O trabalho como ferramenta para a reconstrução de vidas
Artista plástica Yara Tupynambá assina um depoimento emocionante o trabalho do instituo que leva seu nome junto as comunidades impactadas pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019. Confira!
Um trabalho assinado por Por Yara Tupynambá
Reparar os danos causados pelo rompimento de uma barragem ou pela realocação de famílias por questões de segurança, certamente, não é uma tarefa simples. Além de cuidar das pessoas, é fundamental pensar caminhos para o desenvolvimento sustentável dos lugares impactados, com novas fontes de emprego e renda, novas dinâmicas econômicas capazes de colocar a vida de volta nos eixos.
Desde a fundação do Instituto Yara Tupynambá, buscamos ajudar pessoas a encontrarem seus caminhos por meio de um ofício. Em 2019, junto com a Vale, começamos a trabalhar com esse objetivo nas comunidades impactadas pelo rompimento da barragem de Brumadinho. Em quase três anos, implementamos projetos de diferentes áreas, mas com um conceito em comum – pensar a retomada de vida e a reestruturação econômica dos moradores por meio da capacitação profissional.
Ter uma profissão é essencial para o equilíbrio humano. Não somente pelo fator econômico, mas principalmente, pela dignidade que se alcança ao exercer o ofício escolhido. Em Brumadinho, concluímos recentemente a capacitação de 144 pessoas em construção civil e jardinagem e a reforma – pelas mãos dos próprios alunos – de 232 casas e 230 jardins escolhidos por eles.
Um projeto importante cuja temática me interessa especialmente: ao construir uma casa, edificamos sentimentos e sensações valiosos como segurança, refugio e equilíbrio. Em Mário Campos, município vizinho a Brumadinho, ensinamos nove produtores rurais a construírem estruturas necessárias para a melhoria de suas atividades agrícolas; iniciamos um intenso processo de profissionalização e fortalecimento do turismo local com 90 pequenos empresários de São Joaquim de Bicas, Igarapé, Juatuba, Mário Campos e Brumadinho e estamos em Barão de Cocais e Santa Bárbara trabalhando as potencialidades locais por meio de ofícios ligados à gastronomia, beleza, idioma e jardinagem.
Em seus quase 35 anos de atuação, o instituto sempre dialogou intimamente com a minha trajetória artística. Enquanto retrato o meio ambiente, o Instituto forma jardineiros e implanta jardins em casas e espaços públicos.
Enquanto pinto igrejas barrocas, o Instituto restaura e preserva construções setecentistas, tombadas e protegidas pelo poder público, cumprindo seu papel de defesa e preservação do patrimônio cultural edificado.
Enquanto represento em meus murais a natureza do trabalho humano, o instituto capacita e qualifica social e profissionalmente pessoas, em diversas áreas do conhecimento.
Enquanto mostro a formação das cidades, o casario antigo conectado à arquitetura contemporânea, o Instituto recupera casas em comunidades, restaura edificações em sítios arqueológicos e revitaliza conjuntos arquitetônicos. E através de todas essas costuras, o instituto dá vida às diversas mensagens e conceitos transmitidos pela minha obra.