Comunidade quilombola em Bom Jesus pode virar documentário

Secretaria de Cultura e Turismo desenvolveu um projeto que será inscrito em leis de incentivo e que contará a história da Comunidade Quilombola do Felipe

Comunidade quilombola em Bom Jesus pode virar documentário
Foto: Fernando Gonçalves

Parte importante da construção histórica do Brasil, os quilombos ainda sofrem com o descaso, abandono, preconceito e, muitas vezes, com a perda da sua memória. Porém, a cidade de Bom Jesus do Amparo, em Minas Gerais, vem trabalhando para mudar esse cenário, dando resgatando a identidade da Comunidade Quilombola do Felipe. Para isso, a Secretaria de Cultura e Turismo pretende filmar um documentário sobre a história da localidade rural.

A história da Comunidade Quilombola do Felipe se confunde com a própria história de Bom Jesus. De acordo com Ivan Fonseca, secretário de Cultura da cidade mineira, a localidade surgiu a partir da Fazenda São João — que tem papel importante na fundação do município. Foram os descendentes de escravos desse latifúndio que se reuniram e acabaram desenvolvendo o quilombo.

Com o passar das décadas, a Comunidade do Felipe foi perdendo a sua identidade e memória. Um processo causado pela falta de registros que pudessem contar a história dos ex-escravos e seus descendentes. Pensando nisso, Ivan Fonseca decidiu gravar um documentário que possa mostrar tanto a cronologia do quilombo quanto dar voz à luta de seus moradores — que têm o artesanato como uma de suas principais atividades.

Comunidade quilombola em Bom Jesus pode virar documentário
O artesanato é uma das principais fontes de renda da Comunidade Quilombola do Felipe. Foto: Fernando Gonçalves

“É uma comunidade preta e muito arredia, sem muito contato. Quando assumi a Secretaria de Cultura e Turismo fui a uma reunião lá, onde surgiu a ideia de se fazer um documentário, pois percebi que culturalmente eles já não lembravam muita coisa mais. Então o nosso papel com o filme, em relação à comunidade, é resgatar toda essa memória”, relatou Ivan Fonseca.

Inicialmente, a ideia do secretário de Cultura era desenvolver um filme de baixo custo. Porém, após procurar o escritório Trabalho Attente Produções, especializado em projetos para leis de incentivo, tudo mudou. A partir de visitas à Comunidade do Felipe e conversas com seus moradores, foi desenvolvido um documento que será inscrito na próxima semana em mecanismos de apoio à cultura com objetivo de arrecadar até R$ 400 mil.

“A princípio eu mesmo iria fazer esse documentário. Mas conversando com um escritório especializado vimos que podíamos inscrever na lei federal de incentivo à cultura. Então mandaram a Lice Calixto, coordenadora geral da Attente Produções, e a Lorena Jamarino, historiadora, até Bom Jesus. Elas visitaram duas vezes a comunidade e escreveram o projeto”, contou Ivan Fonseca.

Com esse recurso, será desenvolvido uma produção mais elaborada e que possa impactar ao relatar a difícil trajetória das comunidades quilombolas. A Secretaria de Cultura, inclusive, já vem dialogando com possíveis roteiristas para abraçar o projeto, com Ruy Jobim Neto sendo o nome mais provável. Além disso, vem construindo um diálogo com produtores para que possa distribuir o documentário em outros países — já há, inclusive, conversas avançadas para apresentar o filme em Cuba.

“Eu quero resgatar a história para mostrar o quanto o preto sofreu. Quero um documentário tenso, difícil de assistir e que faça com que as pessoas se mal por tudo o que os negros já passaram em nossa história. O objetivo é fazer as pessoas refletirem e perceberem como as atitudes racistas são prejudiciais”, destacou Ivan Fonseca.