“Descaso”: Vale não quer participar de grupo para discutir o fim de suas minas em Itabira
“A Vale entende que os temas fechamento de mina e uso futuro já estão sendo abordados em outros fóruns estabelecidos”, justifica parte da nota
Por meio de um ofício enviado por Daniel Argento Soares (coordenador de Relações Institucionais do Sistema Sudeste), a mineradora Vale se recusou a participar de um grupo técnico para discutir o fechamento de suas minas em Itabira. O grupo em questão foi criado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) para discutir providências e ações para o período pós mineração no município.
Anteriormente, representantes da mineradora haviam aceitado compor o grupo, mas após duas reuniões – onde justificaram a primeira ausência e depois enviaram o ofício -, a empresa decidiu voltar atrás e optar pela descontinuidade. No documento, a Vale pontuou que o atual “Planejamento de Longo Prazo” para Itabira indica “um tempo considerável para o encerramento das unidades”, com data de exaustão estimada para 2041. Ainda justificando sua recusa ao grupo, a Vale afirmou que já faz parte do Itabira Sustentável, projeto idealizado pela Prefeitura Municipal, onde são discutidos tópicos voltados à diversificação econômica, em temas como turismo, empreendedorismo e outros, “que contribuem diretamente ao plano de fechamento de mina e seus desdobramentos para a sociedade”.
“Assim, a Vale entende que os temas fechamento de mina e uso futuro já estão sendo abordados em outros fóruns estabelecidos”, justifica parte da nota.
Descaso?
A decisão da mineradora foi bastante criticada e avaliada pelos conselheiros do Codema (durante uma reunião realizada na última sexta-feira, 10) como um ato de desrespeito e fechamento de diálogo. Apesar disso, a saída da mineradora não deverá inviabilizar os trabalhos do grupo de discussão. “Eu acho que isso não inviabiliza o grupo, acho que o tema de fechamento de mina é amplo (…) então a gente pode buscar informações em várias entidades. Mas seria mais amigável e mais importante para Itabira, que a Vale fizesse parte, compusesse esse grupo de trabalho no intuito de fazer algo mais construtivo e mais produtivo para essa sociedade”, pontuou Denis Martins da Costa Lott, secretário municipal de Meio Ambiente e presidente do Codema.
“Eu vejo que essa conduta de não comparecer na reunião e trazer um ofício abandonando o grupo de trabalho, é muito grave para a sociedade também. Principalmente porque a Vale é a principal interessada em fazer um fechamento de minas adequado”, apontou Glaucius Bragança, secretário do Codema.
A reclamação foi seguida por Patrícia Freitas, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil/Subseção Itabira e que também é conselheira do Codema. Em sua visão, a atitude da mineradora foi “um total desrespeito, não só ao grupo que foi criado, mas ao próprio Codema”. A advogada ainda apontou que existiu uma “contradição” da Vale em assumir um compromisso público de participar do grupo, mas recusá-lo através de um ofício.
Vale deveria ficar de fora
Mesmo com diversas críticas, a participação da Vale dentro do grupo não é vista como uma unanimidade: “Acho desnecessário e inclusive, inconveniente”, avaliou o professor Leonardo Ferreira Reis. Para o representante, é a população itabirana quem deve determinar quais ações deverão ser tomadas para o período de fechamento das minas.
Leonardo Reis também pontuou que a presença da mineradora no grupo pode causar intimidação aos conselheiros e solicitou que o Codema acione a Agência Nacional de Mineração (ANM) e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Semad) para participar das discussões.
Após as manifestações sobre a conduta da Vale, os conselheiros aprovaram o envio de um “documento resposta” à empresa, solicitando que ela volte ao grupo de trabalho, e que, na próxima reunião, apresente um planejamento para o fechamento das minas em Itabira.