ONU alerta para riscos após Rússia tomar maior usina nuclear da Europa
O diretor da agência atômica da ONU viajou na quinta-feira às pressas para Kiev para tentar garantir a segurança das instalações
O presidente russo, Vladimir Putin, nacionalizou a usina nuclear de Zaporizhzia, na Ucrânia, passando seu controle para engenheiros russos. A medida ocorre após a Rússia anexar quatro regiões ucranianas. O diretor da agência atômica da ONU viajou na quinta-feira (6) às pressas para Kiev para tentar garantir a segurança das instalações.
A usina nuclear, que é a maior da Europa e uma das dez maiores do mundo, foi tomada pela Rússia no início da guerra, mas até então era operada por funcionários ucranianos. Nas últimas semanas, o local foi palco de intenso combate. De acordo com o decreto de Putin, como as instalações agora estão em território russo — na visão de Moscou —, os trabalhos devem ficar sob controle russo.
A mudança, no entanto, preocupa a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pois erros ou falhas dos engenheiros russos podem causar uma catástrofe maior que a explosão da usina de Chernobyl, em 1986. Pelo risco, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, visitará Kiev e Moscou nos próximos dias.
Na quinta-feira, Grossi reforçou seu pedido por uma zona de segurança ao redor da usina, uma demanda que ele vem fazendo desde que visitou Zaporizhzia pela primeira vez, em agosto. Na ocasião, ele disse que havia negociações com a Ucrânia e a Rússia para encerrar as operações militares ao redor da usina, mas deu poucos detalhes.
Ao chegar a Kiev, Grossi disse que ainda vê a usina como uma instalação ucraniana, já que a Carta da ONU não reconhece anexações ilegais. “Esta é uma questão que tem a ver com o direito internacional”, disse. “A necessidade de uma zona de proteção em torno da usina nuclear de Zaporizhzia é mais urgente do que nunca”, acrescentou.
Decisão nula
Autoridades ucranianas criticaram a decisão russa, classificando o decreto de Putin como “nulo”, “sem valor”, “absurdo” e “inadequado”. A Ucrânia disse que continuaria a gerenciar Zaporizhzia, embora, na prática, não esteja claro como isso pode ocorrer, já que a Rússia tem o controle da usina.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia pediu ontem que União Europeia, G-7 e outros aliados imponham sanções à empresa estatal de energia nuclear da Rússia, a Rosatom. Além disso, Kiev pediu aos membros da AIEA que limitem a cooperação com Moscou.
Além dos bombardeios constantes, que já afetaram o fornecimento de energia — comprometendo o sistema de segurança dos reatores —, mais de uma vez, a preocupação dos especialistas é com o impacto na usina. Falhas elétricas e o risco de ter trabalhadores cansados ou expostos a situações estressantes podem comprometer a segurança dos reatores e causar um vazamento de radiação.
Mesmo depois de tomar a usina, os militares russos deixaram as operações para os engenheiros ucranianos, o que garantiu até então a manutenção das operações. No relatório que a AIEA produziu após sua visita, os inspetores observaram a situação extrema dos trabalhadores ucranianos e pedia que eles pudessem trabalhar sem pressão.
Avanços
No dia em que Grossi chegou à Ucrânia, pelo menos três civis morreram após a Rússia disparar sete mísseis contra bairros da cidade de Zaporizhzia, provocando incêndios e destruindo edifícios residenciais. Oleksandr Starukh, governador da região, alertou que havia uma alta probabilidade de mais ataques.
Ontem, a polícia ucraniana disse ter encontrado 534 cadáveres de civis em territórios recapturados pelo Exército da Ucrânia desde o início de setembro. Segundo Serguei Bolvinov, chefe do Departamento de Investigação da Força Policial de Kharkiv, os corpos tinham sinais de tortura.