Avanço do Centrão sobre cargos e verbas provoca queixas de aliados de Lula

A pressão do Centrão ocorre num momento em que o governo tenta garantir apoio no Congresso, principalmente para aprovação das pautas econômicas

Avanço do Centrão sobre cargos e verbas provoca queixas de aliados de Lula
Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem enfrentado descontentamento dos seus aliados sobre cargos e valores destinados ao Centrão. Na semana passada, o presidente entregou a presidência da Caixa Econômica Federal (CEF) ao servidor de carreira Carlos Vieira, indicado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) — ainda assim, partidos do Centrão cobram mais verbas e postos no governo.

A pressão do Centrão ocorre num momento em que o governo tenta garantir apoio no Congresso, principalmente para aprovação das pautas econômicas. Lula admitiu que o acordo com o Centrão, que permitiu a entrada do PP e Republicanos na base do governo, foi necessária.

“Eu precisava desses votos no Legislativo. Eu fiz um acordo com o PP e com o Republicanos. Acho que é um direito deles, que gostariam de ter um espaço no governo, indicar uma pessoa que esteve na Caixa, já foi da Caixa, já esteve no governo da Dilma [Ruseff, PT], já esteve no Ministério das Cidades, uma pessoa que tem currículo para isso. E eles juntos têm mais de 100 votos, eu precisava desses votos para continuar o governo”, disse Lula na sexta-feira (27).

A presidente do PT, Gleise Hoffmann (PT-PR), criticou os parlamentares que querem controlar fatias maiores do Orçamento. Nas redes sociais, disse que “propostas para o governo pagar mais emendas servem para atender apenas interesses políticos insaciáveis”.

“No momento em que o país precisa direcionar investimentos para o crescimento e políticas públicas estruturantes, deputados querem obrigar o governo a pagar emendas de comissões permanentes. É mais uma intervenção indevida no Orçamento da União”, desabafou Gleise na plataforma X (antigo Twitter).

A crítica da presidente do PT é sobre as discussões no Congresso para tornar impositiva a execução de emendas de comissões, que querem obrigar o governo a pagar uma verba que corresponde a R$ 7,5 bilhões em 2023. Caso aprovada, a medida pode reduzir o controle de Lula sobre a execução do Orçamento de 2024, ano de eleições municipais.

No Congresso, o que se percebe é que outros caminhos são avaliados na tentativa de ditar o ritmo da liberação das emendas e amarrar a execução da verba aos seus interesses, minando ainda mais o poder do governo. O Planalto busca uma forma de manter o domínio sobre o destino desses recursos.

Ao se manifestar sobre sua substituição na Caixa, Rita Serrano agradeceu ao presidente pelo convite para integrar o governo, mas, nas redes sociais disse que “é necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política. Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia”.

A saída de Rita Serrano gerou críticas também entre apoiadores de Lula em movimentos sociais e entidades ligadas a trabalhadores. Deivid Bacelar, coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), disse nas redes sociais que “a companheira Rita Serrano vinha fazendo um excelente trabalho na Caixa. Infelizmente, perdemos um dos maiores instrumentos de políticas públicas para o Centrão”.

A Federação Nacional das Associações dos Gestores da Caixa Econômica Federal (Fenag) disse “lamentar a saída de Serrano e que ela sofreu ataques e travou uma batalha ferrenha no cargo, mas não resistiu”.

As mudanças na Caixa e em ministérios para acomodar aliados do Centrão ainda reduziram a presença de mulheres em cargos de primeiro escalão. Lula culpou os partidos pela redução da presença feminina no Executivo. “Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e não tem mulher, eu não posso fazer nada”, disse Lula na semana passada.