a gente conseguiu tirar bastante barro. Mas, está difícil. Por exemplo, os armários estão quebrados por causa da água e a gente está tirando e limpando do jeito que dá. Aqui já deu muita enchente. Igual foi dessa vez, para mim nunca tinha acontecido. Ou seja, tudo que a gente foi adquirindo ao longo da vida foi perdido”.