Conheça Tiaguinho: itabirano foi o primeiro a crescer com um marca-passo na América Latina

O itabirano Tiago Bretas colocou um marca-passo assim que nasceu e recebeu um novo coração quando adulto

Conheça Tiaguinho: itabirano foi o primeiro a crescer com um marca-passo na América Latina
Tiaguinho cresceu acompanhando corridas de Fórmula 1. Foto: acervo pessoal

Foi ainda durante a gravidez que a Luziene Lage Magalhães, a mãe de Tiago Bretas, soube que o coração do itabirano realizava poucos batimentos. A notícia que veio depois trouxe ainda mais preocupação: o pequeno teria que colocar um marca-passo. Nos meados dos anos noventa, o procedimento ainda não havia tido tanto sucesso, evoluindo a óbito na maioria dos casos em crianças. 

“Assim que nasci, já colocaram o marca-passo em mim e foi aquela loucura, né? Minha mãe morrendo de preocupação… Acho que ela demorou 30 dias para me pegar no colo pela primeira vez porque fiquei na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Depois, recebi alta; nasci bem levinho, mas fui caminhando com o marca-passo”, conta Tiago Bretas, o primeiro bebê a sobreviver com um marca-passo na América Latina.

A doença que diminui os batimentos cardíacos de Tiaguinho, a princípio, foi o bloqueio atrioventricular total. Durante sua infância e adolescência, seu coração tinha o dobro do tamanho comum. 

Cuidados

Com o tempo, outras comorbidades foram surgindo, necessitando de alguns cuidados ao longo do seu crescimento. Apesar da adaptação, Tiago Bretas relata não ter atrapalhado brincar de pega-pega ou jogar bola: “Brincava uns dez minutos, descansava um pouquinho e voltava. Às vezes, cansava e ia de goleiro. Ou então, quando estava brincando, pedia: ‘Vamos trocar de brincadeira?’ Acho que todo mundo entendia”. 

Apesar dos cuidados, o menino teve uma infância comum. Foto: acervo pessoal

O cardiologista Willian Christiano de Faria atende pelo Hospital Nossa Senhora das Dores e explica que os cuidados com o dispositivo são semelhantes em qualquer idade. A diferença é que, nas crianças, o pequeno gerador pode ser implantado no abdômen. 

Por ser de metal, o aparelho é sensível a ondas eletromagnéticas, o que requer atenção do paciente em algumas situações. “Aparelhos domésticos como micro-ondas, como a exposição é pequena, recomenda-se apenas não ficar próximo ao aparelho durante o uso. Da mesma forma, o telefone celular também pode causar interferência eletromagnética, sendo recomendado distância de pelo menos 15 cm do marca-passo, ou seja, usar o telefone sempre do lado oposto ao que ele foi implantado”, explica o cardiologista. 

Outra situação que pode gerar desconforto é a passagem por detectores de metal, como os das portas giratórias nos bancos. Nesse caso, o médico alerta para que o portador desses dispositivos sempre leve consigo a carteirinha que comprova o uso do marca-passo. Apesar de passar pela porta lateral, o vigia do banco ainda poderá usar um detector de metais portátil, que não oferece risco pelo tempo de exposição e energia empregada.

Um novo coração

No seu terceiro período do curso de Direito em Belo Horizonte, Tiaguinho começou a sentir um cansaço maior, além de falta de apetite e enjoo. Após a realização de exames, o itabirano foi internado no hospital Biocor e, depois, no Hospital das Clínicas, onde recebeu a notícia de que precisaria de um transplante. 

Após uma batelada de exames e uma dieta para aumentar os seus 40 quilos, Tiago entrou na fila por um coração. Foram quatro meses de espera. “Estava no quarto batendo papo com meu primo quando médico falou: ‘Você vai fazer transplante’. Quatro meses esperando, a família fazendo grupo de oração… Eu não participava, porque eu achava que deveria viver. Eu queria acompanhar futebol, Fórmula 1!”, conta. 

Tiago logo após o transplante de coração. Foto: acervo pessoal

O cardiologista Willian aponta que o transplante é um tratamento muito eficaz e que melhora muito a qualidade de vida de quem recebe o órgão. 

A expectativa de vida de pessoas transplantadas aumenta para cerca de 80% no primeiro ano e 60% após o quinto, com média de 11 anos. “Às vezes, as pessoas podem achar pouco o tempo, mas é preciso entender que, quando se chega a necessitar de um transplante cardíaco, a grande maioria das pessoas tem apenas alguns dias ou poucos meses de vida e sem nenhuma qualidade”, defende o médico. 

Após o transplante, Tiaguinho ficou 15 dias internado. Depois disso, foi incluindo aos poucos a atividade física, a começar por 20 minutos de caminhada. Voltou para a faculdade e se formou com um Trabalho de Conclusão de Curso sobre o tema.

“Muitos transplantados são de baixa renda e têm dificuldades educacionais, o que complica a explicação dos cuidados necessários após o transplante. Os direitos básicos são garantidos pela Constituição, como medicamentos gratuitos para todos os cidadãos brasileiros, mas não há benefícios específicos para transplantados”.

Ter coragem foi essencial para a sua recuperação. Para Tiago, não se deixar vencer pelo medo foi o seu melhor tratamento: “O medo atrapalha mais do que ajuda na vida. Temos que ter cuidado, fazer exames e acompanhamento médico, mas viver com medo não resolve nada”, defende.

Hoje, com 28 anos, Tiaguinho agradece por ter recebido uma nova chance. Foto: acervo pessoal