As características mais emblemáticas do eleitorado itabirano: mudanças, impaciência e imediatismo

O jornalista Fernando Silva estreia hoje sua coluna semanal na DeFato. Confira o primeiro texto!

As características mais emblemáticas do eleitorado itabirano: mudanças, impaciência e imediatismo
Foto: TSE
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O eleitor itabirano não assimilou o instituto da reeleição. E isso não é de agora. Os conterrâneos de Drummond repelem o continuísmo.  A história recente revela exemplos marcantes dessa conduta. Luiz Menezes tentou emplacar o seu sucessor. Não teve êxito. Li Guerra também naufragou no objetivo de manter alguém de seu grupo político no terceiro andar do paço municipal.

A reeleição só foi implantada em 1997. Uma emenda constitucional garantiu a possiblidade de um segundo mandato para ocupantes do poder executivo, em todos os níveis do estado nacional. A partir de então, a maioria dos prefeitos de Itabira não conseguiu “vender” o seu substituto para a sociedade. E fica aqui uma instigante constatação: o obsessivo desejo de alternância independe do êxito do governante de plantão.

Jackson Tavares (PT)- o primeiro da fila- apostou em políticas públicas para a cultura. O petista criou importantes ferramentas para resgate da memória do poeta Carlos Drummond de Andrade.  Apesar do sucesso da iniciativa, Tavares teve mandato único. Nas eleições de 2000, perdeu para Ronaldo Magalhães por uma diferença de 629 votos.

Damon Lázaro de Sena (2013 a 2016) também foi gestor de uma nota só. O mandatário sofreu revés acachapante na tentativa de permanência no comando da “pólis”.  Os votos obtidos por Sena seriam suficientes para eleger um vereador, ainda assim, com certo grau de dificuldade.

Ronaldo Magalhães, porém, conseguiu quebrar esse paradigma e fez o sucessor, em seu primeiro mandato (2001 a 2004). As pesquisas da época apontavam um índice significante de aprovação à gestão do município.  Essas mesmas sondagens, no entanto, destacavam o estranho paradoxo: apesar de reconhecer o bom desempenho do governo, o povo exigia mudanças.

Ainda assim, o vice-prefeito João Izael saiu vitorioso das urnas. Esse triunfo foi fruto de uma “hipnose” coletiva. No pleito de 2004, a população engoliu a ideia de que a “melhor mudança seria João”. E promoveu uma alteração inerte.   Izael, uma estrela cintilante do establishment, saciou a eterna sede de alternância.  O publicitário Peron Colombo plantou o mote da campanha no imaginário popular: “a melhor mudança é João”. O itabirano abraçou o discurso do marketing e trocou o mesmo pelo mesmo. E deu no que deu.

Na corrida eleitoral do ano passado- mesmo com uma performance administrativa bastante   eficiente e considerável aprovação popular-    Ronaldo Magalhães foi derrotado pelo “desconhecido” Marco Antônio Lage. Um resultado surpreendente apenas para quem não conhece a eterna síndrome de mudança dos habitantes de Mato Dentro. Mas o povo dessas bandas ainda exibe duas delicadas características: a impaciência e o imediatismo.

O novo prefeito conhecerá agora as misteriosas manias políticas de seus conterrâneos. Uma governança   neófita necessita certo tempo para pegar no tranco. Um ano é prazo justo e aceitável. Essa constatação é tão natural quanto óbvia. Mesmo porque, a Prefeitura é uma máquina de funcionamento complexo e o município apresenta relevantes problemas sociais, econômicos e ambientais.

Mas o itabirano já entrou no modo “cobrança”.  A paciência dessa gente é microscópica e o imediatismo nato exige resultados pra ontem.  E assim, nesse momento, começam as noites de insônias do tal “novo Marco”.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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