Pesquisas apontam riscos em missas e cultos presenciais

Pesquisa de Stanford coloca igrejas e templos em 6º lugar em grau de risco, atrás de restaurantes (1º), academias (2º), hotéis e motéis (3º), bares e cafés (4º) e lanchonetes (5º)

Pesquisas apontam riscos em missas e cultos presenciais
Foto: Reportagem/DeFato

O ministro Kássio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), no último sábado (3), liberou celebrações religiosas presenciais em estados e municípios, desde que os cultos e missas sigam os protocolos sanitários. A decisão causou polêmica, principalmente por ir de encontro com a determinação de diversos governadores e prefeitos que optaram por medidas mais restritivas de enfrentamento à escalada da pandemia de Covid-19 — e que haviam proibido esse tipo de encontro. Mais do que uma ação política, o ato de Nunes Marques contradiz estudos que apontam riscos de proliferação do novo coronavírus em reuniões nas igrejas e templos.

Segundo cientistas, esses eventos reúnem fatores que favorecem a transmissão da Covid-19, como reunir muitas pessoas em espaços fechados ou promover atividades que aumentam a chance de espalhamento do vírus, como cantar. Por isso, as cerimônias podem estar ligadas ao surgimento de surtos. Uma pesquisa da Universidade de Stanford (EUA), por exemplo, coloca igrejas na frente de mercados e consultórios médicos como ambientes de maior risco, contrariando o argumento usado pelo vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) para defender a decisão judicial que suspendeu a proibição de cultos presenciais.

Para Mourão, “há condições” para realizar cultos e missas, pois as pessoas que vão às igrejas são “mais disciplinadas” do que quem frequenta “balada”. “Não vou colocar no mesmo nível isso, são duas atividades totalmente distintas, uma é espiritual e a outra é corporal”, disse, em apoio a Kassio Nunes Marques.

Pesquisa de Stanford publicada na revista Nature, em novembro, indica que poucos pontos de aglomeração foram responsáveis por oito a cada dez novos casos de Covid nos Estados Unidos no início da pandemia. O estudo usou dados de movimentação de 98 milhões de pessoas em dez áreas metropolitanas e desenvolveu um modelo matemático para avaliar o quanto cada local contribuiu para a proliferação da doença. Pela projeção, igrejas e templos aparecem em 6º lugar em grau de risco, à frente de consultórios médicos (7º) e mercados (8º) e atrás de restaurantes (1º), academias (2º), hotéis e motéis (3º), bares e cafés (4º) e lanchonetes (5º). Para os cientistas, o controle do vírus seria mais eficiente se restrições fossem direcionadas a tais locais.

Cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e do Massachusetts Institute of Technology, dos EUA, desenvolveram uma tabela que confirma a tese de que locais com mais pessoas e menor circulação de ar representam maior chance de infecção. O estudo alerta que o tipo de atividade realizada também é uma variável importante, uma vez que isso interfere na velocidade com que as gotículas, que carregam o vírus, são emitidas no ar. Quando as pessoas cantam ou falam alto, como em celebrações religiosas, há mais risco de propagação.

Vitor Mori, físico, pesquisador da Universidade de Vermont (EUA) e membro do Observatório Covid-19 BR, diz que igrejas e templos religiosos não apenas têm “risco muito alto” de transmissão do vírus, como também são eventos de “superespalhamento”: “a força motriz por trás da pandemia é ligada a esses eventos, onde muitas pessoas se infectam ao mesmo tempo”.

Repercussão

No domingo (4), a prefeitura de Belo Horizonte e o partido Cidadania acionaram o Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a decisão do ministro Kassio Nunes Marques, que liberou a realização de cultos e missas em todo o país. Um dia antes, no sábado, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), em sua conta oficial no Twitter, afirmou que não permitiria, neste momento, encontros religiosos presenciais na capital mineira.

Diante do posicionamento de Kalil, o ministro Nunes Marques intimou, na madrugada de domingo, a Prefeitura de Belo Horizonte a cumprir a decisão que libera a realização de cultos religiosos com a presença dos fieis.

Em São Paulo, o ministro do STF Gilmar Mendes rejeitou, na segunda-feira (5), a concessão de uma liminar para suspender o decreto do governo paulista que proibia as celebrações religiosas no estado diante do aumento de casos e mortes em decorrência da Covid-19.

Itabira

Um dia após a decisão de Nunes Marques, igrejas em Itabira passaram a realizar suas missas e cultos. No domingo de Páscoa, por exemplo, a Igreja Mundial do Poder de Deus, no bairro Esplanada da Estação, que promoveu quatro celebrações, com horários sendo divulgados em suas mídias sociais — onde alertavam para que os fiéis utilizem máscaras e álcool gel.

A Prefeitura de Itabira, em nota enviada à DeFato, afirmou que respeitará a decisão de Nunes Marques e aguardará uma definição final do plenário do STF:

“A Prefeitura de Itabira respeita o princípio da liberdade religiosa, mas vê com temeridade a reabertura de templos religiosos neste momento grave da pandemia. No entanto, o munício cumprirá a determinação do ministro Kassio Nunes Marques, enquanto aguarda o posicionamento do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema. Durante a semana será regulamentado o funcionamento dos templos, dentro dos limites impostos pelo ministro em decisão monocrática”.

Plenário do STF

Está previsto para acontecer, nesta quarta-feira (7), o julgamento no plenário do STF para pacificar a questão da proibição ou liberação de missas e cultos religiosos neste momento de avanço da pandemia de Covid-19. No momento, há duas decisões individuais de ministros conflitantes em vigor: a de Nunes Marques, que libera; e a de Gilmar Mendes, que mantém a proibição.

* Com informações do Estadão.

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