Marco Antônio Lage sobe o tom e cobra vereadores por empréstimo de R$ 70 mi

O discurso do prefeito aconteceu durante live na noite de quinta-feira. Ele quer que a Câmara vote novamente autorização para que a Prefeitura de Itabira contraia um empréstimo junto à Caixa

Marco Antônio Lage sobe o tom e cobra vereadores por empréstimo de R$ 70 mi
Foto: Reprodução
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O prefeito Marco Antônio Lage (PSB), durante live realizada na noite de quinta-feira (10), subiu o tom e cobrou os vereadores pela não aprovação de um empréstimo de pouco mais de  R$ 70 milhões junto a Caixa Econômica Federal. O recurso, segundo a Prefeitura de Itabira, seria utilizado para custear um pacote de obras de infraestrutura da cidade. Na última terça-feira (8), a proposta do Município foi derrubada em votação no plenário do Legislativo.

Durante a transmissão ao vivo, Marco Antônio Lage apresentou um vídeo com relatos de itabiranos sobre problemas enfrentados em seus bairros e na zona rural. Ele, também, justificou a opção pelo empréstimo para a realização das obras estruturantes. “É um financiamento barato demais, de 3,6% ao ano. Um dinheiro que a Caixa Econômica Federal disponibiliza especialmente para as prefeituras. Portanto era uma uma expectativa muito grande porque nós encontramos uma cidade sucateada”, afirmou.

O prefeito, ainda, fez um apelo para que os vereadores repensem o seu posicionamento e retomem o projeto na Câmara de Itabira — já que o regimento interno da Casa permite que o projeto de lei retorne à pauta caso seja apresentada pela maioria dos parlamentares. “A gente espera, da relação madura que temos com os vereadores, que eles venham para o nosso lado, que eles apoiem a população de Itabira”, destacou.

Porém, à medida que a live foi avançando, Marco Antônio Lage foi endurecendo o seu discurso. Ele ressaltou que o governo recebeu centenas de indicações dos próprios vereadores para realização de obras — e aproveitou para criticar, sem citar nomes, a última gestão municipal. “Nós recebemos em cinco meses de governo, só na Secretaria de Obras, mais de 1.300 indicações de obras, quase a metade, 600 indicações, vieram dos vereadores. Isso em apenas cinco meses. Isso é o retrato de uma cidade sucateada. Porque o governo anterior simplesmente esqueceu que esses bairros existem. Ficaram aqui nesse gabinete, nas secretarias, formulando projetos de grandes obras, mas que não chegam na periferia”, disparou.

Para os vereadores,  Marco Antônio Lage mandou um recardo afirmando que a população itabirana poderá cobrar deles a falta de ações em prol da cidade. Com esse discurso, o prefeito tenta trazer a opinião popular para reforçar os seus argumentos no embate com o Legislativo. “Estamos conversando muito e vamos continuar conversando para explicar melhor, mas a população também vai nos ajudar a explicar. E a população cobra, ela sabe cobrar, vai cobrar de mim e dos vereadores daqui a três anos e meio. Não adiante chegar no último ano [do mandato] e tentar reverter a situação que não consegue. Quem estiver a favor do povo vai ser bem avaliado. Quem estiver contra o povo de Itabira vai ser mal avaliado”, alertou.

O prefeito também considerou que o empréstimo foi derrubado pela “politicagem”. “Eu acho que a oposição, quando é inteligente, quando quer debater a cidade, até ajuda. Ajuda o prefeito e aponta os erros. Temos de ter uma relação profissional com todos os vereadores. Poder Executivo e Legislativo precisam ter um entrosamento melhor. Não podemos deixar que política ou politicagem possam interferir nos benefícios do povo”, avaliou.

Porém, não poupou críticas ao principal oposicionista ao seu governo: Neidson Dias Freitas (MDB). O vereador, durante a votação do empréstimo, apresentou demonstrativo do Sistema Informatizado de Contas dos Municípios (Sicom), onde, segundo ele, a Prefeitura dispõe de R$ 204 milhões em caixa. O emedebista também demonstrou projeções de receita que apontam que a Prefeitura pode se aproximar de uma arrecadação histórica de quase R$ 800 milhões ao ano, puxada pela alta nos preços do minério de ferro e dos royalties da mineração.

De acordo com o prefeito, essas informações não traduzem a realidade. “Eu quero esclarecer que não tenho dinheiro no caixa para fazer essas obras. Isso é fake news, isso é mentira ou desconhecimento total. É até estranho vereador velho de guerra, vereador que tá aí com muitos mandatos não saber ler o caixa contábil da Prefeitura até hoje. Deixa eu ensinar: tem um dinheiro que está no caixa da Prefeitura que não é livre, que é para pagar conta. Você não pode sair usando dinheiro dos fundos porque são recursos direcionados para o custeio da Prefeitura”, bradou.

Mesmo questionando o posicionamento dos vereadores — que tem autonomia para tomada de decisões — e conclamando para que a população faça cobrança por uma mudança de entendimento sobre o empréstimo, levando o texto a uma nova votação, Marco Antônio Lage garantiu que não quer uma Câmara subserviente ao seu governo. “Eu não quero uma Câmara submissa. O que eu quero é uma Câmara autônoma, é isso que vai nos dar essa sustentabilidade. Jamais esse prefeito vai mandar ou impor votações à Câmara”, declarou.

Desgaste entre Executivo e Legislativo

Conflitos de comunicação agravaram o relacionamento entre Câmara e Prefeitura. Nas avaliações de Weverton Leandro Santos Andrade “Vetão” (PSB), presidente do Legislativo, e de Rosilene Félix (MDB), vice-presidente da Casa, o governo de Marco Antônio Lage (PSB) ainda não afinou a forma de se relacionar com o parlamento, crucial para avançar nas políticas de desenvolvimento da cidade.

“Eu vejo que há, realmente, a necessidade do governo em melhorar o contato com os vereadores. (…) uma necessidade de se discutir melhor, de entender a importância da Câmara. As minhas tratativas com o prefeito estão sendo harmoniosas. Só que como presidente da Câmara eu tenho que respeitar os meus pares, entender que o voto de cada um é legítimo”, afirmou Vetão.

Já Rose Félix destacou acreditar que “as questões tomadas na Câmara, em primeiro lugar, devem ser respeitadas. Da mesma forma que nós aprovamos vários projetos do prefeito — aprovamos, inclusive, um projeto contra a própria Câmara: o do orçamento impositivo — essa reprovação [do empréstimo] neste momento se dá por entender que ele está mal planejado. Essa reprovação por si só não deveria servir de parâmetro para estremecer uma relação com o Legislativo”, lamentou.

O líder do governo na Câmara, Júber Madeira (PSDB) reconheceu o que chamou de “ruídos” entre os poderes. “Nós estamos trabalhando nesse sentido, vamos ao Executivo, até o governo, para levar os anseios dos vereadores. (…) Precisamos estabelecer acordos sólidos para que a gente não prejudique a população de Itabira. Itabira não pode ser prejudicada mediante as nossas tratativas políticas. Pelo contrário, precisamos criar um consenso, um entendimento de que todas as ações que saem do parlamento são importantes para Itabira”.

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Votação

O projeto de lei (PL) 48/2021, de autoria da Prefeitura de Itabira e que trata da operação, foi derrotado por dez votos, contra seis favoráveis e uma abstenção durante a 18ª reunião ordinária, realizada na tarde de terça-feira.

No placar, rejeitaram a contratação do empréstimo os emedebistas Neidson Freitas, Rose Félix, Luciano “Sobrinho” e Robertinho “da Autoescola”; os vereadores do PTB Júlio “Contador”, Heraldo Noronha, Rodrigo “Diguerê” e Sidney do Salão;  além de “Tãozinho” Leite (Patriota) e Reinaldo Lacerda (PSDB).

Foram favoráveis Júber Madeira e Carlos “Sacolão”, do PSDB, Bernardo Rosa (Avante), Carlos Henrique (PDT), Júlio “do Combem” (PP) e Marcelino Guedes (PSB). O presidente da Casa, Vetão (PSB) se absteve.

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