Editorial DeFato: A Vale precisa “agendar” Itabira

Seria um gesto importante para a empresa, para seus acionistas, mas sobretudo para a população itabirana que os executivos de ponta da Vale se prontificassem a conhecer in loco as jazidas de onde partem os trens carregados de minério de ferro desde 1942

Editorial DeFato: A Vale precisa “agendar” Itabira

O balanço divulgado nesta terça-feira, dia 26, pela Vale deixa claro o quanto Itabira é importante para a contabilidade geral da empresa. No ano passado, segundo os números da empresa, a produção de Itabira cresceu 10% em relação a 2017, alcançando 41,7 milhões de toneladas de ferro. Ainda assim, com números tão expressivos, não se tem nenhuma notícia de que a cidade de Itabira tenha alçado algum espaço na agenda dos executivos da empresa. 

Na cidade-berço da Vale, até agora, nada mudou em relação ao sentimento de abandono que reina quanto ao tratamento dispensado pelos altos executivos da companhia. Quantas vezes a direção da Vale esteve em Itabira para saber das demandas da cidade onde a companhia nasceu e que, daqui a dez anos somente, verá o último trem embarcar?

Quantas vezes a direção da Vale veio ver “in loco” os estragos ambientais, urbanísticos e mesmo sociais que a exploração minerária provocou ao longo de 77 anos de atividade? São questionamentos que os itabiranos têm feito há muito tempo e que se intensificaram com os graves acontecimentos que têm maculado a atividade minerária ultimamente.

Chama a atenção, por exemplo, que o presidente afastado da Vale, Fabio Schvartsman, não tenha visitado Itabira uma única vez nos quase dois anos em que ocupou o posto máximo da empresa. Talvez o presidente interino, Eduardo Bartolomeo, se predisponha a mudar esse enredo e, o quanto antes, inclua Itabira na agenda sua e dos demais diretores nacionais da empresa. É um ponto a conferir.

Seria um gesto importante para a empresa, para seus acionistas, mas sobretudo para a população itabirana que os executivos de ponta da Vale se prontificassem a conhecer in loco as jazidas de onde partem os trens carregados de minério de ferro desde 1942. Não se trata de mero simbolismo. São, antes de mais nada, iniciativas que poderiam trazer um pouco mais de tranquilidade à população itabirana hoje apreensiva com seu futuro.

Itabira cresceu junto com a mineradora, alimentando-a e se alimentando dela. O que os itabiranos esperam de verdade, portanto, é que a Vale trate a cidade-berço da empresa com a mesma importância que esta teve na formação do seu caixa, na constituição do seu patrimônio, na construção da sua cadeia de valor. Na sua imagem e na sua reputação.

Dito isso, fica fácil entender a angústia dos itabiranos com a ausência da direção da Vale no debate tardio que se trava sobre o futuro da cidade sem o minério. Ou nas discussões sobre a segurança das barragens. Ou ainda sobre as inúmeras demandas que a cidade tem relacionadas a problemas urbanos herdados da exploração do seu rico subsolo.

Que não seja preciso uma tragédia para que aqui desembarquem os comandantes da empresa. A cidade fica ressentida com o notório desprezo com que figura nas agendas de seus diretores e executivos principais, lotados na sede que fica no Rio de Janeiro.

  • Baseado em Editorial publicado na edição 57 do jornal “DeFato Cidades Mineradoras“, que começou a circular nesta terça-feira, dia 26/03/2019