Minas Gerais reconhece as violas como patrimônio cultural do estado
O reconhecimento possibilita preservar, valorizar e compreender o universo das violas
O Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) aprovou o Registro dos Saberes, Linguagens e Expressões Musicais da Viola em Minas Gerais como patrimônio cultural imaterial. A preservação desses elementos tem grande importância pelos seus valores históricos, socioculturais e identitário para o estado. O reconhecimento possibilita preservar, valorizar e compreender o universo das violas.
A importância desse registro é destacada pelo secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, que vê no trabalho das equipes do Iepha-MG mais uma contribuição relevante para o reconhecimento e a salvaguarda do patrimônio imaterial mineiro. “É empolgante o número de músicos e luthiers envolvidos, cada qual revelando detalhes distintos de um verdadeiro universo de criatividade”, diz o secretário.
Para a presidente do Iepha-MG, Michele Arroyo, os toques da viola ajudam a conhecer e reconhecer as diferentes Minas Gerais, com suas variadas regiões, crenças e valores, ao passo que sintetiza a essência cultural do estado ao se fazer presente em contextos os mais diversos.
“Com o reconhecimento da importância da viola como patrimônio de Minas Gerais, inicia-se uma nova etapa no trabalho do Iepha, que se volta, agora, para a construção de políticas públicas de salvaguarda e valorização do saberes e expressões culturais diretamente relacionadas à tradição deste instrumento tão ligado às tradições mineiras”, enfatiza Michele Arroyo.
A diretora de Proteção e Memória do Instituto, Françoise Jean, ressalta que “a música da viola possui uma capacidade de mobilização de sentimentos, de ativação de memórias, de criação de conexão entre o mundo rural e a moderna metrópole, entre tempos passados e o presente, entre pais e filhos, entre a cultura profana e as expressões do sagrado”.
Françoise acrescenta ainda que o ritmo da viola, ao assumir a função de mediadora de sentidos, apresenta claro valor de identidade e de memória para sociedade mineira.
Segundo a gerente de Patrimônio Imaterial do Iepha-MG, Debora Raiza, o som da viola compõe a paisagem sonora de Minas Gerais da mesma forma que nossos sotaques e sons característicos. “A viola está presente no Brasil todo, mas em cada lugar ela tem um espaço de reprodução próprio daquele contexto”, ressalta.
Para Debora, este é um momento de valorização dessa cultura tão importante para o estado. “Em Minas Gerais, ela está presente em expressões artísticas como o congado, a folia, a catira, a roda de viola, a Ddança de São Gonçalo e o batuque. Raramente essas expressões ocorrem sem a presença da viola”, afirma Debora.
O Registro dos Saberes, Linguagens e Expressões Musicais da Viola em Minas Gerais passa a integrar o conjunto dos bens culturais reconhecidos como patrimônio de natureza imaterial do estado: O Modo de Fazer o Queijo Artesanal da Região do Serro (2002), Comunidade dos Arturos, de Contagem (2013), Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte (2014) e as Folias de Minas (2017).
Celebração
Para festejar esse grande momento da cultura mineira com o reconhecimento das violas como patrimônio cultural de Minas Gerais, violeiros e violeiras se reuniram na Praça da Liberdade. O show “Violas de Minas” contou com a participação de Pereira da Viola, Chico Lobo, Wilson Dias, Letícia Leal, dentre outros nomes. Quem esteve no evento ouviu folias, catiras, modas e outros ritmos da viola.
“Por ser mulher neste cenário, foi um privilégio representar, ali no palco, tantas pessoas. Um dia mágico que será celebrado por muito tempo. Todos que participaram deste processo, direta ou indiretamente, ajudaram a contar essa história”, falou Letícia Leal, representando as violeiras do estado.
Para Chico Lobo, o registro das violas é motivo de orgulho para todos os violeiros e violeiras, que estão em festa. “Para mim, violeiro que há 40 anos abraço a viola e a cultura de Minas Gerais, é uma emoção sem medida o reconhecimento da viola e seus saberes como Patrimônio Imaterial. É entender a alma de Minas, sua riqueza e a pureza nos braços da viola, instrumento tão fundamental nos fazeres e saberes de nosso povo e que se conecta com muito vigor com nossa atualidade”, enfatizou.
Ainda segundo o violeiro, quem vive da viola ou com a viola ficará mais motivado. “Um reconhecimento que vai gerar infinitos benefícios a todos”, completou Chico Lobo.
A apresentação do show “Violas de Minas” celebrou a conclusão dos estudos sobre as violas e seu reconhecimento como patrimônio cultural de Minas Gerais, e foi realizado pelo Iepha-MG, com o patrocínio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
Seminário
Em maio de 2017, como parte do inventário, foi realizado pelo Iepha-MG, o seminário “Violas: modos de fazer e o tocar em Minas”. Durante dois dias, no auditório do BDMG Cultural, se reuniram, para um grande debate, pesquisadores, violeiros tradicionais e pessoas que trabalham o tema.
O seminário foi fundamental para delinear que o registro seria sobre os modos de fazer do universo das violas, suas linguagens e expressões musicais. Dos saberes, foram considerados tanto a preservação do conhecimento de tocar como o de fabricar a viola. Das linguagens, o código compartilhado das afinações e ritmos. E das expressões musicais, todas aquelas em que a viola está presente.
Resultados do cadastro
Uma plataforma de cadastro foi disponibilizada no site do Iepha-MG, na qual foram cadastrados mais de 1.350 violeiros e 90 fazedores de viola. Para fins de análise foram considerados os cadastros realizados até o mês de janeiro de 2018, e novos cadastros continuam a serem recebidos. A proposta é que a plataforma permaneça aberta continuamente.
O formulário de cadastro foi elaborado pela equipe da Diretoria de Proteção e Memória do Instituto com o auxílio de violeiros e construtores de viola a partir de suas percepções e vivências. O mapeamento foi lançado em março do ano passado no site do Iepha-MG e permanece disponível no endereço eletrônico www.iepha.mg.gov.br.
A partir das respostas do cadastro e de pesquisas de campo em várias regiões de Minas, foi feito um mapeamento dos fazedores e violeiros, identificando os muitos aspectos relativos às suas formas de tocar e de fazer a viola, além de um inventário das expressões e celebrações culturais que tem a viola como um dos elementos estruturantes.
Após a análise, identificou-se em Minas Gerais a existência de mais de 30 ritmos diferentes, a maioria pertencente ao universo de ritmos da chamada “música caipira”, com destaque para o pagode.
Alguns violeiros e violeiras também apontaram como ritmos congado, folia, batuque, catira, cururu, lundu e chula, que se referem às bases rítmicas das expressões culturais correspondentes. Os tocadores também apontaram ritmos mais comuns no Norte de Minas, mais conhecidos como toques, tais como inhuma, ludovina, lundu e onça.
Quanto à distribuição dos violeiros no território de Minas Gerais, a primeira posição em que se concentra a maioria dos violeiros é ocupada pelas regiões do Sul/Sudoeste de Minas e do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, ambos com 21%.
Em seguida tem-se a Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH (19%), a Zona da Mata (8%) e o Norte de Minas, a Central Mineira e o Campo das Vertentes cada uma com 6%. As demais mesorregiões apresentaram um número consideravelmente menor de cadastros: Oeste de Minas e Jequitinhonha (4%), Vale do Rio Doce (3%), Noroeste de Minas (2%) e Vale do Mucuri (1%).
O resultado do mapeamento realizado pelo Iepha-MG contribuiu para a instrução do processo de Registro dos Saberes, Linguagens e Expressões Musicais da Viola em Minas Gerais. Esse estudo demonstra a presença significativa das violas nas principais expressões culturais de Minas Gerais, dentre elas a Folia de Reis, bem cultural imaterial também registrado pelo Iepha-MG.