ProAntar: projeto inédito para a Unifei é cancelado por falta de recursos
Sem a verba prevista de R$ 1,3 milhão, mais de 20 pesquisadores, institutos e universidades nacionais e internacionais não conseguem desenvolver a pesquisa
Um projeto inédito para a Universidade Federal de Itajubá (Unifei), que integra o Programa Antártico Brasileiro (ProAntar), foi cancelado por falta de recursos. A iniciativa tinha como propostas desenvolver pesquisas sobre a Antártica e a América do Sul.
A pesquisa de orçamento avaliado em 1,3 milhão foi aprovada em 2018 e seria financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) este ano.
Devido aos cortes orçamentários efetuados pelo governo federal, a equipe de pesquisadores recebeu uma mensagem da diretoria executiva do CNPq, em julho deste ano, informando que o programa havia saído da lista de iniciativas contempladas, pois a contratação do projeto estava condicionada à disponibilidade orçamentária e financeira de 2019
Sem os recursos, mais de 20 pesquisadores, institutos e universidades nacionais e internacionais não conseguem desenvolver a pesquisa no ProAntar, na Estação Antártica Comandante Ferraz.
Segundo o diretor do Instituto de Recursos Naturais da Unifei, Marcelo de Paula Corrêa, a execução do projeto seria de grande importância para o fortalecimento das pesquisas e colaborações com instituições nacionais e internacionais, não só na área de meteorologia, mas também nos estudos sobre a camada de ozônio, efeitos da poluição no clima e outras áreas do conhecimento.
“O CNPq havia garantido a aprovação do projeto e a liberação dos recursos em 2019. Ficamos muito felizes e fizemos vários anúncios contando da nossa participação histórica. É uma pesquisa importantíssima do ponto de vista científico que abriria portas para uma série de outras atividades como em ciências biológicas, interação oceano atmosfera, várias outras ciências”, disse o diretor.
Marcelo Corrêa seria o coordenador do projeto no Brasil. Ele disse que o CNPq disponibilizou a estrutura do ProAntar para o desenvolvimento da pesquisa caso houvesse financiamento de outras fontes. Porém, segundo Marcelo, fica inviável a realização dos estudos de ciência de base sem o financiamento público.
“Nós tínhamos a garantia de que o projeto seria contemplado. Foi uma grande ducha de água fria. Foi feito uma solicitação de revisão da situação, mas diante do atual cenário de cortes nas áreas da educação e ciência, o resultado não deve ser positivo”, disse Marcelo.
A repercussão internacional do cancelamento do projeto foi bastante negativa, segundo o diretor. Ele afirma que pela primeira vez não haverá pesquisas sobre atmosfera, camada de ozônio e poluição na Antártica, dentro do ProAntar.
“É um grande revés em nossas atividades de pesquisa. Estamos de mãos amarradas e tendo que justificar aos colegas que uma restrição orçamentária inviabiliza o projeto”, diz Marcelo Corrêa.
A pesquisa
O projeto previa a realização de estudos sobre a dinâmica e as conexões associadas dos processos atmosféricos relacionados à distribuição da camada de ozônio, radiação UV e aerossóis entre as regiões Antártica e Equatorial da América do Sul.
As atividades seriam coordenadas pelo professor Marcelo de Paula Corrêa em parceria com os institutos Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), além das universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN), do Oeste do Pará (Ufopa) e de Santa Maria (UFSM) e de universidades e centros de pesquisa da Argentina, Chile e Bolívia.
Segundo o professor Marcelo seria a participação no projeto seria uma excelente oportunidade para alunos de graduação e pós-graduação da universidade.
“A aprovação do projeto reafirma a consolidação do corpo docente do curso de graduação em Ciências Atmosféricas como um dos mais produtivos da Unifei e abriu novas oportunidades para o recém-aprovado Doutorado em Meio Ambiente e Recursos Hídricos”, disse Marcelo.
Além do corte no projeto do ProAntar, Marcelo conta que mais outras pesquisas realizadas na Unifei e coordenados estão com as atividades suspensas por falta de recursos. Ambas financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Cortes pelo Estado
A estudante de engenharia de materiais da Unifei do campus Itabira, Luana Paula Gomes Ferreira, também teve a sua pesquisa afetada pelos cortes orçamentários. Os estudos realizados desde 2018, foram interrompidos por falta de recursos para pagamento de bolsas aos pesquisadores.
A estudante realiza estudos sobre o comportamento de alguns materiais metálicos com aplicação principalmente na área marítima. Segundo ela, a pesquisa é crucial para determinar tolerâncias da utilização em barcos e navios. Luana recebia uma bolsa no valor de R$ 400 para se dedicar exclusivamente à pesquisa.
“Eu participei da seleção, preenchi todos os requisitos da vaga, mas, por falta de verbas, a continuação da pesquisa foi simplesmente cancelada. Estou muito chateada, pois dedicamos à pesquisa e de repente a bolsa é cortada”, disse a estudante