FIES bancou “até filho de porteiro”, diz Guedes

Ministro da Economia fez comentários sobre financiamento para estudar em universidades particulares brasileiras em reunião do Conselho de Saúde Complementar

FIES bancou “até filho de porteiro”, diz Guedes
O ministro Paulo Guedes. Foto: Fernando Frazão Agencia Brasil

Sem saber que era gravado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reclamou que o governo federal deu bolsas em universidades para “todo mundo” por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Segundo o ministro, que não citou detalhes ou provas, até quem não tinha a “menor capacidade” e “não sabia ler nem escrever” entrou na graduação por esse caminho. Guedes disse que o filho do seu porteiro foi beneficiado mesmo após zerar o vestibular, ainda que o programa exija nota mínima.

Para o ministro, o Fies foi um “desastre” que enriqueceu meia dúzia de empresários. As falas de Guedes foram feitas em reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu), na terça-feira. “O porteiro do meu prédio, uma vez, virou para mim e falou assim: ‘Seu Paulo, eu estou muito preocupado’. O que houve? ‘Meu filho passou na universidade privada’. Ué, mas está triste por quê? ‘Ele tirou zero na prova. Tirou zero em todas as provas e eu recebi um negócio dizendo: parabéns, seu filho tirou…’ Aí tinha um espaço para preencher, colocava ‘zero’. Seu filho tirou zero. E acaba de se endereçar a nossa escola, estamos muito felizes”, disse Guedes. Além do ministro da Economia, participaram da reunião o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, e da Justiça, Anderson Torres. Ainda acompanharam o debate representantes do Ministério Público Federal e da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

O Fies é um programa do governo federal que concede financiamento para estudantes cursarem o ensino superior em universidades privadas. Pelas regras mais recentes, pode receber o financiamento quem participou do Enem, a partir de 2010, e obteve média aritmética das provas igual ou superior a 450 pontos e não zerou a redação. Criado em 1999 e ampliado em 2010, o programa já teve critérios diferentes. Guedes não citou quando o suposto filho de seu porteiro foi beneficiado. As críticas de Guedes a foram feitas no momento em que o ministro defendia que a iniciativa privada é mais eficiente que o poder público. O programa, porém, foi apontado como exemplo de que é preciso ter cautela ao subsidiar o acesso ao serviço privado. “Foi de um extremo a outro”, disse o ministro.

Guedes afirmou que percebeu a deficiência da rede pública e passou a investir, décadas atrás, na educação privada. “Acho que vai acontecer a mesma coisa na saúde”, disse. Ele chegou a afirmar que uma solução para garantir o acesso da população aos serviços de saúde seria a entrega de “vouchers”. “Você é pobre? Você está doente? Está aqui seu voucher. Vai no Einsten, se você quiser”, declarou o ministro, em referência ao Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Para ilustrar a crise na educação, Guedes disse que as universidades estão em estado “caótico”. “Paulo Freire. Ensinando sexo para criança de 5 anos. Todo mundo… maconha, bebida, droga. Dentro da universidade. Estado caótico. Eu prevejo o mesmo fenômeno para a saúde”, disse o ministro.

Para o ministro, ainda o Estado brasileiro “quebrou” e não tem capacidade de acompanhar inovações na educação e saúde. “Quebrou no exato momento em que o avanço da medicina, não falo nem da pandemia. Falo do direito à vida. Todo mundo quer viver 100 anos, 130 anos. Todo mundo (quer) procurar serviço público. E não há capacidade instalada no setor público para isso. Vai ser impossível”, disse Guedes.

Após descobrir que estava sendo gravado, Guedes disse que as críticas tratavam apenas de algumas universidades. Ele afirmou ainda que estudou em escolas públicas e disse ser a “prova viva” de que com “algum investimento” uma pessoa pode sair da classe média baixa e ter “sucesso na vida profissional”. Procurada, a Economia não se manifestou.

SUS

Para ilustrar a suposta ineficiência do SUS, Guedes disse que um paciente fica “oito dias deitado” no hospital público, depois de uma cirurgia, enquanto a alta ocorre na manhã seguinte em uma unidade privada. “No hospital privado, chega e bate na porta: ‘Fez cirurgia ontem de apendicite?’ De manhã cedo, ‘está com febre?’. ‘Não’. ‘Vamos embora. Vamos sair da cama aí, pô..’ No hospital público o cara fica oito dias deitado, aí tem uma fila no corredor querendo entrar. Não tem gestão.”

O ministro da Saúde disse que as declarações do ministro reforçam a agenda liberal do governo Bolsonaro, mas afirmou que universidades públicas formam os melhores profissionais de saúde no País e lideram pesquisas na área. Queiroga disse ainda que falta transparência em dados do setor privado, como de internações e mortes pela covid-19. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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