Depois que passa… é fácil

O início de uma semana decisiva para as previsões econômicas do país é o tema do texto de hoje da colunista Rita Mundim

Depois que passa… é fácil

Essa semana será marcada por vários indicadores importantes para avaliarmos a inflação e os efeitos da inflação global nas perspectivas de retomada das economias. Teremos a divulgação do IPCA-15(índice de inflação do IBGE que mede o comportamento dos preços do dia 15 do mês anterior ao dia 15 do mês vigente) no Brasil e dos PMIs (Purchasing Managers’ Index, índice de atividade econômica calculado pela Markit) mundo afora.

A inflação de novembro medida pelo IPCA-15 será um termômetro da eficácia da política monetária mais agressiva do Banco Central brasileiro na ancoragem das expectativas da inflação futura, em especial, a de 2022 e de 2023. A autoridade monetária acredita que outubro tenha sido o ápice do processo inflacionário e a expectativa é de uma ligeira desaceleração em novembro com a inflação caindo de 1,25 % para 1,1%. Os efeitos de uma inflação alta e resiliente já são sentidos nos números das vendas ao varejo e até na inesperada desaceleração do setor de serviços em setembro.

É por isso que os números a serem divulgados nesta semana ganham tanta relevância, pois poderemos dimensionar a permanência dos impactos inflacionários na atividade econômica ou o início da eficácia da política monetária mais apertada implementada pelo Banco Central. Teremos, ainda nesta semana, os números da arrecadação da receita federal de outubro que pode não ser recorde como vem ocorrendo e ainda os da geração formal de empregos, o CAGED que pode mostrar uma geração mais tímida de novos postos formais de trabalho.

Tudo isso acontece em um momento em que o aumento de casos de Covid-19 na Europa leva países de volta ao isolamento social e eleva os níveis de incerteza em relação à intensidade e velocidade de recuperação da economia global. Essa possível diminuição da mobilidade global fez com que o barril de petróleo caísse 10% nos últimos dias e ainda influenciou negativamente o comportamento das bolsas europeias e americanas que interromperam o processo de valorização ocorrido em outubro, após a divulgação dos balanços do terceiro trimestre.

Aqui no Brasil as incertezas globais são agravadas pelas incertezas locais em relação à votação da PEC dos precatórios no Senado. Pelo que parece o texto aprovado e enviado pela Câmara deve sofrer modificações o que acarretaria o retorno do mesmo para nova rodada de aprovação pela Câmara.

Resumo da ópera: teremos mais uma semana agitada e que pode intensificar o nível de desconto imposto ao Brasil pelo mercado. E por que eu estou falando tudo isso? Porque depois que passa fica fácil analisar e explicar o que já aconteceu, mas nesse momento o Brasil está sofrendo um desconto exagerado em relação ao estado estrutural de sua economia.

Um país que vai crescer 5% esse ano e no mínimo 1,5% no ano e que viu o lucro de suas empresas negociadas em bolsa crescer em média 128%, se compararmos os números do terceiro trimestre deste ano em relação ao terceiro trimestre do ano passado não pode ter a bolsa com pior performance global com queda de 13 % no ano. O nível da taxa real de juros não condiz com o nível de recuperação da economia e em especial com a força do crescimento da arrecadação da receita, do setor exportador, da geração de empregos formais e dos contratos de concessões já firmados.

A disputa eleitoral de 2022 está na mesa, mas na economia real muita coisa tem acontecido além dos ruídos políticos. Na minha opinião, nesse momento, diante das condições de temperatura e pressão, o Brasil está sendo precificado como uma grande oportunidade para investimentos.

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis

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