Foco na inflação

Confira o novo texto da economista e colunista da DeFato Online, Rita Mundim

Foco na inflação

Na semana passada, tivemos a chamada super quarta, com decisões sobre a política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Como era esperado, no Brasil o Comitê de Política Monetária, COPOM, elevou em 0,75 ponto percentual a taxa básica de juros, a SELIC, que subiu pela terceira reunião consecutiva, passando de 3,5 %a.a. para 4,25% a.a…

Nos Estados Unidos a taxa foi mantida no intervalo de 0,0 a 0,25%a.a… Mas os comunicados divulgados após as decisões chacoalharam o mercado brasileiro e o mercado financeiro internacional. O Comitê de Política Monetária do Banco Central Americano, FOMC, é composto por 18 membros. Nesta reunião, sete deles passaram a apostar na alta dos juros no ano que vem, e, até a reunião anterior, a expectativa era a de que os juros só subiriam em 2024.

Como os títulos do tesouro americano são considerados os papéis mais seguros do mundo, uma alta de juros ou mesmo a expectativa de alta de juros na terra de tio Sam provoca uma movimentação no fluxo do dinheiro do mundo. Essa mudança de expectativa em relação ao comportamento dos juros nos EUA foi reforçada pelo discurso de James Bullard, diretor do Banco Central Americano da regional de Saint Louis.

Na sexta-feira, ele disse que além da provável antecipação da alta dos juros, o Federal Reserve já está discutindo a diminuição dos incentivos. Depois da fala de Bullard, as bolsas americanas intensificaram as perdas e o dólar se valorizou perante as principais moedas do mundo. 

Aqui no Brasil, o COPOM, Comitê de Política Monetária do Banco Central, subiu o tom e trocou a frase no comunicado, de “ajuste parcial” para “normalização” da taxa de juros, e, abriu a possibilidade de uma alta de até 1 ponto percentual na reunião do dia 04 de agosto. Na prática isso significa que a prioridade da autoridade monetária brasileira, neste momento, deixa de ser o incentivo à retomada da economia e passa a ser o combate à inflação.

Até aqui, o ajuste parcial dos juros deixava a taxa SELIC abaixo da inflação o que estimulava e estimula o investimento produtivo, mas na medida que a taxa de juros vai se deslocando rumo à normalização (taxa neutra em relação à inflação) os investimentos em produtos financeiros vão recuperando a competitividade.

A maioria dos países desenvolvidos está praticando taxas de juros negativas em função da pandemia, e a elevação dos juros no Brasil, pela terceira reunião consecutiva, já começa a atrair o capital estrangeiro para aplicações em renda fixa , em títulos brasileiros, o que pode explicar, em parte, a desvalorização do dólar em relação ao real na semana passada , apesar do dólar ter se valorizado diante das principais moedas do mundo depois da decisão de política monetária nos EUA apontar para um provável aumento de juros já em 2022 e pelo início das conversas para a diminuição de estímulos à atividade econômica.

Resumo da ópera, até o mês passado, a retomada da economia era o prato principal do cardápio dos Bancos Centrais pelo mundo afora… O aumento da vacinação e consequentemente a retomada mais forte da atividade econômica no planeta trouxe como consequência a inflação global puxada por commodities, em especial, alimentos e combustíveis. A maior parte das economias começa a operar nos níveis pré pandemia e por isso mesmo o foco das preocupações passa a ser o combate à inflação para preservar o poder de consumo das famílias.

Nesta semana teremos números importantes da economia brasileira, na quarta-feira, sai a arrecadação da Receita Federal, em maio, que pode chegar a R$150 bilhões, e na quinta, os números do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério da Economia), que podem apontar a geração de mais de 150 mil empregos formais em maio.

A economia brasileira vai surpreendendo positivamente neste primeiro semestre do ano e alguns setores já estão operando acima do nível pré pandemia e esse desempenho é um dos fatores que podem fazer com que o Banco Central acelere o processo de alta da SELIC para ancorar as expectativas de inflação futura. Assim, poderemos terminar o ano com uma SELIC de 6,5%a.a., um dólar em torno de R$5,00 e a economia crescendo a 5%. Quem diria, hein??? Há três meses, os pessimistas de plantão projetavam o caos econômico.

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis

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