Mineradora Herculano segue com processo de licenciamento ignorando decisão de desembargadores
Moradores do município do Serro lutam contra os interesses de quatro mineradoras
Contrariando interesses da comunidade do Serro, município do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, a mineradora Herculano prossegue com o processo de licenciamento de suas operações na região, ignorando decisão contrária de desembargadores sobre sua instalação na cidade.
A cidade do Serro foi o primeiro município brasileiro tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1938, devido á diversidade do seu patrimônio histórico, urbano, paisagístico e cultural, que abriga o Parque Estadual do Itambé, o Monumento Natural Estadual da Várzea do Lajeado, e o Pico do Raio, uma área de proteção ambiental.
O Serro é também divisor das bacias hidrográficas dos rio Doce, Jequitinhonha e São Francisco e rico em comunidades quilombolas e tradicionais.
Há quase uma década, moradores do município lutam contra os interesses de exploração de quatro mineradoras – Anglo American, Herculano Mineração, Onix Céu Aberto, e Minermang- denunciando violações de direitos de toda a comunidade, que vão desde assédio, ameaças, fraudes nos processos de licenciamento dentre outras irregularidades cometidas pelas empresas.
Um dossiê organizado pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), a Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais (N’Golo) e o Movimento Pelas Águas, destaca que as mineradoras estão violando o direito das comunidades à consulta livre, prévia e informada, previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.
E prossegue: “Diversos movimentos e instituições têm se manifestado oficialmente contra toda essa série de abusos. Além de todos os fatos aqui narrados, há um forte esquema de corrupção da máquina pública do município e do sistema judiciário, que conta com a conivência e apoio do governador Romeu Zema (Novo)”.
O dossiê lembra que, no ano passado, três desembargadores definiram pela suspensão dos processos de licenciamento da Herculano e Onix, em razão da ausência da consulta prévia, livre e informada às comunidades.
“Ou seja, está proibida a realização de audiências públicas sobre licenciamento minerário no Serro, até que a comunidade quilombola de Queimadas seja consultada sobre o empreendimento. A realização dessa audiência absurda, abusiva e irregular é mais uma grave violação aos direitos quilombolas e à legislação brasileira”.
A convocação da audiência pela Herculano foi autorizada pelo juiz da Primeira Instância Flávio Bittencourt de Souza.
“A sociedade civil organizada resiste à entrada de projetos minerários predatórios de extração de minério de ferro, que ameaçam trazer graves impactos ambientais, sociais e econômicos para o município.
Diante da grave situação de crimes e violações que vem ocorrendo no Serro, assim como em todo o Vale do Jequitinhonha, nova fronteira dos grandes e criminosos empreendimentos minerários – do lítio ao ferro – estamos espalhando essas denúncias em busca de apoio para essa luta, junto a várias instituições de atuação nacional, internacional e mandatos políticos”.
A Herculano Mineração não se manifestou sobre o dossiê.